terça-feira, maio 19, 2009

De como me tornei torcedor do Vitória (ou das coisas lógicas da vida)

Dizem os antigos da família que a história das torcidas cá em casa se resume a uma questão puramente matemática. Repetem, feito vendedores de mingau da Av. Sete, que eu, ainda guri, aderi ao brasão do brioso rubronegro baiano por pura pressão paternal.

Meu tio Elton, o que mais sofre com os delírios pela ausência titurilística dos tricolores (há 8 anos que eles não ganham nem campeonato de cuspe à distância), adora balburdiar a trela, que ele diz ser verdadeira:

- Rapaz (e vira pra meu pai), você lembra sim, lembra que eu sei, daquele dia que você virou pra ele (no caso, eu) e disse: torça pro Vitória menino, torça pro Vitória, que seu tio e seu irmão já são Bahia. Torceremos eu e você pro Vitória, e assim equilibra, fica dois contra dois.

Daí que segundo ele, eu, claro, mais novo, comi o agá de meu pai, e passei a torcer pro Vitória.

Isso ele conta como uma espécie de pilhéria. Faz uma algazarra dos seiscentos. Se aproveita dos fatos inventados e historietas do tempo do ronca para mascarar as discussões que realmente importam (ou não mais, porque contra fatos não há argumentos) – enquanto o time dele definha e a torcida vai enlouquecendo aos poucos, o meu time tem um pé no presente e outro no futuro, e a nossa torcida só faz crescer.

Ao final do causo, provavelmente contado pela decanésima vez, eu dou uma risadinha pra não postergar mais o assunto e faço minha típica cara de deboche. Não sabe ele que antes de qualquer fração ou soma, antes de qualquer palavra ou triagem, está o time pelo qual o homem torce, e isso não se escolhe, é de nascença, é de berço, é de cria, é sentimento sem explicação.