terça-feira, julho 25, 2006

Hoje é domingo, pé de caximbo

Se diverte com os guris correndo na rua, brincando de bola.
Ao longe o vendedor de alguma coisa vende alguma coisa, que ele não decifra o que é por não ser alguma coisa que lhe interesse.

Coça a barba.
Coça o umbigo.
Coça o saco.

Domingo todo de pijama.

Faz tudo lentamente, afinal nessa idade já há tempo pra tudo mesmo.
Sossegado na poltrona, progama de esportes na TV. Velhice tranquila, regada a pios de pintassilgo, de beira, de lado, indo e vindo, levando.
Única dúvida: ganhará o concurso de palavras cruzadas?

sexta-feira, julho 07, 2006

1 ano de Gèneve


"No ano de meus noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Lembrei de Rosa Cabarcas, a dona de uma casa clandestina que costumava avisar aos seus bons clientes quando tinha alguma novidade disponível. Nunca sucumbi a essa nem a nenhuma de suas muitas tentações obscenas, mas ela não acreditava na pureza de meus princípios. Também a moral é uma questão de tempo, dizia com um sorriso maligno, você vai ver."

(...)

"Insisti que não, que tinha de ser donzela e para aquela noite. Ela perguntou alarmada: Mas o que é que você está querendo provar a si mesmo? Nada, respondi, machucado onde mais doía, sei muito bem o que posso e o que não posso. Ela disse impassível que os sábios sabem de tudo, mas não tudo: Virgens sobrando neste mundo só os do seu signo, dos nascidos em agosto. Por que não encomendou com mais tempo? A inspiração não avisa, respondi."

(...)

"Não preciso nem dizer, porque dá para reparar a léguas: sou feio, tímido e anacrônico. Mas à força de não querer ser assim consegui simular exatamente o contrário."

(...)

"O tema da crônica daquele dia, é claro, eram os meus noventa anos. Nunca pensei na idade como se pensa numa goteira no teto que indica a quantidade de vida que vai nos restando. Era muito menino quando ouvi dizer que se uma pessoa morre os piolhos incubados no couro cabeludo escapam apavorados pelos travesseiros, para vergonha da família. Isso me impressionou tanto que tosei o coco para ir à escola, e até hoje lavo os escassos fiapos que me restam com sabão medicinal de cinza e ervas milagrosas. Quer dizer, me digo agora, que desde muito menino tive mais bem formado o sentido do pudor social que o da morte."


Gabriel García Márquez, Memórias de minhas putas tristes.

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