sábado, abril 01, 2006

O Português e o amor

Eu não gosto de contenções nem convenções pra falar do amar. Esse ato deve ser simples e único, dito e expressado como ele e somente ele é, o amor.
Não deve ser banalizado não, que isso não é coisa que se faça com um sentimento tão belo quanto só ele é também.
Não deve ser dito a esmo, ao léu,
da boca-pra-fora,
de peito-pra-dentro,
de rosto-pra-baixo
ou de olhar-ao-vento.
Deve ser dito de boca cheia, com peito cheio, a mente cheia, o coração cheio e esperança vazia.
É.
Afinal, o “eu te amo” nem sempre é correspondido.
Aí é que a coisa complica.

“Hum... sabe o que é? Eu... erh... há muito tempo eu venho pensando nisso...”
“Sim, deixe de floreios e me fale logo, vamos menino!”
“É que, sabe... nós temos estado muito próximos ultimamente. Eu gosto de você de verdade...”
“Ah, eu sei disso bobinho. Eu também gosto muito de você.”
“Mas eu mais-que-gosto,... eu te amo.”
(silêncio)
“Ahn... o que você disse? Dá pra repetir essa última parte que eu não ouvi direito?”

Às vezes acho que essa situação é tão ruim pra quem ama (ou acha que ama) como para quem não ama (ou acha que não ama). Talvez não seja tão ruim, mas é tão angustiante quanto.
Existem várias formas de falar do amar. A música é uma boa opção. O poema também. Você pode disfarçar parafraseando, figuras de linguagem, falar inclusive não-falando ou deixando de falar, ou simplesmente falar (que é o mais direto e mais rápido, mas não necessariamente mais seguro ou mais fácil).
Porém não existe fórmula matemática pra isso. O amar é tão subjetivo quanto a mais subjetiva das matérias (aí eu te deixo escolher qual matéria você acha mais subjetiva, afinal essa é uma escolha pessoal – e subjetiva).
Na minha tola opinião, acho que é Português.
Cada verbo com cada tempo com cada conjugação com cada coisa que confunde minha cabecinha. Quase tanto quanto estar amando.
Eu por exemplo, penso que sei, mais sei que não sei, apesar dos outros acharem que eu sei. Até me dói admitir isso, mas eu nunca aprendi a conjugar o verbo amar.

7 comentários:

Anônimo disse...

Existem sentimentos que fazem parte da natureza humana, que, daê, às vezes são reprimidos: desejo de matar ou desejo de amar. Nascemos com isso. Mas nem sempre queremos fazer 'bom uso' desse tipo de emoção.

Com perca da última frase daquele diálogo, mero acaso dos ouvidos gouche daquela pessoa, creio que o mundo todo viveu-vive-viverá esse "err..."

O testuo ficou beeeem lindo!

=)

(Há que se desculpar o excesso de palavras e de 3°s Pessoa de Plural)

Besus!

PS: Parnasianos não amavam, pois amavam formatados? ^^

Alfaia disse...

Foi o que eu te disse.
Esse finalzinho tá como aquele último pedaço de chocolate que a gente come, mas com pena!

:]

Enfim, lindo.

Anônimo disse...

Mas pois sim... Acho que os Parnasianos amavam, eles conseguiam até ouvir estrelas...

Só que o amor deles tinha que caber...


Tem muita gente que ama parnasianamente..

Eu prefiro o amor meio termo, nem parnasiano, nem romântico, algo mais modernista.

Aquele que bate na porta, que bate na aorta, que ronca na horta, que pula o muro, sobe na árvore e que se estrepa...

enfim, ago além do que se possa compreender...

Afinal o amor não é isso:

nada mais que algo além?

Não é que você não consiga conjugar, é que é impossível.

Afinal, penso eu, o amor é indizível, invísivel...

E tantos outros afixos de negação que fazem ele ser assim: uma afirmação só.


Adorei o texto.

Duas coisas que eu amo: o amor e o português.


Beijos!

Anônimo disse...

Triste verdade.
É impossível conjugar o verbo amar...

Anônimo disse...

Amar é complicado, mesmo.

Mas, eu penso que, tendo aprendido tudo sobre a vida... Ela não tem mais valor.

Thiago C. G,

Thams disse...

Gostei do texto, e me identifiquei.
Mas não sei falar de amor...O que falar, como falar, com quem...enfim, meu pagamento fica assim: imcompleto.

Sinto muito!

Mas concordo que é angustiante tanto pra quem diz que ama, quanto pra quem ouve mas não ama.

Bjs

Alexandre Lucio Fernandes disse...

Ei cara, muito lindo mesmo.
sem comentários...

ALF