sábado, dezembro 23, 2006

Paciência

Uma profissão linda que sempre a deixou inquieta e extasiada era a dos coladores de vale-transporte em folhas velhas de jornal.

Ficava o tempo todo parada no assento plástico do ônibus, a olhar fixamente e reparar na calma, no carinho e na paciência com que aqueles homens exerciam seu árduo trabalho. E ainda tinham que agüentar o calor, disfarçados de cobradores. Vê se pode! Muito mais bonito era o sereno trabalho de esticar - desdobrar - desamassar - organizar - arrumar - colar - apertar - secar - dobrar e tudo mais que aquilo implicava.

Um caso atípico o dela, que tinha raiva desses cartões de meia-passagem estudantil.

domingo, dezembro 03, 2006

Domingo de noite

Volta do show, que tinha sido muito bom, aliás.
Sentei atrás dela. Pura coincidência. Quando reparei, já estava lá. Lembrei pela camisa rosa. A mesma do ônibus de ida. Quase me assustei.
Quase.
Ela parecia tão meiga.
E então fez aquilo que mais me agrada nas mulheres. O momento mágico, o movimento sublime.
Ela simplesmente amarrou seu cabelo num coque, deixando à mostra a linha de sua nuca, o pescoço desnudo e alguns fiozinhos lisos de cabelo caídos.
O vento entrava pela janela meio fechada pelo vidro sujo de salitre, e trazia a mim o aroma daquela pele.
E que doçura.
Me apaixonei;
e percebi o quão minha (não) vida amorosa é patética.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Segunda de manhã

Mal ele sabia como seria difícil acordar cedo novamente. O corpo já estava acostumado. Algo haver com relógio biológico, horas de sono e muito blá blá blá.
Relutante, entrou no chuveiro, água fria descendo pelo corpo.
Camisa, calça, tênis, corpo quente e copo gelado, leite sem açúcar, puro.
Tinha marcado 7h na Estação. Porque tão cedo meu Deus do céu?
Se arrependeu.
Mas ele não saberia chegar lá, Grasb, Cidade Baixa, calordusinferno e andanças mais. O combinado era ligar pro Preto assim que chegasse lá. Chegou, seven sharp. Assim fez, ligou.
Nada.
Preto safado!
Sentou e começou a esperar, enquanto via as pessoas passando agitadas e apressadas, pulsantes a caminho do trabalho. Vendedores de café e cigarro. Vendedores de água fazendo a festa.
Calordusinferno!
Via tudo, e mais que via, percebia. O menino chorão. A mãe chateada. O casal discutia já cedo. O suor correndo da testa do velho. O homem dormindo. Cada parte de cada mundo daqueles por momentos fez parte do seu mundo.
No mp3 player termina room on fire, que ele achava substancialmente melhor que o is this it (que seria mediano, não fosse por trying your luck e new york city cops).
Resolve ligar pro Preto de novo.
- Tô na Paralela! Engarrafamento da porra aqui!
Sabia! O Preto deve ter caído da cama, acordou ainda com a minha primeira ligação e vai demorar.
- Tudo bem. Tô aqui esperando – disse, taciturno.
Ia aproveitar pra estudar Marketing. Tinham uma apresentação complicada no dia posterior. Tirou as folhas da mochila e aumentou o volume do player.
Tinha começado Bonança.
Bonança seria o Ventura, não tivesse vazado na internet. Diziam que era só um ensaio. Diziam que seria o oficial. Verdade é que vazou e os caras mudaram alguma coisa entre letras e pouca coisa entre arranjos. Nada que representasse uma diferença escambrosa.
Estava macambúzio.
“... quem se atreve a me dizer...”.
“... e eu que já não quero mais...”.
Parou no primeiro paragrafo. O pé batia acompanhando o ritmo da bateria.
“...no copo deeee caaaféééé...”.

“...quero dançar com outro par, pra variar amor...”. Ficou triste. Lembrou de uma ex-namorada. Ele tocava essa música e ela chorava. Sempre.

“...moça, diz pra mim, como vai você...”.
As mãos espalmavam, a cabeça balançava, as lembranças vinham. Momentos.
O senhor do lado olhava estranho. O que será que se passa com esse garoto?
“...uuuuuh, aaaaaah, aaaaaah, aaaaaaah...”.
É cada maluco.
“...como é que um filho meu é tão diferente assim...”.
“...de onde vem a calma, daquele cara...”.

Tinha chegado ao fim da folha, e percebeu que tinha lido tudo, mas não tinha lido nada.
Los Hermanos sempre o deixou assim, a tal ponto de perder a concentração já fugidia.
Achou um pedaço de música que nunca tinha reparado. Sorriu.
Vinha vindo o Preto do outro lado, agitado como sempre, sorriso aberto mas olhar preocupado.
- Diga meu filho! Demorei?
- É... tem problema não, eu estava aqui estudando pra apresentação de amanhã...

sábado, novembro 18, 2006

Tinta preta pra escrever

Há muito reparei que o blogue anda meio lento, mal das pernas.
Eu, por uns tempos, dei uma diminuída desse mundo virtual, e como sempre foi normal pra mim, fiz uma reflexão do que realmente estava me levando a parar de escrever.
Fui pensar, matutar, macambuziar, e aí reparei numa coisa. Reparem:

Eu parei de reparar nas pessoas.

É, foi.
Eu, logo eu. O popular populista escrachado, que gosta de escrever sobre a senhora que rouba a bola dos guris, da sujeira da calçada no caminho pra aula, do garoto que se chamava Pipoca, ou da tia no ponto de ônibus que queria me casar com a filha dela.
Vim tentar entender, nesse escopo de incontáveis mudanças constantes, o que tinha causado essa mudança em especial.
Sempre pensei que eu, como estudante e como pessoa que gosta de Comunicação (não necessariamente um alguém comunicativo) deveria ser uma esponjinha, como sempre fui, absorvendo tudo sem se esquecer de filtrar. Sempre observador, de beira de olho, notando e anotando, pensando e medindo, escrevendo mentalmente tudo que se passava em volta de mim.

E aí pensei que uma coisa tem total relação com a outra, afinal, o que sempre deu carga pra minha caneta foi esse meu mundo cotidiano.
Não sei realmente o que freou essa característica, mas ontem eu acho que voltei ao normal quando me deparei com um ambulante vendendo água dentro do ônibus e senti vontade de escrever sobre o que vi.

Mas aí é história, quem sabe, pra um próximo post.

sábado, novembro 04, 2006

Eita porra!

Risos.
Eles entram ofegantes na sala de aula, suados, risonhos estranhos.
No ar o cheiro.
Logo após chega outro. - Vocês viram?
Olhares trocados. Olhares culpados.
Olhares irônicos, como se não soubessem de nada, não tivessem visto nada.
- Não.
- Não.
- Não.
- Vimos o que?
- Não?

Pausa. Volta.

Risos.
Eles entram no banheiro risonhos, risos sorrisos.
- Ahhhhhhh tá! Vai dizer que se ela viesse pra cima tu não fazia nada?
- Fazia, é claro que fazia!
- Fazia porra nenhuma que tu fazia rapá! O que que tu fazia?
- Aliviava a ponta do binga nela!
- Pfff....
- Tá, tá.
- Fazia sim, fazia sim. Quem não fazia era o Iã. Ele tirava o dele pra fora e começava a bater uma...
...

No banheiro, um espelho enorme, dois por um. Diziam que atrás dele tinha um cofre.

- Cofre?
- É, cofre.
- E por que ia ter um cofre atrás do banheiro masculino direito do 3° andar?
- Não sei.
- Não sabe?
- É, não sei.
- Então...?
- Não sei, ué.
- Então tá.

O espelho era pesado, mas eu conseguia. Era só dar uma afastada, dava pra olhar.

- Eita porra!

Pausa. Adianta.

- Não.
- É, não. O que foi?
- Sabem o espelho de dois por um do banheiro masculino direito do 3° andar?
...

quinta-feira, outubro 05, 2006

O mormaço de Elisa

Elisa não queria saber de nada. Aliás, não queria nem pensar: imaginá-lo já lhe cansava. Elisa queria simplesmente deixar de existir, e voltar a ser em outro momento, em outro lugar, com uma aliança no dedo ou um homem na cama, o mais, não sabia.

O fato é que há milhares desses momentos inexoráveis dentro de sua vida. Instantes, ou melhor, tardes ou noites inteiras nas quais nada lhe é possível e tudo parece sem solução. São desses tormentos intrínsecos que resultam metade dos seus cortes de cabelo. E essa constatação tornou possível a estimativa de quando se dera a última crise. Nessa vez, cortou uma mecha de cabelo com uma tesoura de unha, na altura do ombro. Segundos depois, no queixo, e, mais adiante, à doze centímetros da raiz. Assim se sucedendo com o resto do cabelo; no dia seguinte uma arrependida e mais sã Elisa foi ao salão, a fim de descobrir com o que os penteados com doze centímetros se pareciam.

E Elisa está agora, novamente, com uma tesoura de unha na mão. A tesoura, porém, desta vez, não a ajudará tanto: o seu cabelo está igual ao de um menino de internato, cujas madeixas foram cortadas com o auxílio de um pote e, depois, penteadas para os lados. Por mais rude que a bicha do salão tenha sido, no entanto, a aparência lhe caiu bem. Os seus seios pequenos e empinados combinam com ele. E as partes baixas do crânio de Elisa, quase nuas, gotejam a sua loucura nos momentos de tédio.

Elisa agora pensa como seria ser careca. Uma cabeça esquizofrênica ou uma daquelas mulheres gordas que cortam o cabelo com máquina e usam pomada para despentear. E com todo o banheiro, todo o universo pulsando tédio ao seu redor, Elisa decide ter um orgasmo. Gozar é sempre uma das ações para esses momentos de tédio; — apesar de saber que não funciona — Elisa sempre se lembra de quando ouviu no Discovery Health que crianças estressadas tendem a se masturbar mais. Elisa sente-se louca, abobada, ridícula pensando essas coisas e com uma mão no seu clitóris. Pára um instante. O silêncio do tédio lateja. Continua. Elisa goza. Na verdade, só percebe que gozou porque sempre lhe sai pequena quantidade de um líquido estranho, extremo inconveniente. Elisa pensa em como deve ser ruim ser homem. Elisa se sente frustrada por ter gozado sem perceber.

Pega a tesoura de unha. Imagina, sem querer — porque, por vezes, seu pensar é automático —, na lâmina ao redor do clitóris. Contrai-se: não quer uma lâmina cortando-lhe o sexo. Deixa de besteira, pensa. Elisa volta a tesoura para cabelo.

quinta-feira, setembro 28, 2006

E o Verde do Gabeira? (Mato Grosso e Amapá)

Partido do pressuposto: O Mato Grosso é o estado que mais desmata a sua Floresta Amazônica, o Amapá é o estado que menos desmata a sua Floresta Amazônica. E os Verdes nessa história?
Controvertido é o melhor adjetivo para categorizar o sistema político brasileiro. Já no início da independência era praticado o parlamentarismo às avessas que era nada mais nada menos que o sistema parlamentar ao contrário: ao invés de haver a escolha do primeiro-ministro pelo parlamento, era o Imperador quem escolhia seu primeiro-ministro, e este escolhia o resto do Conselho (parlamento).

No período eleitoral atual a controvérsia se tange à coligações. Partidos que levantam certas bandeiras estão ao lado de seus antagônicos. Um exemplo disso é a participação na coligação do governador de Mato Grosso Blairo Maggi — conhecido internamente como Barão da Soja ou Estuprador da Floresta — do Partido Verde, partido considerado defensor das fontes alternativas de energia, alternativas ao desmatamento. No caso do PV, é todo um sistema que está em jogo, pois é na região de Mato Grosso que está concentrada a maior desmatação da Floresta Amazônica, e tudo com respaldo do governador que está a um passo de sua reeleição em primeiro turno.
Em relação aos grandes coronéis do nordeste, o PV mantém posição interessantemente controversa. Na Bahia, não está com o PFL de Antônio Carlos Magalhães e Paulo Souto (o partido já está há 16 anos no poder), mas sim ao lado da oposição daquele estado, no caso: com o ex-ministro Jaques Wagner, do PT. Muito bom, mas no Maranhão defende a candidata e — já quase eleita — Roseana Sarney, do mesmo PFL (sim, aquela que queria ser presidente mas foi vista com corrupção, deu uma sumida, virou senadora, e agora novamente governadora do Maranhão). Nesse caso o irmão de Roseana, o deputado Sarney Filho é o principal nome do Partido Verde no estado. Por isso são grandes as chances do coronel José Sarney manter a continuidade do poder no governo maranhense. E com respaldo dos Verdes.


Falando em Sarney, são grandes as chances de ele ter a sua reeleição para o Senado ameaçada por uma novata no Amapá. Sim, Sarney é "amapaense", de acordo com a justiça eleitoral. Ele aproveitou a criação do estado do Amapá (onde sua taxa de rejeição era pequena) e se candidatou a uma das três vagas ao Senado em 1989 (lá ele não tinha candidatos à altura), um prato cheio para sua oposicionista, Cristiana Almeida (foto acima) que trabalhava no INCRA e denunciou a grilagem de terra feita pelos amigos de Sarney (entre eles o candidato a reeleição Waldez Góes que tem a candidatura ameaçada por conta de uma suposta compra de votos).

O fato é que Cristina fez com que o orgulhoso senador partisse para o vale-tudo, suando a camisa, passando a fazer campanha no estado (algo que nem cogitou fazer na sua primeira reeleição em 1998). Dançou meio que com cara de gringo uma dança típica da região, o marabaixo. Cristina alega que o Amapá só tem dois senadores, e o Maranhão quatro, isso aumento a rejeição ao ex-presidente. "Seria a hora de retomar essa vaga para os amapaenses" diz ela.

Saindo dos holofotes, as irmãs Alcilene e Alcinéa Cavalcante são as mais ferrenhas defensoras da campanha anti-Sarney entitulada "Xô Sarney!". Ambas utilizam seus blogs para divulgar a campanha que chegou ao Maranhão e foi trocada para "Xô Rosgana!" (alusão a filha e candidato ao governo Roseana Sarney). Sarney não ficou atrás e processou a primeira por ter criado a charge da campanha. Por conta disso, A Justiça Eleitoral acabou por extinguir o blog. Mas Alcinéia continua, já recebeu alguns pedidos de resposta do senador, e terá de pagar multas por ter "supostamente" atingido a moral do ex-presidente, que sorridente responde: "Não tenho relação com meu departamento jurídico".

E o PV? De que lado está? Pois bem, ao invés de ficar ao lado da ex-superintendente Cristina Almeira do INCRA, que revelou a grilagem no estado, o PV apóia a reeleição dos que teriam iniciado a falcatrua, os partidários de Sarney. Uma grande controvérsia!

terça-feira, setembro 05, 2006

Envelheço na Cidade

Aquelas crianças capetas ganhavam o dia tocando as campainhas voltando da escola.
Eis que o velho barbudo fez tocaia na terceira vez. Saiu de trás do arbusto e correu atrás das pestes. Cruzou a rua, entrou no gramadão da praça. Precipitou-se e entrou na frente dos muleques e mulecas. Para igualar-se ao tamanho deles abaixou-se, olhando para a boca do mais sapeca:
-Cospe teu chiclete em minha mão.
Efeito poderoso das palavras que fizeram o garoto cuspir sem pensar. Nenhum ruído disseram ao velho. Só ele falava.
-Quando forem tocar da próxima vez, juntem os chicletes e grudem na campainha. Vai ser uma travessura de respeito.
As crianças correram. Envelheceram. Depois desejaram ter ouvido mais naquele dia. Mas o barbudo disse pouco, que foi tudo.
O velho virou-se e voltou para sua paz. Sabia de seus nobres conselhos. Tinha bons sapatos e bom coração.

domingo, setembro 03, 2006

O semi-simbolismo com a categoria cromática e a figuritivização do espaço

"Se o semi-simbolismo entre a categoria topológica central vs. marginal metaforiza o tempo cíclico, figurativizado na tela, a relação entre a categoria cromática cor fria vs. cor quente metaforiza a figurativização do espaço."
(...)

Tenho faltado ao blogue, me pego sem tempo e sem espaço.
Estudando semiótica, um trecho pra vocês entenderem do que se trata.
E não me perguntem o significado de figurativização. Eu procurei no Oráculo, e essa palavra existe mesmo.

terça-feira, agosto 15, 2006

Na cozinha

— Onde estão os camarões?
— No armário.
— Oh, sim, apodrecidos...
— Eu quis dizer no freezer.
— Não, no mar! Eu estou com o freezer aberto, porra, só que não os consigo achar. Onde?
— Onde o quê?
— Merda.
— Achou?
— Agora você sabe o que era?
— Achou ou não achou?
— Tá, onde estão?
— Embaixo do bacalhau, compramos no mesmo dia.
— Odeio bacalhau.
— Por isso que estamos fazendo camarão.

[...]

— Culpa sua.
— O quê?
— Os camarões. Digo, o freezer.
— Você que não os acha e a culpa é minha?
— Devia ter uma prateleira só com o camarão...
— ...que ia ficar vazia todos os outros 350 dias do ano.
— Nessas épocas no ano, devia, então.
— E o que a gente ia pôr nela enquanto isso?

[...]

— Vou fritar a cebola.
— Começou há dois minutos.
— Pois então, estou fritando-a.
— Ah, sim! Eu não o tinha percebido.

[...]

— Já acabou?
— Tá sentindo o cheiro no ar?
— Sim.
— Por que será?

[...]

— O cheiro fica no ar depois que a gente já parou de fritar.
— E daí?
— Daí que você disse que não.
— Não disse.
— Vá se foder.
— Venha me foder.
— Eu vou.
— Só depois que a comida baixar.
— Vá a merda.
— Você que vai.
— Esqueceu do enema hoje?

[...]

— Eu lavo e você seca.
— Você lava e o tempo seca.
— EU, lavo; VOCÊ, seca.
— A louça seca sozinha.
— Não seca.
— A gente pode descobrir.

[...]

— Quer que eu lave um pouco?
— Não.
— Você não queria que eu secasse?
— Você vai secar.
— Não vou.
— Vai sim.

[No quarto]

— Nunca mais faço camarão.
— Continua chupando que tá bom.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Roubadores de pirulito


Bem, inicialmente eu não vou me escusar da minha sumida momentânea de dois meses. Estava de férias, em Porto Velho, fardo necessário. Gostei até.... de Rio Branco. O acreanismo, portanto, está bem exacerbado. Mantive contato com Altino Machado, um dos escritores acreanos que mantém um blog e tem ligação direta com a produção da minissérie sobre o Acre.

Ontem mesmo, dando uma olhada no Pânico na TV. Dou de cara com Jô Soares (o senhor acima) na entrada do Cirque du Soleil, em São Paulo. Lembrei-me então, do livro que o Cacau me mandou "Assassinatos na ABL". Mas não fiquei olhando enraivecido por causa disso, mas sim pelo que ele estava fazendo.

Diz a Constituição, no seu Art. 227: "É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão."

O que Jô gordo estava fazendo? Pois bem, com condição financeira de poder ver o Cirque de Soleil onde quer que ele estivesse. Ele fez jus de desrespeitar a prioridade das crianças de terem direito ao lazer que um circo como o de Soleil oferece.

Hoje, veio a comprovação. Meu professor Olney de História do Direito estava reclamando da falta de ingressos do Cirque du Soleil para seus dois filhos, um de 10 e o outro, de 16 anos. Pois bem, Olney. Imagine só quantos ingressos o Señor Jô tomou das crianças?


Ficha nele: Jorge Viana PT-AC

O atual governador do Acre, construiu estradas e aeroportos, centros esportivos e escolas adaptadas à cultura às peculiaridades da região, desenvolveu programas de transportes específicos para a população ribeirinha e garantiu que o ensino de Segundo Grau chegasse a todos os municípios. Antigamente, quem morasse no interior do Acre e quisesse fazer o Primeiro Ano teria de ir para Rio Branco. Reestruturou o sistema de educação, de forma que todas etnias indígenas fossem contempladas com programas específicos.

Se Lula for reeleito, ele será Ministro de Estado. Ministro da Educação? Mas eu não sou partidário do PT, ã?

terça-feira, julho 25, 2006

Hoje é domingo, pé de caximbo

Se diverte com os guris correndo na rua, brincando de bola.
Ao longe o vendedor de alguma coisa vende alguma coisa, que ele não decifra o que é por não ser alguma coisa que lhe interesse.

Coça a barba.
Coça o umbigo.
Coça o saco.

Domingo todo de pijama.

Faz tudo lentamente, afinal nessa idade já há tempo pra tudo mesmo.
Sossegado na poltrona, progama de esportes na TV. Velhice tranquila, regada a pios de pintassilgo, de beira, de lado, indo e vindo, levando.
Única dúvida: ganhará o concurso de palavras cruzadas?

sexta-feira, julho 07, 2006

1 ano de Gèneve


"No ano de meus noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Lembrei de Rosa Cabarcas, a dona de uma casa clandestina que costumava avisar aos seus bons clientes quando tinha alguma novidade disponível. Nunca sucumbi a essa nem a nenhuma de suas muitas tentações obscenas, mas ela não acreditava na pureza de meus princípios. Também a moral é uma questão de tempo, dizia com um sorriso maligno, você vai ver."

(...)

"Insisti que não, que tinha de ser donzela e para aquela noite. Ela perguntou alarmada: Mas o que é que você está querendo provar a si mesmo? Nada, respondi, machucado onde mais doía, sei muito bem o que posso e o que não posso. Ela disse impassível que os sábios sabem de tudo, mas não tudo: Virgens sobrando neste mundo só os do seu signo, dos nascidos em agosto. Por que não encomendou com mais tempo? A inspiração não avisa, respondi."

(...)

"Não preciso nem dizer, porque dá para reparar a léguas: sou feio, tímido e anacrônico. Mas à força de não querer ser assim consegui simular exatamente o contrário."

(...)

"O tema da crônica daquele dia, é claro, eram os meus noventa anos. Nunca pensei na idade como se pensa numa goteira no teto que indica a quantidade de vida que vai nos restando. Era muito menino quando ouvi dizer que se uma pessoa morre os piolhos incubados no couro cabeludo escapam apavorados pelos travesseiros, para vergonha da família. Isso me impressionou tanto que tosei o coco para ir à escola, e até hoje lavo os escassos fiapos que me restam com sabão medicinal de cinza e ervas milagrosas. Quer dizer, me digo agora, que desde muito menino tive mais bem formado o sentido do pudor social que o da morte."


Gabriel García Márquez, Memórias de minhas putas tristes.

http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=9492932&tid=2474550078370503530&start=1 - Entra aí!

terça-feira, junho 20, 2006

E eu só queria morrer agora.

Morrer talvez não no sentido literal, que seria, de algum modo, ação. Morrer metafisicamente e, por isso, verdadeiramente.

Eu só queria ficar no computador comendo rapadura que não me deixará gordo, com meu coração batendo descompassado como ele faz às vezes, meus poros exalando sebo e as bactérias me decompondo as células mortas. Eu, uma massa orgânica de cuja superfície vão crescendo cabelos feito carne num moedor.

Isso é morrer. E, para quem não quiser acreditar eu ainda posso ser mais específico.

O ponto aqui, e é justamente o que me faz perder o tempo que eu devereria estar morrendo para, então, explicá-lo a vocês, é o seguinte:

A vida é um labirinto.

Okay, se você entendeu o aforismo, está dispensado. Os demais, ajoelhem-se e sentem-se sobre os calcanhares.

Classifiquemos todas as ações em dois grupos: criativas e destrutivas. Criação é o desejo de crescer, viver e melhorar, adaptar-se, etc. Destruição é o desejo de verter, morrer e ausentar-se, esquivar-se e adaptar o mundo à si.

Ambos são naturais e necessários, mas se cumpre entendê-los. Quando o caminho está livre, andamos. Este é o análogo à Criação. É quando se aprende línguas, se constrói casas, se cuida do corpo, aprende... Dói, cansa, prende.

Quando, entretanto, no labirinto da vida, adentramos um beco sem saída... O que fazer? Há se de voltar atrás — a Vertigem. É desleixo, é descaso, desprendimento. Dá prazer, é relaxante, liberta.

Esta última, como tudo, deve ser bem dosada. Até porque não existem becos sem saída, embora não haja tanto mal assim numa recaída pequena, sendo esse o nosso reflexo natural. Afinal, você nunca teve a vontade de simplesmente deixar de existir? E, entrementes, é tão ruim assim?

quinta-feira, junho 08, 2006

Mystic Sea

Pergunte a um florianopolitano do que ele tem medo.Viver longe do mar. O mar é tranqüilo, passa serenidade.Acordar e olhá-lo.
Moro na ilha e longe da praia.Mas eu acordo e lá está o trânsito debaixo da janela.Do outro lado há uma rua escondida, com crianças jogando a bola no telhado, a obra de um prédio, algo que já foi um gramado, agora é terra e mato. E há uma árvore no canto.Há uma casinha com um cachorro marrom preso a essa árvore.Abro a cortina e o vejo, mas ele tá sempre pensativo e nem olha.
Contemplo essa paisagensinha escondida em meio ao urbano e penso. P'ra que serve o mar?
P'ra nada.Seria a morte morar perto dele, por que só vivo pela esperança de um dia ver aquele cachorro se soltar.

domingo, junho 04, 2006

A escada


Subiu.
A ladeira era a de sempre. O caminho, o mesmo.
O dinheiro, juntado e guardado no bolso, o mês que ele recebia do Seu Anastor, deveria ir pro fundo falso do pote de macarrão de casa. E no outro dia pro caixa do supermercado. Dinheiro do arroz-com-feijão-nosso-de-cada-dia.
Deveria.
Tudo bem, dessa vez passava, afinal, roubos no seu bairro eram freqüentes.

Entrou.
O que impressionou a foi a escada. Uma escada atipicamente limpa para um ambiente como aquele. Uma lavagem utopicamente alva, de uma aurora e um nascer-do-sol. Nenhuma marca, laivo, borrão, nada.
“Será que existe uma mulher aqui só pra limpar essa escada?”. “Não, um lugar desses não pode se dar ao luxo de perder uma mulher só pra limpar a escada.”
E ele não podia se dar ao luxo de perder mais tempo.
Bateu.
Três tocs, alguém atendeu.
Não cabe aqui falar dela. Ela, que na verdade seria a figura mais interessante pra se descrever nesse conto, não mereceu muita atenção dele.
Ele ainda estava intrigado com a escada.
Depositou o dinheiro na mesinha suja e gasta, no canto mais escuro, o que não era iluminado pela janela sem redoma.
Ela sentou na cama, levantou a saia.
-
Entrou.
Saiu.
Entrou.
Saiu.
Entrou.
Saiu.
Entroooooooou.

Saiu.
-
Levantou.
Ela tirou uma bacia azul de baixo da cama, uma bacia com água. Lavou o sexo, esfregando vigorosamente. Estava pronta para outra.
Tudo isso enquanto ele saia, e de dentro do quarto ela viu.
Aquele menino estranho que por repetidas vezes continuou indo visitá-la, sempre no mesmo dia do mês, sempre o mesmo ritual, sempre o mesmo olhar intrigado pra escada do corredor.

sábado, maio 27, 2006

Victor e o Governador de S. Paulo - Essa Piada é Minha

você está morto?

     Depois dos habitantes do estado inteiro se verem confinados em suas casas e confiando num senhor que se parece com uma mistura mal-feita de Mr. Burns e a Noiva-cadáver, finalmente a ordem volta a seu lugar.
     No filme de Tim Burton, a Noiva-cadáver leva o jovem Victor Van Dorst a conhecer o mundo dos mortos.
     Pois bem, o melhor lugar para se falar de morte a Victor Van Dorst seria o estado de São Paulo, é impressionante o número de presídios à beira das estradas paulistas. Vindo de Porto Velho para Marília de carro passa-se por dezenas de prisões à beira da estrada inclusive a famosa Casa de Detenção de Presidente Bernardes e as outras na região das cidades presidentes. O mais assustador é a Casa de Detenção I e II de Reginópolis que têm 2274 presos, sendo que a cidade homônima tem 4726 habitantes. A maioria nem vem da região, mas sim da Grande São Paulo. Foi essa a política dos quase 12 anos de Governo Covas/Alckmin: levar as casas de detenção para o interior do estado após o Massacre do Carandiru. E é essa a grande reclamação dos paulistas do interior.

     Com a onda de violência após o início da dobradinha pefelista tanto na cidade quanto no estado de São Paulo, ós únicos possíveis culpados foram os deputados estaduais tucanos na Assembléia Legislativo do Estado. Recentemente, e com direito a bate-boca, houve muita discussão na Câmara Paulista com as galerias recheada de agentes carcerários que vaiavam os deputados tucanos e ovacionavam os petistas que, fazendo a oposição que os consagrou, conseguiram se destacar.

     E com os eleições de outubro próximo os paulistas deverão trocar o fúnebre Cláudio Lembo pelo não tão menos fúnebre tucano José Serra. Daí, sim, a história estará marcada por Covas, Lembo, Serra e um médico-candidato à Presidência no meio.
São Paulo, um estado governado por cadáveres.

Ficha nele: Cláudio Salvador Lembo


     Lembo — até quase ser jogado no limbo — sempre esteve às sombras como vice-alguma-coisa, só uma vez tentou inutilmente uma vaga no Senado Federal.     

     O jurista apareceu a primeira vez quando se cogitava a renuncia de Alckmin para a descompatibilização. Fizeram uma longa reportagem com o novo Governador de São Paulo que se mostrava um advogado discreto, calmo, um tanto conservador e bem rico.

     Em seu escritório recheado de livros jurídicos, ele e sua senhora mostravam que já tinham história e o governo de São Paulo seria o Grand Finale de suas vidas, Lembo tem 72 anos.

     Mas o que mais agrada para quem vê tudo isso são as entrevistas do Sr. Lembo, ele não está acostumado a isso e costuma atropelar os entrevistadores quando os mesmos mudam de assunto. Numa dessas pérolas, o Governador disse: "Nós temos uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa. A bolsa da burguesia vai ter que ser aberta para poder sustentar a miséria social brasileira no sentido de haver mais empregos, mais educação, mais solidariedade, mais diálogo e reciprocidade de situações", mas ele se esqueceu que faz parte do PFL, partido de Antônio Carlos Magalhães, e da burguesia que compra na Daslu os quitutes para suas senhoras.

O senhor pode dizer que o PCC pode acabar até o fim de seu governo?
Lembo - Só se eu fosse um louco. E ainda não estou com sinal de demência. Acho que o crime organizado é perigosíssimo. Ele se recompõe porque ele tem possibilidades enormes na sociedade.

O senhor é um homem público há tantos anos, está num partido, o PFL, que está no poder desde que, dizem, Cabral chegou ao Brasil.
Lembo - Essa piada é minha.

E tudo volta ao normal no Palácio Mal-assombrado dos
Bandeirantes.

terça-feira, maio 23, 2006

João era cético.


     E, como todo cético, buscava a razão em tudo. Não que o mundo tenha razão, ele tem só acasos. Mas, felizmente, João tinha 7 punhados de razões para cada fato que ele analisava com seus óculos bifocais.
     Ele tinha duas linhas verticais no intercílio, sinal de compulsão quase sexual pela investigação. Como não se analisa as coisas sem premissas, João estudava. E estudava muito, observava, assistia — quando a mente acalmava, é claro —, sempre coletando dados que lhe servissem de postulados em seus exames. Aos livros, ele deveu, então, um dos graus de suas lentes. À compulsão por nitidez e clareza, o outro.
     Pode parecer, numa primeira visão, que o homem era curioso. Não. A paixão pelo escrutínio foi motivada, talvez em parte, mas nunca totalmente pela filosofia em si, senão devido à incapacidade que João tinha para suportar qualquer indeterminação. E, seguindo essa lógica comportamental, não é difícil prever, seguiram-se muitas dores de cabeça: a do porque pinga a torneira, porque a lua aparece pequena em fotografias, como funciona uma caixa de marchas, qual é o motivo da gravidade... E a do sentido da vida, entre outras.
     Sim, João descobriu o sentido da vida, ou deu um à ela, mas deixa pra lá. Acontece que um dia teve algo que João não entendeu.
     7 sinaleiras abertas consecutivamente. E ele só foi notar na 5ª. Deixou passar, mas se lembrou de que a 'onda verde', como era chamado o projeto de sincronização dos semáforos, ainda não fora aprovado, muito menos instalado.
     Uma buzina atrás de João. Não pode ser: a oitava sinaleira, ele se enganara, também estava aberta. Ele tinha de averiguar, de repente sentiu-se envolvido por um elã empírico e todas as linhas de compromisso da agenda de João se apagaram, naquela manhã.
     Naquela manhã, João percorreu São Paulo inteira, com uma fila de carros atrás, e o caminho livre à frente. Tentando inultimente dar razão para todo aquele caos. Todos os sinais verdes.
     João nunca mais foi o mesmo.

domingo, maio 14, 2006

Sala de Aula

De fato, a época-primário, ginásio e colegial - é a melhor de nossa vida. Pelo menos a mais trágica e cômica.
E eu, aquele garoto tímido, resolvi ter voz na sala um dia.
Oitava série e a proposta era que os alunos sugerissem, caso quisessem, uma frase para um slogan a favor da preservação da água no mundo. Naquele dia resolvi participar. Pensei e sugeri a minha: “Bebo, logo existo”.
Gargalhada de todos foi a resposta à minha sugestão. A professora também não deve ter gostado.
A situação foi uma caricatura daquele trauma que a pessoa sofre na infância quando diz algo em voz alta e todo mundo ri, então ela se cala para sempre.
Por que essas pessoas riem nessa hora? A frase em si não deve ser tão engraçada assim.
E por que o fato me veio à cabeça?
Esses dias me pego no bar dizendo a mesma frase. Eles riram, mas dessa vez eu gostei.
É, depois que a gente sobrevive às inseguranças e tragédias da infância-pré-adolescência tudo fica mais fácil, e podemos ficar rindo de tudo na mesa do bar.
Espero ansioso o texto da vida adulta.

terça-feira, maio 09, 2006

Do sentimento da derrota

Esses dias eu li aqui pelas esquinas de Genebra um texto do meu camarada Alfaia.
Achei o texto muito adequado, não só pelo fato de ser meramente bom, como também por me identificar totalmente com ele.
No momento, o meu camarada Alfaia falava do sentimento de escrever, ou do sentimento no momento do escrever.
No momento, ele estava com aquele risinho plácido e sossegado de quem está com o serviço cumprido antes do horário previsto.
No momento, ele estava feliz simplesmente e com a simplicidade do que se passava na vida dele.

Chegava a dar medo.

A gente tem medo de estar feliz?
No momento, é como não estou.
Outro disparate, porque minha cabeça está tão abarrotada que não consigo externar organizadamente o que sinto ou o que ajuízo. Nesses momentos de tristeza contínua eu geralmente escrevo coisas interessantes. Não hoje.
Eu poderia jogar um poemete trivial e ordinário aqui pra atalhar espaço. Tirar o belo texto da Renata do topo do blogue. Hei de frisar que entre um poema barato e este textinho banal não há tanta diferença assim. Talvez nenhuma.

É, eu poderia, mas não daria aquele sorrisinho sereno de quem está com o serviço cumprido. Aquele mesmo do Alfaia de outrora (que ele ainda esteja, e assim permaneça).
Mas é assim que me sinto. Cansado, como quem nadou até arfar o peito e na praia morreu. Talvez não tenha tentado o suficiente. Talvez não tenha sido satisfatório, e provavelmente não o fui.
Mas assim me cabe melhor aceitar a derrota.

segunda-feira, maio 08, 2006

Um texto na porta de entrada

"Em Cabaré que se preze, sempre há clientes memoráveis. Há aqueles que causam fuzuê, são obesos, tem mal-hálito e são impertinentes na hora do pagamento. Mas há também aqueles magrinhos e sorumbáticos, de sobretudo escuro e bem gasto, que sentam na última mesa e passam a noite a cantar e entregar o fígado ao álcool. São românticos byronianos e morrerão de tuberculose. Eles sempre rabiscam um texto ou uma canção que a cafetina há de pendurar na entrada da casa."
O Puteiro
Amei em cheio
Meio amei-o
Meio não amei-o.
Leminski


É quando você está ouvindo. Conversando. Aquilo de você escutar, e entender (entender você mesmo).
Quando aquele amigo que é o mais bonito, o mais simpático, (...o mais libertino), te diz que o problema dele é a insegurança. E que, ao mesmo tempo, lamenta muito o fato de nunca ter encontrado alguém que ele amasse mais do que a si mesmo. Quando você ouve, e você entende.
E você conhece aquela pessoa perfeita, e o relacionamento é perfeito, e você não consegue achar outra palavra pra definir o mundo, que não Perfeito. E de repente você descobre que falta algo. Falta algo em você? Falta algo.
Aquela sua amiga, que só é sua amiga, porque você, simplesmente, acha que ela é mais-do-que-o-máximo. E descobre que ela é assim, mas que antes ela já foi assado, e frito e queimado. E já sofreu, e nunca esqueceu. E viu Deus que isso era bom.
E você vai descobrindo o mundo (o mundo-pessoa ou as pessoas-mundo). E tudo não é, nada mais, que descoberta. E as coisas, que antes já não tinham nome, passaram as ficar mais coisificadas ainda.
É quando você descobre que você não é o único ser único. E ao invés de evoluir, começa a utilizar o verbo metamorfosear. Vê que a vida é repetição. E até as aranhas começam a fazer sentido. Não em cima do muro, mas em cima das teias. Foi porque hoje você acordou do sonho em que vivia. Quando um mosquito começou a cantar solos musicais pra você, que na época tanto se incomodou, começa a entender o ritmo da música.
MARQUES, Renata.
PS: Texto gentilmente roubado.

quinta-feira, maio 04, 2006

"Eu tenho medo do PT. Uiuiui!"

"      

        “Eu estou com medo. Faz tempo que eu não tinha esse sentimento, porque eu sinto que o Brasil, nessa eleição, corre o risco de perder toda a estabilidade que já foi conquistada. Eu sei que muita coisa ainda não foi feita, mas tem muita coisa boa que já foi realizada. Não dá para ir tudo para a lata do lixo. Nós temos oito candidatos à Presidência, um eu conheço é o Serra: é o homem dos genéricos, do combate à AIDS; o outro, eu achava que conhecia, mas hoje eu não o conheço mais. Tudo o que ele dizia mudou muito, isso dá medo na gente, outra coisa que dá medo é a volta da inflação desenfreada. Lembra? 80% ao mês! O futuro Presidente vai ter que enfrentar a pressão da política nacional e internacional e vem muita pressão por aí. É por isso que eu vou votar no Serra, porque me dá segurança, porque dele eu sei o que esperar, por isso eu voto 45. Voto Serra. Voto sem medo”

        Quem não se lembra desse rostinho assustado, dizendo palavras como "eu tenho medo..." (na verdade, algo como: "Tenho medo de sapos barbudos sem dedo!"); "inflação desenfreada..." (na verdade: "Petistas vão instituir o socialismo no Brasil, tomar as propriedades privadas doa-las aos sem-terra e expulsar o McDonald's e as outras multinacionais do Brasil!") nas eleições de 2002? Pois bem, recentemente, ao ser perguntada se faria uma dobradinha no mundo político, Regina Duarte disse "Não, muito obrigada". E esse ano nós seremos poupados dos "sentimentos" da eterna Porcina, graças a Deus.
        Regina — ao tentar dar uma de vidente — errou o chute na trave! Na trave! Na trave! Ou tinha razão?
(resposta na próxima rodada libidinosa, mas podem emitir opiniões depois do sexo)
Ficha nele: Evo Morales (Hugo Chavez disfarçado de índio boliviano), alteração da pena de crimes hediondos; e Garotinho e a Greve de Fome têm me tomado o tempo. Na próxima rodada, a Ficha volta.

sexta-feira, abril 28, 2006

Sopro











     Quando a gente se apaixona é como a flexa do cupido. Em um suspiro, o mundo se contrai, resumindo-se ao objeto do nosso amor.
     Eu lembrei como foi, com você, e comigo. Quando, depois de tantos sorrisos, enfim nos abraçamos, e eu entendi que era para sempre; e resumi meu mundo, pois, a você.
     Eu abracei com tanta força... O seu corpo estava rijo. No beijo, eu perdoei todos os seus defeitos; espero que mos tenha perdoado também. Dedepois, logo, nos despedimos, andando abraçados. Ali eu entendia de novo que era para sempre. As promessas, as saudades mortas, os meus devaneios assim diziam e ratificavam.
     Para sempre dura pouco. Ainda bem que mo avisou em tempo.
     Mas o que eu queria falar não é isso. O que eu queria dizer é que fiquei enormemente feliz sabendo como é que se apaixona-se. Assim eu poderia me desapaixonar, só fazendo tudo ao contrário.
     Assim, num sopro de mundo. Aí a minha visão se ia desconvergir de você. Quer dizer, do meu antigo objeto de amor, e eu ia passar de vesgo — e gente apaixonada é engraçado, não? — a um olhar meio... Blasé. Ou, quem sabe, d'algo contemplativo, mas não vesgo. Esquece.
     Ainda, entretanto, vulnerável. De, num abraço de tesão, suspirar o mundo inteiro numa pessoa, e apaixonar-me de novo.

domingo, abril 23, 2006

Mystic River

“Rios te correrão dos olhos, se chorares!”

Olavo Bilac

Havia um povoado de pessoas gentis, felizes, onde a única tristeza era o rio, que secava no mês de abril.
Esposas e maridos se gostavam, não havia adultério.
Um Dr. antropólogo lá foi pesquisar esse povoado tão próspero... e monótono, como ele mesmo concluiu.
Antes de ir embora tomou um café no Bar da Nina, mulher que servia as mesas e daquele lugar sabia de tudo, até mais que o padre. O doutor contou uma piada ao mendigo do bar, que não entendeu o fim. Era uma piada machista sobre TPM. Nina ficou um tanto curiosa sobre a palavra.
-Dr., o que é TPM?
-Nina, minha querida, é o nome que damos àquele período antes da menstruação onde as mulheres ficam nervosas com seus esposos e consigo mesmas. Choram por qualquer motivo. Como vocês chamam aqui?
Silêncio no bar. O mendigo foi embora sem nada entender, pensou até estar bêbado.
Nina só abriu a boca para dizer Tchau quando o forasteiro se despediu.Voltou para casa confusa e a partir daquele dia os homens do povoado (e as mulheres também) nunca mais foram felizes, como antes...
E o rio nunca mais secou.

quarta-feira, abril 19, 2006

Nome sem sal

Ele era um menino mirrado. Mirrado da cabeça grande. O cabelo ralo, os olhos escusos, a boca pequena. Assim ele era, magro que só ele.
Não brincava na rua, não corria na varanda, não subia em mangueira, não pulava muro, não brincava no escuro.
Mas mais triste que isso era não saber o significado do seu nome, assim ele o achava. Pipoca? Que nome é esse? O que é pipoca?
O Nozinho era filho do Seu Nô.
O Sulapa era grande e gordo. Não havia moleque na rua que não houvesse levado uma sulapada do Sulapa.
O Tíltíl era elétrico. Não parava quieto.
O Perna-Um tinha os cambitos quase tão finos quanto os cambitos do Pipoca. O Perna-Dois até que tinha a perna grossa, mas ele era irmão mais novo do Perna-Um, então ele aceitava. “Maldita hierarquia - pensava ele – um dia acabo com isso!”.

E só o Pipoca não entendia o seu Pipoca.

Já tinha até tentado:
- Mãe...
- Não me torra a paciência, moleque!
Sua avó não falava nada.
É, ela era muda mesmo.
Ficava sempre lá, com aqueles olhos esbugalhados, na sua cadeira de balanço tão suave quanto uma bela bossa.
Pai, ele não tinha.
E assim viveu. Cresceu, viveu e morreu, sem ao menos entender. Com os olhos cinzas e sombrios, com a boca seca e o resquício impávido de quem nunca comeu um saquinho de pipocas quentes, com gosto de manteiga.

sábado, abril 15, 2006

Pedofilia! Alckmin encosta no Garotinho!

        Socorro! Socorro! Garotinho encosta no Alckmin, daqui a pouco será pedofilia na certa! E não esqueçamos que Alckmin é médico, estava metido numa dessas organizações secretas da Igreja Católica, a opus dei. Sim, Alckmin tentou ser padre! Isso nos EUA daria processo de pedofilia na certa! Queria ver a cara do papa Bento XVI nazista (sim, eu já escutei isso nas ruas) ao ouvir falar que o Chuchu anda pegando o Garotinho. Garotinhos gostam de chuchu? Isso geraria um conto erótico...

        Resalvas honrosas a Daniele Lira que disse: "Gosto de seu sarcasmo, sua visão politicamente pevertida do mundo e esse seu intelectualismo de cabaré". E veja que ela nem sabia que escrevo num blog chamado Genebra e as Cinco Prostitutas. Pois é, Dani. Depois de Geane Mary Corner (a cafetina-mor do Distrito Federal), Danuza Leão (a ex-moça de boca artificialmente grande que odeia Garotinhos grandes e garotinhos pequenos), Bruna Surfistinha (grande puta-escritora-empresária-cínica!) e Franciane Favoreto (essa das redondezas de Marília, que tirou a roupa, transou com dois caras, fez pose e — o pior de tudo — foi fotografada fazendo tudo isso e divulgada amplamente na Internet), o termo puta anda bem-cotado em todas as rodas de conversa.
        Ah, e quem teria a visão politicamente pevertida, Sra. Dani, seria o Sr. Buratti que usufruia dos serviços de Dona Corner, fez uma puta sacanagem ao envolver o ex-ministro Palocci — que segurava o mercado com sua política fiscal execrada por todos, ele era feliz assim — ao denunciá-lo. Talvez Palocci tente uma vaga na Câmara esse ano. Não somos mulheres, mas aqui em Genebra homens podem se travestir (travesti!) de putas que ninguém notará. Blé!

Ficha nele: Anthony William Garotinho Matheus de Oliveira (PMDB-RJ)

        Quando tu vês um nome imenso desse, tu te perguntas: "O que é nome e o que é sobrenome nisso tudo?" Pois bem, Anthony William Garotinho Matheus de Oliveira é filho de Samira MATHEUS e de Hélio Montezano de OLIVEIRA, ou seja Anthony William Garotinho é o nome triplamente composto da persona que consta na foto acima. E de onde vem o Garotinho? Pois bem, Garotinho nasceu com 5,5kg e ganhou o apelido de Bolinha que depois, na rádio onde trabalhou, foi substituído por Garotinho.

        O Garotinho (todo política gosta de ser chamado com o artigo na frente de seu nome, desculpem) adora demonstrar que é um bom pai de família. Ele tem nove filhos (cinco deles adotados) e, quando tem tempo entre um encontro político e outro, brinca com os mais garotos. Na foto acima, por exemplo está brincando com Anthony de "carrinho na rodovia", como a maioria dos filhos prefere o McDonald's, Garotinho topa em fazer a vontade deles e todos vão comer BigMacs. Outro sucesso garantido que Garotinho faz com os filhos são as histórias de ninar que ele conta ("Coelho Rófi Rófi" e "A Bruxinha que virou Chiclete") que foram criadas originalmente pelo paizão Garotinho.

        No lado político Garotinho é um belo exemplo populista. Seu mandato como governador foi controverso, pois se aproveitou do crescimento da Petrobrás (uma das maiores empresas do Brasil que tem como base comercial a cidade do Rio de Janeiro e a base de operações na cidade de Campos, onde Garotinho foi prefeito) como se fosse realizações dele. É claro que houve algumas facilidades, mas foram os investimentos do Governo Federal que deram grande notoriedade à empresa petrolífera, principalmente com a descoberta de novas reservas em Campos.

        O que o Governo Estadual de Garotinho poderia fazer não fez, como diminuir a criminalidade nas favelas cariocas, nem projeto urbanístico para descentralizar as favelas houve! Toda vez que havia algum grande confronto entre policiais e traficantes, Garotinho chegava a todos e dizia que a culpa era do Governo Federal. Pois bem, hipocrisia na certa, Garotinho tinha um Secretário de Segurança Pública que nada fazia. Outro fato que Garotinho não gostaria de lembrar é a despoluição da Baía de Guanabara que a cada dia fica mais poluída, e as lutas políticas em sua cidade-natal onde duas alas disputam o poder municipal. E o Garotinho está de um lado, só jogando pedras.

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FICHA

Anthony William Garotinho Matheus de Oliveira PMDB-RJ
Cargo: nenhum (trabalha na sua possível candidatura à Presidência da República)
Padrinho Político: Leonel Brizola
Histórico Político: Deputado Estadual (1986 - 1988), Prefeito de Campos-RJ (1989 - 1992), eleito novamente (1996 - 1998), Governador do Rio de Janeiro (1999 - 2000 pelo PDT, 2000 - 2002 pelo PSB).
Realizações: Ajudou a fundar o PT em Campos (PT? Sim, PT) (1980), Eleito melhor prefeito do Brasil (1990).
Rejeição (porcentagem de pessoas que não votariam nele de maneira alguma para a Presidência da República): 50% (a mais alta)

PS: postagem de número 80.

domingo, abril 09, 2006

Ser ou não ser...














     Uma escolha simples: vida ou morte. A vida — cinética, caos, moção — é inexorável. Ou se a vive, ou se a conserva. Como um grito que se escolhe entre diluí-lo no silêncio universal ou retê-lo, intacto, na garganta.
     Há os colecionadores de vida. Como, ao passo que não se pode possuir animais empalhados, senão os matando, eles colecionam, melhor dizendo, a morte. Em outras palavras, são conservadores.
     Conservar: manter sem alteração. Para que se tiram fotografias, se escrevem diários, se fazem juras de amor, ou promessas, simplesmente? Ora, se isso não é matar!
     O destino é irônico. Sabiam os mumificadores que haveria deveras mais vida na putrefação do cadáver que na múmia perfeita? Não importa, sabe-se apenas que o conceito da palavra por vezes é errôneo. O clichê "vida estável" é, por definição, uma falácia.
     Quem vive é porque não entende a vida. Quem vive segue apenas por instinto. O racional, por outro lado, percebe o tremendo golpe que lhe estão tramando — porque viver é, resumidamente, crescer e definhar —, e decide parar.
     Nessa estagnação (morte) é que se baseiam muitas vidas. Eu mesmo tenho diários, guardo fotos, luto pela estabilidade, registro tudo para não esquecer e cuido bem do que já tenho. Em suma, um suicida. Cada vez que eu encontro uma frase, um verso ou idéia que me aprazem, eu registro. Registro mesmo pensando que seria mais poético se os versos fossem sempre novos, e não os mesmos, sempre repetidos. Eu ouço algumas músicas 30 vezes por semana.
     O engraçado é que eu ainda estou vivo. Lá pela vigésima repetição, eu percebo novos acordes em "How Insensitive", do Jobim; os meus diários são esquecidos; as minhas fotos da infância amarelam de desdém do meu plano suicida... Enfim, tudo vai para o mesmo lugar para onde foram as constantes de Planck ou as fórmulas de polinômios. E surgem coisas novas. Não dá pra morrer.
     A última ironia da qual vou falar aqui, então, é que, por criarmos tantos estratagemas visando à morte, acabamos vivendo mais ainda. Mas deixa pra lá, que eu já tô confuso.

terça-feira, abril 04, 2006

O Deputado Buda

“Não sou um ateu total, todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro.”
José Saramago - Escritor português, 1922-?


Ricardo era um cara esperto. Surfista, maconherinho culto, logo leu um livro sobre budismo e filosofia para se tornar o maior comedor da praia. Garotas gostam de homens com conteúdo.
Aos 25 conhece uma psicóloga bonita e se casa. Acaba Direito e ingressa de vez na vida política.
Continuou esperto e aos 38 já era deputado federal, pai de uma linda polaquinha.
Como político era popular, moralista e católico. Votava contra os projetos a favor da legalização do uso de células-tronco para estudos aqui em nosso país. Seus eleitores diziam ser imoral “tirar a vida” de um embrião que possui 6, talvez 10 células. Ele concordava.
Como pai era sorridente, quase atencioso. Chegava atrasado nas apresentações de balé da filha. Numa dessas, foi tarde. A menina estava desmaiada a caminho do hospital.
Leucemia, disseram os médicos de São Paulo e Goiânia.
1 ano, condenaram os de Boston.
Ricardo só chorava e ia a outros médicos. Obcecado, acabara por ler sobre uma clínica pioneira lá da Inglaterra. O país já tratara alguns leucêmicos com uma terapia que mostrou cura em pacientes desiludidos. Células-tronco devolveram a vida para europeus doentes do sangue.
A mãe quis levar a menina para os doutores ingleses. O pai chega em casa e conversa com a psicóloga:
-Não sou um homem imoral. Vamos ficar por aqui e usar a medicina que não "tira vidas" para tratar os pacientes.
Os garotos ainda não haviam entrado na vida da polaquinha. Ela não havia entrado no colegial para escolher uma profissão e conversar sobre sexo no quarto das amigas. Estava só começando.
A Leucemia foi pontual. 1 ano.

sábado, abril 01, 2006

O Português e o amor

Eu não gosto de contenções nem convenções pra falar do amar. Esse ato deve ser simples e único, dito e expressado como ele e somente ele é, o amor.
Não deve ser banalizado não, que isso não é coisa que se faça com um sentimento tão belo quanto só ele é também.
Não deve ser dito a esmo, ao léu,
da boca-pra-fora,
de peito-pra-dentro,
de rosto-pra-baixo
ou de olhar-ao-vento.
Deve ser dito de boca cheia, com peito cheio, a mente cheia, o coração cheio e esperança vazia.
É.
Afinal, o “eu te amo” nem sempre é correspondido.
Aí é que a coisa complica.

“Hum... sabe o que é? Eu... erh... há muito tempo eu venho pensando nisso...”
“Sim, deixe de floreios e me fale logo, vamos menino!”
“É que, sabe... nós temos estado muito próximos ultimamente. Eu gosto de você de verdade...”
“Ah, eu sei disso bobinho. Eu também gosto muito de você.”
“Mas eu mais-que-gosto,... eu te amo.”
(silêncio)
“Ahn... o que você disse? Dá pra repetir essa última parte que eu não ouvi direito?”

Às vezes acho que essa situação é tão ruim pra quem ama (ou acha que ama) como para quem não ama (ou acha que não ama). Talvez não seja tão ruim, mas é tão angustiante quanto.
Existem várias formas de falar do amar. A música é uma boa opção. O poema também. Você pode disfarçar parafraseando, figuras de linguagem, falar inclusive não-falando ou deixando de falar, ou simplesmente falar (que é o mais direto e mais rápido, mas não necessariamente mais seguro ou mais fácil).
Porém não existe fórmula matemática pra isso. O amar é tão subjetivo quanto a mais subjetiva das matérias (aí eu te deixo escolher qual matéria você acha mais subjetiva, afinal essa é uma escolha pessoal – e subjetiva).
Na minha tola opinião, acho que é Português.
Cada verbo com cada tempo com cada conjugação com cada coisa que confunde minha cabecinha. Quase tanto quanto estar amando.
Eu por exemplo, penso que sei, mais sei que não sei, apesar dos outros acharem que eu sei. Até me dói admitir isso, mas eu nunca aprendi a conjugar o verbo amar.

terça-feira, março 28, 2006

O Retorno da Múmia



Anteontem, passou O Retorno da Múmia, o que me fez lembrar da nossa querida Margaret Tachter e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Sim, múmia — político de idade avançada que marcou era (i.e. governando por mais de, ou quase uma década) — cabe muito bem ao FHC.

Pois bem, FHC se uniu a Tasso Jereissati (presidente do PSDB) e a Aécio Neves (governador bem-cotado de Minas Gerais) e formaram o "triunvirato" com intuito de decidir qual seria o candidato do partido à eleição presidencial. É sabido por todos que o vencedor foi Geraldo Alckmin. Mas houve duas notícias a parte que passaram quase batido.

São Paulo, o maior colégio eleitoral do País é o triunfo tucano, há 12 anos, o Estado é governado por esse partido, seja na batuta de Mário Covas ou de Geraldo Alckmin, mas o que se viu recentemente foi a falta de candidatos tucanos à altura do posto, que conseguissem manter a hegemonia do partido no Governo do Estado. O PT já estava com linhas traçadas. Uma convenção do partido já definiria o vencedor no estado, isso era certo. Tudo sofreu um revés, Serra foi informado de que uma pesquisa feita no estado apontou como sua vitória certa. O prefeito de São Paulo, apesar de ter prometido que ficaria até o final de seu mandato, deve renunciar até sexta, prazo final.

Ou seja, no âmbito nacional será Lula (PT) versus Alckmin (PSDB), e no Estado de São Paulo (Aluízio Mercadante ou Marta Suplicy) versus José Serra. Vale lembrar que Serra e Marta já se enfrentaram para o cargo de prefeito de São Paulo, e Marta defendia a sua reeleição. É dado como certo que os dois vão comparar o que fizeram em seus mandatos na capital. Vai ser um: "Não, eu fiz!". "Não, fui eu, olho-de-peixe!"

Ficou semi-acertado também no encontro do tucanato que o Senado Federal deveria receber um senador tucano de peso. O melhor ficou para o final, a possível candidatura de Fernando Henrique Cardoso ao Senado Federal por São Paulo, o retorno da múmia.




Fichando políticos: Luiz Antônio Fleury Filho (PTB-SP)


Pretendo iniciar uma análise de alguns políticos. Deverão passar por aqui a Senadora-elefanta percussora da dança da pizza, o pequeno ACM, entre outros.

O político de hoje é candidato à reeleição à Câmara Federal por São Paulo, Fleury Filho. O nobre deputado veio dar duas aulas magnas na FUNDAÇÃO, onde estudo. A sua entrada foi vaiada por alguns e aplaudida por outros. A aula foi recheada de gráficos onde "o Fleury" (como gosta de ser chamado) mostrava que quando fora governador (por quatro anos) as taxas de criminalidade eram baixas e de que no Governo Covas-Alckmin (de atuais 12 anos), elas só subiram.

As perguntas eram tantas que houve sorteio. Já que minha sorte é pífia, não fui sorteado. Só me restou fazer a nobre pergunta ao nobre deputado quando o mesmo descesse do púpito. Isso ocorreu duas horas e dezenas de perguntas depois. Eu, com minha formalidade, falava enquanto ele autografava meu Código Penal: "Deputado, o que o senhor achou da absolvição do Coronel Ubiratan?" Ele fixou os olhos no que escrevia e respondeu: "Hum, achei correto. Foi um erro da justiça!". Eu estava chegando aonde queria chegar: "Deputado, o que o senhor acha da desativação do Caran...". Enquanto chegava ao final da minha pergunta, o nobre deputado devolveu-me o Código e virou-se bruscamente em direção à saída. Ou olhei para o autógrafo e fiquei pensando se essa era a mesma letra que autorizou o assassinato de 111 presos no Carandiru. Motivo pelo qual o nobre deputado nunca mais voltou ao Palácio dos Bandeirantes, sede do Governo Estadual.

PS: se tiver uma boa visão verá que o Deputado Estadual Coronel Ubiratan (o executor) e "o Fleury" (como ele gosta de ser chamado novamente) estão na mesma foto tirada há alguns dias em Bauru.

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FICHA

Luiz Antônio Fleury Filho PTB-SP

Cargo: Deputado Federal

Padrinho político: Orestes Quércia

Histórico político: Governador de São Paulo (1991-1994) pelo PMDB. Deputado Federal (1999 - 2003), reeleito (2003 - ) pelo PTB

Realizações: Autorizou a invasão ao presídio do Carandiru (1993), defensor do NÃO no referendum das armas (2005), defensor do término do voto secreto no Senado e na Câmara (2006).

Posição no Ranking do site http://picaretas.br101.org/: O quarto mais picareta.

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E boa sorte ao astronauta brasileiro, o orgulho de Bauru!

quarta-feira, março 22, 2006

O fim é só o começo ao contrário

















    Talvez, um dia, alguém explique estas coisas. Por que a gente sente raiva quando o amor termina, qualquer um sabe. Talvez, repito, um dia alguém explique porque a gente não consegue esquecer as pessoas.
    Como poeta ruim, às vezes eu choro em versos, para não borrar a maquilagem. Quando as espinhas, de nervoso, aparecem em mim, eu sonho com um mundo em que a catarse do sentir seria pelas palavras, ou, sendo mais abrangente, pela arte. A incerteza não mais me faria roer as unhas, a barriga tremer ou morder os lábios. Apenas um indolor parágrafo.
    Já tentei; sem sucesso, porém. Eu brigo com as palavras e choro junto nas músicas. A tua imagem não se dissolve em lágrimas, não se dissolve em versos, não se dissolve em nada. Agora eu lembro daquela regra na química, que diz que semelhante dilui semelhante, mas o próximo amor nunca está à porta quando a gente precisa, não é?
    Ontem doeu bastante. Doeu repetidas vezes, quando o computador perguntava, em todos os lugares que tu já havia estado, se eu queria mesmo te esquecer. Eu respondia que sim, repetidas vezes, porque sabia que te iria procurar por outros meios.

A vida me perguntava. Em todos os lugares. E eu dizia que sim. Que sim. Que sim. Que sim...

    Aquele derradeiro verso. O verso último que ousa o esquecimento: adeus. Não, ele não funciona.

Nada funciona.

domingo, março 19, 2006

Natasha, antes de ir, nos deixou um texto e uma foto

Eu, perfeitamente trajada, deixando flores ao meu pai, um dos bravos comandantes da URSS e ex-amante de minha mãe a "Grande Rússia".

Quem escreve algo, um dia acaba fazendo seu poeminha rimando amor com dor. Shakespeare fez o dele logo cedo, assim que começou a sentir. Borba o fez assim que aprendeu a escrever. Agora, com 18 aninhos incompetentes, eu entro pra turma:

Quem sabe se eu for cantor?

Quem sabe se eu for, amor

Cantar e poder sentir dor

Canta e Cantar e Doer

Cantar e poder sentir dor

Cantar e cantar e correr

Pronto. Agora me sinto outro. Agora posso conversar com as velhinhas do ponto do ônibus como se fôssemos compadre e comadre desde sempre. Posso errar o pênalti e não ficar sem graça. Posso falar à moça da padaria que a amo. E ir embora. Por que agora sou Caio-que-já-escreveu-seu-poeminha-rimando-amor-e-dor. Ah, e não tem título.

Natasha (Caio)

quinta-feira, março 16, 2006

beijo beso bisou bacio kiss kuß poljub kyss kisu


Só podia ser agora.
Não?
Ô dúvida que permanecia, atrás do cerebelo, puxando os nervos centrais, me deixando descontrolado.
Finalmente, finalmente!
Finalmente...
Depois de tanto tempo tomando coragem, acho que agora ia. Até o dono da padaria da esquina já tinha notado, e falado naquele sotaque misturado de italiano que sempre morou no Brasil:
- Má moleque, se te faltam los cojones... vá lá e arrrrrebata a guria!
- Cojones, Seu Somma?
- É garoto, os bagos!
Era isso.
Não! Não as minhas gônadas...
Era o momento.
Afinal, ela vinha me dando sinais por todos esses dias. Toda manhã, ao me ver, ela vinha com aquele papo: “Sonhei contigo ontem, de novo!”. E todas aquelas coisas que ela falava? E os abraços, os apertos, as mãos dadas quando eu menos esperava? E a falta que ela demonstrava quando eu não estava perto? Afinal o que era isso?
E eu já não agüentava mais.
Se não fosse o meu complexo quando o assunto era garotas, especificamente, já teria tomado uma atitude. Qualquer um em meu lugar teria tomado. Todos os meus amigos já vinham há dias me escrevendo um livro de dicas: "Espante o medo!". Muito útil na teoria. Não conseguia lembrar de nada daquilo agora...
---
E a cena ficou lenta.
Eu não conseguia pensar em nada.
Tremor.
Tentei o beijo.
Um desvio.
Um sorriso sem graça.
Outro.
O ar pesado.
Que calor!
Tentava de novo?
...
É, realmente me faltavam “los cojones”.
Borba

domingo, março 12, 2006

Femmes Fatales



Dia 08 passado, foi Dia Internacional da Mulher, data consagrada a partir de protestos de mulheres nova-iorquinas por melhores condições de trabalho e melhores salários na indústria têxtil iniciados em 08 de março de 1857.

Desde então, mulheres recebem flores e elogios por estarem cada vez mais parecida com, hum, homens. E nesse jogo de falta de personalidade, a mulher "quer ser homem". Não é segredo o desejo de que a maior parte dos países do mundo fossem governados por mulheres. E elas viveriam no paz & amor uma com as outras?

Para melhor responder a essa pergunta, recorremos ao tempo e às mulheres ao longo dele.

Lucrécia Bórgia, essa sim, era uma mulher de poder e, digamos, libido apurada. Mantinha relação incestuosa com o pai, o futuro Papa Alexandre VI e relações não menos incestuosas com seus dois irmãos Giovanni e César, o que mais tarde ocasionou em um fratricídio (Giovanni degolado no rio Tibre por César). Lucrécia não era só isso, chamada de a mais bela de toda a Itália do início do século XVI, ela se casou com dois nobres e, novamente, por ciúmes, César os matou. Diz a má-língua da época — Filofila, O Difamador que Lucrécia possuia veneno nos punhos e ela mesmo os matava, Filofila ficou famoso por ter dito que: "A filha do papa adora copular. Pode ser com seu irmão, pai, poeta, cachorro, bode, ou até um macaco" . Filofila deveria ser excomungado e defenestrado quando Lucrécia se tornou Papisa (feminino de Papa), por um curto período e sentiu o gosto do poder.

Falando em poder, no recente período que as mulheres o obtiveram, fizeram bom proveito. Margaret Tatcher, na década de 1980, ficou puta da vida e não hesitou em diplomacia ao mandar tropas britânicas às Ilhas Falkland para retirar os benditos argentinos que dali tomaram posse. Madeleine Albright, a gentil senhora da foto acima ao lado de uma feminista (this is what a feminist looks like) em uma passeata, que foi Secretária de Estado Americano, adorava brincar de pega-Saddam, lembro-me de que quando pequeno tinha medo que ela brincasse de pega-Saddam no Brasil (os boatos do mapa do Brasil com metade dele pertencente à "Zona Internacional" eram muito grandes).

Ah, mas não se pode falar de mulher sem falar de beleza. Margaret Tatcher, agora uma senhora de 80 anos, veterana em métodos de beleza, principalmente para seu cabelo, foi convidada recentente a uma recepção em sua homenagem, chegando ao local, para tirar um sarro de si própria disse que quando estava indo à tal recepção viu um cartaz escrito "O Retorno da Múmia" e ela pensou, será que sou eu?

E os faraós — antes de virarem múmias — embelezaram e dominaram o mundo. Nada que uma mulher de laquê nos tempos modernos não queira fazer.

Filipux (reações adversas são esperadas)

domingo, março 05, 2006

Um espaço diferente...


E aí sempre existe a dificuldade de escrever algo bom.
Bom não, porque bom é um adjetivo que corre rápido, e nesses dias quentes e turvos, com o sol batendo na fronte e o pavimento derretendo na sola do sapato, fica difícil alcançá-lo.
Convincente.
Convincente caberia melhor na frase (como uma esguia dama envolta em um vestidinho-preto-decotado-cheirando-a-prazer), afinal, a quem você quer enganar?
Você não sabe escrever como García Márquez.
Você não sabe compor como Chico Buarque.
Ou sabe?
Não, não sabe.
Eles são bons no que fazem. Não precisam da confirmação de mais ninguém, nem deles mesmos. Não existe mais necessidade de afirmação, nem auto-afirmação.
Você não tem o ritmo de um repentista sertanejo; você não leva jeito para amarrar sua prosa; você não sabe dedilhar os arcodes finos nem as aranhas, apenas o básico dó-ré-mi-fá-sol-lá-si-dó; não sabe fotografar o preto-e-branco das feições, nem o colorido das flores.
Você não sabe fazer mosaicos. Sabe apenas colar peças.
Você não é bonito. Não é forte. Não tem dinheiro. Não satisfaz sua garota no sexo, o que dirá no amor.

Então você os engana.

Engana os amigos, os pais, a namorada.
As donas-de-casa.
Engana a você.
Engana e se contenta a ser apenas convincente. Um adjetivo manco, que não tem mais fôlego pra correr, e ainda esconde atrás do T o comodismo.
Você só tem que os convencer de que alguma coisa de bom você sabe fazer.
Então você pelo menos admite. Tira essa faixa de rei a rasgo, lava esse banho de ouro na água da chuva, murcha o peito de ar e fala que é real.
Alguns não vão entender, e falar que o que tu queres, na verdade, são confetes por cima da carapuça. Que tu és um falso modesto.
Mas aí tu os manda às favas. Comam capim!
“Encontrem-me fora dessa faixa temporal e espacial na qual vivemos! - é o que tu responde - Lá só o real existe, o puro, a essência. Lá eu vou estar sozinho. Lá vocês vão me entender; e como eu me sinto; e como eu me comporto; e por que."
Borba

quarta-feira, março 01, 2006

Como Augusta de São Paulo


Indo a São Paulo e tendo bom-gosto, há de se passar pela Rua Augusta (faixa preta). Além de ligar o Centro (Catedral da Sé - ponto vermelho) à Avenida Paulista (faixa vermelha), a rua Augusta reúne em um espaço relativamente pequeno em relação à imensa metrópole o que há de melhor. A cada 100 metros, mais ou menos, há uma prostituta diferente para agradar tanto aos grandes empresários da Paulista quanto aos habitantes solitários do Centro. E as prostitutas da Augusta são realmente de alto nível (por tanto cobram alto), a maioria se veste bem e, hum, têm suas coxas torneadas à mostra.

Os locais que têm como endereço a rua Augusta ou os arredores são bingos (que dão um certo ar de Las Vegas), casas de prostituição (que fazem os olhos doerem de tão chamativas), e as boates: a Outs - ponto branco no meio da faixa preta (reduto de darks estilosos) é um local onde Supla se sentiria bem fazendo um show (e ele o fará em breve). A FunHouse tem um jukebox onde -- como era o único que sabia mexer -- comandei, como um DJ, que não se abala com opiniões musicais alheias, as músicas que tocavam. No térreo tem um bar e uma pista onde um DJ (esse de verdade) abusa de seu bom-gosto que vai desde The Strokes à Vive la Fête. Tu não quer aproveitar das prostitutas e das duas dicas de boate que eu dispus ou és gay? Alôka! - ponto rosa.

Aperte na foto para vê-la maior.

Filipux

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Se CAIO tu me seguras?

Em tempos de Carnivale, Terça-feira Gorda e Quarta-feira de Cinzas, a Maison Centrale de La Rue de Berne (nome de nossa sagrada casa libidinosa) teve de pedir reforços. Não havia moças disponíveis na região do lago. Tive, como Puta-mor, de procurar por um reforço na capital da longínqua potência falida (Moscou, Rússia). Através de um site russo encontrei uma que parecia bem jeitosinha por míseros 1981,43 rublos, cerca de 92,54 francos suíços (R$150,00). Branquela como todas as russas, magra como... Bem, russos são gordos, então magra como as francesas, ela bebe como uma boa russa. Anteriormente, ela felava, faminta, senhores nos banheiros fétidos do belo metrô de Moscou por alguns trocados. Hoje, ela é o prato principal. E façam valer nosso primeiro, mas promissor investimento.

Filipux

Opinar É Uma Arte

Pouco vejo as notícias. Entro na UOL às vezes para verificar se o mundo não está explodindo lá fora. Nunca está. Às vezes até torço para que esteja. Um dia estará. Sou um grande alienado.
Para compensar meu distanciamento às notícias até tento ter opiniões sobre umas coisas. Coisas atuais. Procuro não ser utópico quando opino, mas, quando percebo, estou no fundo de um poço que transborda fantasia. E os assuntos para os quais crio opiniões não são lá os mais funcionais. Não são daqueles que servem para dizer em qualquer buteco. Tem gente que é inteligente e anda sempre ensaiado com opiniões funcionais. Aquelas sobre política, futebol, mulheres e relacionamentos. Até sobre drogas.
Essas de relacionamento - nessa linha de filosofia barata - você acaba usando ao lado de mulheres, para dar o bote e se esquentar da solidão.
Com as de futebol se acaba brigando com seus melhores amigos.
Admiro a coragem e arrogância dos que opinam sobre política. Aqueles que defendem um partido ou culpam algum político. Essas pessoas têm performance e sempre acabam seus shows tentando passar uma imagem misteriosa de quem sabe algo mais sobre o que se passa nos bastidores do Planalto, quando na verdade ninguém sabe a verdade.
Em uma noite esses dias eu saí de casa com uma sutil, quase imperceptível, vontade de debater maconha. Só debater. Mas, logo no começo da noitada já ouço um infeliz dizer:
- É, Fulano brigou feio com a família. O pai o acusou de estar usando maconha e chegou a expulsá-lo de casa.
Eu, tentando satisfazer minha vontade, chego perto e pergunto: E ele tava fumando?
- Não sei, mas eu e Ciclano estamos desconfiados de que ele esteja usando sim.
Por um instante eu pensei “Deus, será que é de maconha que estamos falando? Não, deve ser de assassinato ou tráfico de pó. Ou adultério, que é outra coisa que as pessoas não gostam.”.
Quando aquele infeliz usou o termo “acusou” foi perceptível sua conivente opinião a toda aquela louca ignorância paterna a que era exposta nosso pobre amigo Fulano.
E no instante seguinte, para meu bem, mudei de assunto. Eu lembrei que opinar é algo precioso, não é como apenas saber de um assunto. É como arte.

(Natasha) Caio

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Final - Seria ele o... ?


- Um mega piolho! – Alguém gritou na metade esquerda inferior da sala.
- Um rascunho de Deus do eclipse lunar?
E enquanto o sorriso do Professor Antônio aumentava (o que parecia impossível) e atingia proporções de iluminação gigantescas (o que parecia um sol), ele ia anotando tudo e qualquer coisa que alguém falava na sala de aula com um giz azul (ou o que parecia ser um giz azul) no canto do quadro (que era realmente um quadro).
Alguém disse – Um ponto! É apenas um ponto! – No que ele respondeu, escrevendo a nova opinião no quadro:
- Sempre tem um estraga prazeres...
Riso geral.
- Usem sua imaginação, não se limitem. Limitar é uma palavra muito ilimitada. Ela representa tudo de ruim que pode acontecer ao nosso cérebro. Tudo.
E uma enxurrada de respostas bonitas, estranhas, engraçadas e loucas varreu a sala.
O interessante foi que ninguém sabia de qual matéria aquela bendita alma era professor. Por que era isso que todos sentiam: uma alma ali na frente. Um simples gesto que o diferenciou dos demais professores, que pareciam velhas uvas-passa, obrigadas a estarem atrás da mesa, dando aula para um bando de pirralhos acéfalos.
Eu tinha até perdido o sono, em algum canto da sala ele se jogou, e lá ficou.
A mosqueta agora batia frenéticamente no vidro, mas dessa vez ninguém ouviu. Todo mundo falava ao mesmo tempo, tentando dar uma resposta mais engraçada que a anterior.
E o Professor Antônio parecia se divertir com tudo isso.
Sua lição estava dada.
_____

Na minha mente se formou a idéia de que aquele seria um ótimo professor.
Desses que nos faz rir. Que noz faz adorar uma matéria antes odiada.
Desses que todos relembram até em festas. Que cria afeto e carinho.
Desses que recebe homenagens em formaturas.
Desses que te ajuda a resolver qualquer problema, sendo ele de matemática, de história, ou da sua vida.
_____

Na mente do Dr. Arnaldo – o diretor da escola, que parecia nervoso, bem nervoso e agitado andando de um lado pro outro (qualquer um perceberia isso olhando pra testa dele, que pingava suor - e pela sua têmpora, que parecia querer explodir ao mundo exterior a qualquer momento), se formou a seguinte questão:
- Onde será que se meteu o Seu Antônio, meu-Deus-do-céu-Santa-maria-José, que em começo de ano letivo ele sabe que é uma bagunça pela escola e ele some desse jeito? Cadê esse zelador?!

...fim.



Borba

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Parte 2 - O sorriso


Um sorriso.
Um sorriso enorme, largo, fresco de café da manhã. Um sorriso lindo, alvo, brilhante.
Não era um sorriso de mulher.
Muito menos propaganda de pasta dental.
Era o sorriso do senhor de meia idade que entrava pela porta da sala.
Nesse momento, quem conversava, parou; quem estava em pé, sentou; quem cantava, calou; quem não olhava, olhou; Quem reparava na menina bonitinha do meu lado, não mais reparou.
Quem dormia, acordou.
E lá vinha ele.
Uma calça de brim antiga, uma pasta já bem gasta, um sapato do barato, o cabelo por cortar, a barba por fazer e um sorriso cativante.
Não era apenas o efeito do contraste. Ele era um negro desses bem negros, quase que totalmente negros, que acabam de chegar da África Central, com um sorriso bem branco, quase que totalmente branco, lavado-a-alvejante-três-vezes-ao-dia-depois-de-cada-refeição.
E lá vinha ele.
Seu andar de valsinha, seu sapato bolero, seu gingado de negro dançando sem música pela sala silenciosa.
E sentou.
Seu olhar marcado. Sua testa brilhante. Sua bic no bolso.
- Bom dia.
Todos em uníssono responderam, como se estivessem hipnotizados pelo sorriso do negro:
- Bom diiiia.
E levantou.
- Eu sou o Professor Antônio.
Assim mesmo, com P maiúsculo, como se já fizesse parte do nome dele.
Tirou um giz usado de um pequeno compartimento da pasta e fez um grande ponto branco no centro do quadro negro. Dava pra ouvir a mosqueta zumbindo e se batendo no vidrinho da porta, tentando entrar na sala pra ver o que acontecia.
- Hoje eu não quero nada de vocês. Nada mais do que a opinião de vocês sobre o que representa esse ponto no meio desse quadro.

Eita fuzuê que se sucedeu!

...continua...


Borba

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Parte 1 - Sono


A velha rotina de volta.
Sabe aqueles textos sem pontos nem vírgulas nem exclamações nem nada não tem nada e você vai lendo e não consegue parar ou você para porque ele é muito chato ou porque está sem ar e é maçante e não tem parágrafos não tem nada só o preto das palavras contrastando com o branco da folha ou no caso do nosso blog é o contrário porque a gente optou por esse layout e o cansaço e o brilho intenso e você só quer dormir e os seus olhos vão fechando vixe Maria meu Deus que coisa chata?
Pois é.
Sabe?
Ela voltou.

Ô velha chata!

Segunda feira e o sono dá pancadas em ritmo industrial nas minhas pálpebras, algo comparável a Cubatão no auge da produção (e poluição). As duas únicas coisas que aparecem na minha mente são “Quem desligou a droga do ventilador?!” e “Será que vale a pena ir mesmo pra aula hoje?”.
Levanto.
A água escorre pelo cabelo.
Minha avó já foi pro trabalho.
Não tem pão.
Droga, não tem camisa passada.
As férias corrompem o ser humano. Acabei de chegar a essa conclusão, mesmo com o sono latente sensível.
Tudo muito rápido assim mesmo.
Nem depois de me sentar na carteira lá do fundo e recostar minha cabeça no braço direito, demonstrando minha técnica perfeita de dormir em sala de aula, eu percebi que havia subido a Ladeiro do Nô em menos de 10 minutos.
73° de inclinação comprovados pelo Fantástico, que veio fazer reportagem aqui ano passado. Você não assistiu?

Acho que foi o sono. Estado de sonambulecência (inventei essa agora. É o sono).
Não reparei na menina bonitinha sentada do meu lado.
Juro.
Só senti o arrepio. Aí olhei pra frente. Quem ousava me arrepiar e me tirar do descanso matinal?
E o que eu vejo, entrando pela porta da frente da sala?

...continua...


Borba

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Tire as crianças da sala!

Primeiramente, mas não em primeiro lugar, queria desculpar-me às putas por ter demorado a servir de minha maçuda carne, enquanto isso estava engajado em fazer sala a uma tia, à Sra. Mesquita e a realizar suas infinitas viagens a médicos. "Tua mãe vai mal-de-saúde" Não, é que em Porto Velho não há geriatra, por exemplo. E mamãe está fazendo mais um aniversário rumo aos 50.

Não obstante, minha prima mais nova -- Ana Vitória -- veio também. Fiquei observando-a, enquanto ela assistia TV. "Pedofilia!" Não, não sou, estava apenas tentando entendê-la como criança. Sempre achei que crianças inteligentes serão adolescentes brilhantes, ignoro as bonitinhas (que todos paparicam). Beleza não põe mesa.

Aliás, eu era esquisito quando criança. Em casa, com a TV a cabo só era possível de assistir às propagandas políticas no SBT e, sendo assim, de São Paulo. Eu, por exemplo, achava as medidas do então candidato Celso Pitta -- cujo padrinho era Paulo Maluf -- as melhores. O Fura Fila -- cuja musiquinha eleitoral era: "Chega de sofrimento de tanta demora, ele chega na hora, ele chega na hora! Pega, vai e volta, sem saber aonde vai, Fura-Fila!" -- espécie de monotrilho-TGV que desafogaria o trânsito da capital paulista, era o meu preferido. Eu já até imaginava indo ao Parque da Mônica no Fura Fila, passando a uma centena de quilômetros sobre a cidade; e as pessoas felizes pois estavam conseguindo chegar ao trabalho rápido; eu tinha 11 anos. Pitta foi eleito para minha felicidade. Eu passei a acompanhar os jornais em busca de informações sobre a construção do Fura-Fila, só achei denúncias de superfaturamento do pequeno trecho que levava o nada a lugar algum, a política malufista do "Rouba, mas faz". Foi minha primeira desilusão eleitoral. Passei a desconfiar de projetos TGVistas...

"Olha, Filipe, o Camarinha pretende implantar um projeto..." Tira, Ana, tira. Propagandas políticas não são para crianças!

Propagandas políticas se iniciam no final desse mês, os partidos não poderão fazer propaganda de seus candidatos. Se bem que, com certeza, apresentarão nomes.

José Wilker como JK parece o Coringa. E Coringa é um bom exemplo de político, ã?

Filipux

terça-feira, janeiro 24, 2006

Vendido!


Porto Velho, seis horas e trinta minutos da tarde de terça feira, vinte e três de Janeiro de dois mil e quatro.
Lá estava eu (não por grata coincidência), violão no colo, música alta, sentado em um banquinho de forro xadrez, na varanda da minha casa. Do meu lado, se esbaldando feito criança em uma cadeira de balanço de fios de madeira trançados, estava um dos “colaboradores” deste blog, Alfaia (não por grata coincidência).
(Até terminar toda esta chata e pedante apresentação já batem seis horas e trinta e três minutos).
Barulho de palmas a alguns metros.
Nada.
Mais palmas.
Mais nada.
Aparece então uma senhora com aparência de nostalgia (hum, gostei dela) com uma bicicleta enferrujada e sua filha do lado, que logo encosta-se no portão e fica a me olhar com um misto de surpresa e admiração.
Será que eu tinha meleca no meu queixo?
Ou será que ela era uma precoce-música-profissional, e estava pensando “Pff, o que ele pensa que está fazendo com esse violão no colo!?”
N.D.A.
- Ei menino!
- Pois não senhora?
- Você sabe se aquela casa ali do lado... hum, tem gente morando nela? E no rosto dela se abriu uma expressão de esperança.
- Sei não moça...
(Fecha a espressão. Abre uma do tipo “menino BURRO!”).
E ela explica (como se precisasse) – É que eu e o meu marido estamos procurando um lugar pra alugar. Já andamos vendo uns apartamentos ali, mas ainda falta muito pra ficarem prontos. Como a escola da menina é aqui perto, queremos um lugar por aqui...
­- Ah, a senhora é uma moça que passou aqui ontem e me perguntou...
- Sim... eu mesma!
- ...com um rapaz, num carro branco...
- Não. Então não era eu.
(Era ela! Provavelmente com seu amante!)
Acontece que no dia anterior um casal já havia me perguntado pela casa ao lado.
- Pois é senhora. O problema é que eu estou de aqui de férias, não estou muito por dentro do que está acontecendo no bairro.
(Como assim? Que bairro monótono é esse, que uma casa pra alugar merece tanta atenção?) Neste momento imaginei duas velhas fofoqueiras:
- Ei fulana, adivinha o que aconteceu?
- Não sei ciclana, o que? Me conta logo!
- Sabe os Beltranos, ali da rua do meio? Pois é, botaram a casa deles pra alugar!
- Meu Santo! Já? Mas eles pareciam tão felizes...
- Pois é né, pra tu ver menina, como as coisas são...

Voltando à realidade:
-Ah menino, obrigada então.
E eu, num último suspiro de caridade, ainda tentei:
- Se a senhora quiser deixar um telefone pra contato, eu posso ficar de olho por aí.
Não sei se ela entendeu isso como uma cantada (mas como? Ela não sabe que eu gosto de velhas nostálgicas?) ou se ela não tinha telefone mesmo, mas ela me disse entre assustada e envergonhada:
- Não, não, depois eu volto aqui com meu marido.
(Ou ela percebeu que eu sabia do amante, e sentiu o perigo por perto...)

Quinze minutos depois um homem pára com sua moto em frente ao portão, e de lá mesmo me pergunta:
- Ei garoto, você sabe se essa casa aqui (e aponta para uma outra casa, do outro lado) está para alugar?
Eu digo que não sei, e segue o mesmo sambinha “pa pa pa” pra explicar que estou aqui de férias e não sei de nada.
- Essa senhora aqui é a proprietária da casa?
Era a minha mãe que ia chegando e estacionando o carro na casa da vizinha, que viajou, e pediu pra minha mãe deixar o carro lá, para prováveis assaltantes acharem que tem gente na casa e não a roubarem. Claro, caso haja assalto, vai ser o carro da minha mãe mesmo...).
Como ia demorar muito pra explicar isso, eu simplesmente disse:
- Não. Essa é minha mãe, que estaciona aí na casa da vizinha por que a vaga é maior e ela é péssima motorista. Mas se você quiser perguntar algo a ela, talvez ela saiba responder melhor que eu.
Acho que o cara sentiu um pouco de ironia na minha voz (que nunca existiu, aliás) por que ele deu meia volta e foi embora sem falar nada. Deve ter pensado “garoto IGNORANTE!”. Depois eu pensei que a resposta pareceu um pouco irônica mesmo. Mas tudo bem, ele não ia ser um bom vizinho.

Fui dormir encucado.
Acordei suado, de um pesadelo terrível e sombrio martelado na minha mente.
No pesadelo eu era um publicitário bem sucedido, que de repente largava tudo pra ir seguir outra carreira: a de agente imobiliário.

Sem nenhuma ofensa aos agentes imobiliários. Mas eu - provavelmente - não seria um dos bons.

Borba

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Filipux (persona non grata)


Há uma certa aversão contra a minha pessoa desde que me entendo por gente ou até antes disso. Antes mesmo de falar algo eu já era mal-visto. Conta minha mãe que sua filha (minha irmã) planejava maneiras de me matar. Um exemplo disso foi quando eu, ainda bebê, fui puxado por ela até a beirada da cama. Estaria no chão se não fosse minha mãe saída do banheiro tê-la impedido.

E as coisas só tenderam a piorar -- principalmente com a minha entrada para o mundo virtual -- naquela época era totalmente fora do comum escrever corretamente por aqui. Ganhei de cara um inimigo que alegava que eu estava sendo idiota ao fazê-lo, o José Vicente dos Santos Neto, vulgo: Netow. Usando inglês-boliviano, alegações ridículos e banais ele tentou mudar-me em vão (algo como: "todus iscrevem axim!!!!"). Ele se recusava a entrar no orkut, já que era fútil e blablablá (se bem que ele entrou mais tarde).

Tirando o Netow, assim que entrei no orkut, uma comunidade inteira ficou contra mim. Eu estava defendendo honrosamente o local onde nasci e eles, coitados, ficaram perdidos, porque eu soube defendê-la bem e apontava para o seus erros na escrita, que convenhamos era dantesca, como sinal de que não haviam tido uma boa educação e por isso tinha noções de uma criança burra de quatro anos. Desde que saí de lá (tinha medo que fosse contagioso) aparece alguns membros da comunidade me atazanando, sendo que eu já desisti deles e só apareço de vez em quando para agradá-los, aliás, entretê-los (uma criança necessitaria disso, ã?).

Agora, o Cavalo comanda uma espécie de cruzada contra mim, ele vem com calma, agradando as duas outras Putas (cavalos tendem a ter um grande pênis, seria isso?), faz muito estrago, se bem que eu acho que ele ainda não leu o meu perfil, quanto ao episódio em que ele foi incoveniente (uma verdadeira senhora gorda de meia idade -- aquela que pela falta de vida própria ou por ociosidade mesmo enche o saco da vizinhança -- uma verdadeira Dona Antônia) , onde consta um parágrafo inteiro dedicado a meu pedantismo, mas ele se nega a entrar no orkut (Netow again?).