segunda-feira, dezembro 29, 2008

Alta Fidelidade

Aproveitando o ano findando e a falta de sono às 02:26, resolvi dar uma relida no blogue e fazer meu Top 6 - Textos 2008.
Adoro esses Top's 10, 5, 3... mas eu pré-selecionei 8, e não consegui excluir mais nenhum dentre esses, então fica sendo um Top 6 mesmo. Opinião pessoal, claro. Aí vai:

6
Prática Civil IV
Autor: Borba

5
Tevê de propaganda em tela de bronzeador
Autor: Alfaia

4
Pequeno texto em 5 partes sobre 6 garotas que me fascinam
Autor: Borba

3
O Perfumista
Autora: Renata Marques (Participação Especial)

2
Mentira vai à praça
Autor: Alfaia

1
"Le Couperet"
Autor: Borba

domingo, dezembro 28, 2008

Antigos Achados Atuais

Achei um arquivo .txt aqui no PC, enquanto dava uma organizada nas pastas. Deve ter uns 4 anos ou mais que escrevi isso. Acho que está mais atual que nunca.

-

O Borba

Dizem por aí que o tal Borba é o pior dos salafrários,
um sôfrego rabujo automaticamente irônico.
Um disparate assimétrico de proporções díspares,
um coração amargurado com um sorriso lacônico.

Enquanto deixa sua linda - com doces beijos na cama - a dormir,
procura na noite saciar seus impulsos.
Procura nos caminhos obscuros algo que o retorne ao ímpeto,
e ao longínquo trôpego que o faz pesadamente cair.

Quem entende o homem? Nem ele, nem alguém, nem ninguém.
Nem sua linda, que suavemente dorme sem ver nem imaginar.
De olhos fechados ela pensa que sabe o amar.
E ele? Faz o que quer? Ou faz o que convém?
A quem ele acha que engana? Acham que ele é homem de bem?
Ele é só o Borba, cansado de tentar.

-


A gente muda mas não muda, afinal.

terça-feira, dezembro 16, 2008

Whisky para um condenado

Era um dia quente.
Muito quente.
O cigano entrou pelo saloom com passadas lentas.
Todos olharam. Menos eu.
O cigano tropeçou e caiu. Levantou-se. Passadas lentas até o balcão. Todos olhavam com indiferença a barriga aberta do cigano com suas tripas perfuradas pra fora. Menos eu.
Ele as limpava, as tripas, depois da queda.
No balcão, murmurou um whisky para Solano, o barman. Este o serviu. E perguntou com certa parcimônia:
- Que te aconteceu, cigano?
O cigano olhou para Solano com os olhos vermelhos:
- Me mataram, amigo, me mataram... - Virou o copo da bebida de um só gole e ainda acrescentou: - Mas o pior é isto - e olhou para as próprias tripas, que agora vazavam toda a bebida há pouco ingerida.
Todos fizeram cara de comovidos. Menos eu.
Tenho de ser profissional nestas horas.
- Caralho - gritou o cigano.
E caiu.
E morreu.

sábado, novembro 29, 2008

A prece minha de cada dia

Obrigado, Senhor
por me dar a graça
como única graça (e não que eu esteja reclamando!)
porque sem graça
eu não teria nenhuma graça.


Amém.

quarta-feira, novembro 19, 2008

...

Parece que anda todo mundo louco por aqui, sofrendo de amores.

Será o calor?

terça-feira, novembro 04, 2008

Banana, aveia e mel

Acabei de perceber a maior vantagem de voltar a morar com meus pais: ser acordado todos os dias no horário, com um copão de vitamina do meu lado.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Das paixões instintivas

Fico pensando de onde surgiu no homem essa necessidade besta de se apaixonar, se - enquanto animais - procriar e disseminar já era o suficiente. Quando foi que deixamos de ser animais? Quando passamos a nos apaixonar?

E será que, apesar de todos os problemas, ele se apaixonaria, mesmo sabendo que logo depois seu coração iria doer?

domingo, outubro 12, 2008

Em Si menor

Ela era linda, pequena, tinha os olhos claros e a pele alva. Vestia preto, mas eu podia perceber suas curvas durante seus movimentos. Tudo nela extasiava, mas o que mais me deixou fascinado foi seu meio-sorriso envergonhado, quando seu olhar cruzou o meu.

E eu fiz uma música, pra ela.

terça-feira, setembro 30, 2008

Vem de lá

E como se cada palavra queimasse,
me calei ao som das tuas lágrimas rolando e descendo por entre teu rosto, outrora tão ávido por um afago meu.
E como se o olhar ardesse, fechei meus olhos e me fingi de cego aos teus erros,
mais uma vez,
mais uma noite.
Sentia saudade de teus mimos, afinal, e sabia dos detalhes de tua existência, dos pormenores de tua desistência e dos motivos de tua ausência. E aprendi a achar isso normal.

Eu sei, e tu sabes que eu sei.

domingo, setembro 28, 2008

Frases Aleatórias

Sábado, 27 de setembro, Hurtmold na Praça Tereza Batista, Pelourinho.

Sentado, cansado (como quase sempre), tomando uma água e conversando com uma amiga sobre tatuagens, Lei Seca e seca sexual, aparece uma figura conhecida na nossa frente: Marcelo Camelo.
Excluindo todos os pormenores do fato, enquanto minha amiga praguejava contra os tietes que apareceram do nada querendo tirar fotos e dar abraços, eu observava alguns comentários aleatórios ao meu lado:

- Meu Deus cara, é o Camelo!
- Eu vou nele, hein.
- Nossa, que barba horrorosa!
- Eu não tô pagando 15 pra ver a banda inteira, quanto mais 20 pra ver só o Camelo!
- Que menina bonita do lado dele. Será que é namorada?
- Eu vou na namorada dele, hein.
- Olha só o Camelo. Até que ta mais gordinho ele, tadinho.
- Ai, eu não vou nele não, hein.

Mais tarde, resistindo a uns convites pro Rio Vermelho, fui com mais dois amigos comer uma carne-do-sol e aipim genial, no Doron, que só perde pro da minha mãe, na pressão, com aquela carne de panela e molho doce.

Um deles é gordinho, o outro não come carne.

- Caralho, como alguém consegue ser vegetariano, por opção? Isso tá muito bom!
- E aí cara, ta boa a macaxeira?
- Que carne boa, parece que tem orégano.
- Hum, essa macaxeira está deliciosa!
- Orégano é tipo o bacon do mundo vegetal.
- Cês viram lá no show, um cara igual ao Marcelo Camelo? Até pedi as horas pra ele, hahaha.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Pets

- Te levar a sério? Você cria vinte e três esquilos no seu quarto! Como eu posso te levar a sério?
- Mas o qu...
- VOCÊ DEU UM NOME PRA CADA UM DELES!

quinta-feira, setembro 18, 2008

Prática Civil V

De tão absorto nas novas notas do blues que ecoavam pelo cubículo, nem percebeu o tocar na porta da sala. TOC TOC – dessa vez mais forte, e ele se deu conta de que alguém batia à frente.

Lançou um olhar de reprovação ao toca-cds, como se quisesse dizer – Merda! Porque canta tão alto? Pensou em disfarçar, e esse ser incômodo que estava batendo daria meia volta. Daí pensou que era culpa sua de ouvir o som tão alto – Vai ficar surdo, moleque! Sua mãe sempre dizia.

Passos lentos até a porta, nos pés, um par de meias sujas. Piscou na frente do olho mágico: uma mulher. Sua mente voou em dois segundos aos enredos dos pornôs B que inundavam sua solidão por muitas noites, nas típicas cenas em que a loira peituda aparece na porta pedindo açúcar e termina em cima da cama, no ato do gozo.

Abriu uma fresta. O máximo que passava por ali era uma respiração e o olhar de curiosidade.
- Não atende mais o telefone não, é?

quarta-feira, setembro 10, 2008

Dos tempos futuros

Mas eu sei que no fim vou pensar - e aí, será que vale a pena fazer o esforço de levantar minha bunda desse assento confortável por alguém que já me esbofeteou?

Daí, numa mistura de medo e comodismo, eu prefiro achar que cansei.
Mas cansei de fato. Me deixa quieto então, no meu canto.
Foi assim e aqui que eu escolhi ficar, até você aparecer.

terça-feira, setembro 09, 2008

Dos tempos de hoje

E o mais difícil de acreditar é que na verdade você não entende a situação, ela não está nas suas mãos, ela não depende de você. Na verdade não é difícil de acreditar (isso não passa de um bloqueio que a sua mente fraca cria pra te enganar). Acreditar você acredita, mas não aceita. Talvez até não compreenda. Depois fica achando que sofrer é necessário, se acostuma a levar as patadas na cara e oferecer os dentes que ainda não quebraram e o olho que ainda não inchou.
Pior que com tudo isso você acha que que atingiu o fundo do poço, que ninguém está pior que você e se sente a pior das criaturas desse mundo injusto. Porra nenhuma! Sempre tem um otário sofrendo mais. Levanta a bunda daí e vai atrás do que tu quer. Entenda que no fundo, só depende de você fazer a sua parte.

quinta-feira, setembro 04, 2008

De outros tempos

Às vezes a gente se perde na tentativa de encontrar o sentido em algo, sem saber que no algo não há sentido, nem via que nos leve ao encontro do esperado; sem saber que na verdade a justificativa que buscamos não passa de tentativa nossa - para nós mesmos - nos enganarmos.

sexta-feira, agosto 15, 2008

O dor

Sentiu o cheiro no âmago do estômago. O cheiro que parecia ter cor, espessura e textura, tamanho o poder com que penetrava suas narinas, tinha sobretudo peso. Vinha como uma sucessão de sons e seus ecos, rechaçando pela sala, refletindo nas paredes imundas de sangue e caos, criando uma sensação metálica e transparente, vitral e triste. Um espectro visceral que corroia suas entranhas e quebrava suas unhas e fazia ranger seus dentes e arrepiar seus pêlos em uma agonia hedionda e incessante.
E veio a chuva de sapos.

sexta-feira, agosto 08, 2008

Prática Civil IV

A dúvida atual era se deveria atender ou não o telefone, que insistia em tocar. Deixaria as etiquetas pra depois.

Caminhou até a parede lado norte de sua sala, perto do telefone em cima da escrivaninha consumida pelo tempo e tirou a tomada da parede. Pronto, agora, no ar, só o blues.

Lembrou da água ebulindo na chaleira e deu uma corrida até a cozinha. Cansou, apesar de morar num quarto-e-sala de vinte e dois metros quadrados. A vida de recluso estava acabando com seu corpo. Café quente saindo, mais um dos seus vícios. Açúcar, outro.

Adorava olhar a fumaça se esvaindo pelo copo plástico. Lembrou de sua mãe, falando que beber café em copo plástico dá câncer, comprovado, passou no Jornal da TV. A velha tinha aquelas manias antigas e estranhas: leite com manga faz mal, feijão com banho também, camisa ao avesso, trovão sem chinelo, tudo isso. Fosse pelas manias dela, e ele já estaria morto.

Se bem que, pensou, já estava.

Há tanto tempo não convivia com ninguém, tinha perdido a prática da civilidade. Sua vida parecia nada mais que um emaranhado de lembranças com cheiro de nostalgia. Convivia com ele só, seus CDs, seus livros, suas manias e suas etiquetas amarelas.

segunda-feira, julho 07, 2008

Três anos de Genebra

Congratulações ao puteiro mais careta da área.
Parabéns, Genebra, pelos três aninhos.

E pra quem se interessar: o texto inaugural, postado pelo Filipe, trinta e seis meses atrás.

quarta-feira, junho 18, 2008

Virey gay

meu TCC está me fodendo.

sexta-feira, junho 06, 2008

Prática Civil III

O telefone começou a tocar. Deve ser engano.

Constatou que se não recebe visitas, não receberá telefonemas. Tentou relacionar estes dois fatos mas não conseguiu. Receber visitas depende do ato de receber ligações, perguntou-se. E se não se respondeu é por não saber mais do que estava falando. Esquece de algumas coisas com facilidade nossa interessante personagem.

O telefone está mudo agora.

O som do blues invade a sala aos poucos. Sente a textura do livro que está nas suas mãos. Cheira-o. Lambe-o.

Às vezes imagina que há um viés na sua vida, um universo paralelo: como se fosse imaginada por dois narradores, ambos com o poder de encaixá-la na estética narrativa que cada um adota. Tem imaginado e planejado muito nos últimos dias. A misantropia pode trazer consigo hábitos saudáveis.

Nota mental: comprar etiquetas, mesmo sem ainda saber o porquê de usá-las.

O telefone voltou a tocar.

quinta-feira, maio 22, 2008

Prática Civil II

Não encontrou as etiquetas. Droga! Tinha novamente esquecido de comprá-las.

Lembrou da facilidade com que esquecia das coisas, como no dia em que reencontrou num supermercado a garota por quem foi apaixonado durante todo o ensino médio, e não lembrou do nome dela. Ou ainda do aniversário de sua mãe, quando esqueceu de lhe mandar um cartão por e-mail.

Pôs o CD novo no som, pensando na necessidade estética de comprar um toca-discos, daqueles bem antigos. Folheou o livro, passando página por página, sentindo a textura do papel amarelado entre os dedos e o cheiro de coisa nova que tanto o inebriava.

O telefone começou a tocar. Deve ser engano.

Abriu uma gaveta. Etiquetas! Mas eram etiquetas rosas, guardadas há tempos. A maioria estava rabiscada com o mesmo nome feminino. Lembranças de uma garota por quem ele foi apaixonado durante todo o ensino médio.

Não gostava de etiquetas rosas, tinha que ser das amarelas. Nota mental: comprar etiquetas amarelas no próximo pedido.

O telefone continuava tocando.

segunda-feira, maio 12, 2008

Prática Civil I

Tentou, esforçou-se com sinceridade, mas não conseguiu lembrar da última visita que recebeu.

Enquanto o som da música preenche o espaço vazio da sala, ele se pergunta exatamente o porquê de identificar seus objetos pessoais com etiqueta amarela, com seu nome e sobrenome e, embaixo, seu endereço eletrônico.

Seria normal o procedimento, recomendável, inclusive, se ele não morasse sozinho. Nunca sai de casa, por isso não lê no ônibus. Não possui cachorro nem gato, nem planta nem pelúcia, nem parente nem amigo.

Só possui seu reflexo no espelho, com quem conversa todas as manhãs.

Batidas na porta. Uma encomenda por debaixo. CD de blues e um livro: pediu pela internet. Sorriu, empolgado. E retirou da gaveta algumas etiquetas amarelas, serviriam pra identificar alguns novos objetos pessoais.

terça-feira, abril 29, 2008

Canceriano sem lar

As persianas impedem que a luz atinja seus olhos. Isso é bom. Domingo dos namorados. Das mães? Não sabe mais. Pode ser finados. Cinzas. Corpus Christi. Um café. Da namorada, nesse dia propício. Não há namorada, porém. Desde... lembra? Montevidéu, com escala em Buenos Aires, a última.

O reflexo acusa. É preciso tirar essa barba. Os pêlos do bigode já começam a fazer cócegas nos lábios. Da última vez não lembra: quando? O barbeador estava cego. Lavou os olhos remelentos. O reflexo observa o rosto moreno, pálido. O cabelo emaranhado. Unhas das mãos. Dos pés. Enormes. Entrou nessa fase – naturalista, dizia a si mesmo – quando? Não lembra. Os pubianos, peito, axilas. Naturalista, repetia com o olhar ao outro, o do espelho.

Até agora não abriu a boca, sabe da reação. A reação de quem sentirá um cheiro desagradável vindo do próprio estômago. Quem dera saísse por outros orifícios, pelo menos são mais distantes do nariz, mas não. Seu corpo não obedece mais. O hálito: abafado. Certamente terá vontade de vomitar, anda sensível esses dias. E o fará. E terá nojo da baba espessa alojada na pia. Mais vômito. Cai. Arrasta-se, fugidio, até a porta do quarto.

Respira, respira. Respira? Ainda.

Doses homeopáticas de esquizofrenia servem pra curar da solidão. Companhias nessas horas são importantes, concluiu. E riu, regozijado perante seu bom humor em situações extremas. E volta a dormir, pois amanhã será um belo e proveitoso dia, como foi hoje, e como tem sido todos estes últimos meses da sua vida.

segunda-feira, abril 14, 2008

Garotos Podres

Devia ser cedo, e a cara devia estar amassada.
A noite anterior tinha sido boa, eu pensei, quando ela apareceu da cozinha, à porta do quarto:

- Já escovou os dentes?

A gente fez quase tudo ontem, refleti, mas ainda não tinha intimidade para manter uma escova de dentes no banheiro dela.

- Não né! Com qual escova escovaria?
- Com a minha, ué!

Vixe, ela já ta chegando nesse ponto. Fudeu.

Desconversei:
- Sabe, eu li esses dias que a boca é dos órgãos mais sujos do corpo, por todas as substâncias na saliva e tudo mais. Beijar, inclusive, troca mais imundícies do que um simples sexo oral.
- Eca! Verdade?
- Uhum, verdade.
- Não vou te beijar mais, então, hahaha - E saiu de volta pra cozinha.
- Boba! E dei uma risadinha. Por sorte ela não ouviu quando emendei: você deveria chupar mais meu pau, então.

sexta-feira, abril 11, 2008

Sobre números e o amor

Dizem que três quartos dos vinte por cento nascidos de mil novecentos e vinte e nove a mil novecentos e trinta e cinco de março a abril com mais de trinta e um dentes e cento e vinte mil fios de cabelo na cor quinhentos e três/cem na escala pantone (não pode haver qualquer fio branco) no topo da cabeça e que gostem de camisas número três (a número dois geralmente lhes aperta os pescoços, que têm mais de vinte centímetros de raio) sem estampas e com sete botões daqueles de quatro furos sabem efetivamente o que é o amor.

terça-feira, abril 08, 2008

O Perfumista

A alma dos seres é seu aroma.

Pelas mais variadas formas, a maioria das pessoas procura atrair para si a atenção dos estranhos em sua volta. E certo dia eu conheci alguém que não fugia a esta regra.

Talvez por supor não ter sido agraciado por uma beleza natural (lê-se, era muito feio), perfumava-se para que reparassem mais nele, para que o vissem e se interessassem.

Neste intento, ele gastou uns poucos anos e muitos litros de perfumes. Pois cresceu rápido e o tempo lhe prestou o grande favor de lhe conceder, digamos, certos atrativos.

Acontece então que ele cresceu, embonitou e não perdeu a mania de perfumes. De fato, isso surtiu bons efeitos e ele passou, então, a gastar seu tempo na idéia fixa de trocar de perfumes para conseguir mulheres e mais.

Mas depois de algum tempo a empreitada deve ter perdido sua essência, pois ele me contou que fazia muito não pegava ninguém e que não entendia onde é que estava o erro.

Pois ele não sabia que não se confundem alhos com bugalhos, olhos e olfato. E como aquele Boaventura que tinha cara de tudo e não tinha cara de nada, o menino, que era já um homem, passou a ter cheiro de tudo e a não ter cheiro de nada.

Renata Marques

quarta-feira, abril 02, 2008

Mente

Aparente
esta é a parte que me cabe.
Ser-te
conveniente
e suportar o indiferente
de-ti.
Obediente
carrego a vida lentamente
em um saco, e somente
retirante, sobrevivente.

E o tempo, que passou tão rápido, passou.
Lembra?

quinta-feira, março 20, 2008

Tevê de propaganda em tela de bronzeador

Aqui.
Sol.
A pino.
Tudo bem pra um lugar com estereótipo de extensão do inferno.
Sol.
De rachar a cuca, de esquentar a moringa e fritar o miolo.
Sol.
Inevitável não pensar naquela estranha teoria dos pólos - ali do meio desenvolvido, rico - resoluta ao afirmar que o subdesenvolvimento perdura por aqui, o trópico, porque o sol deixa as pessoas mais lerdas e preguiçosas.
Sorrio, bobo.
Lerdo e preguiçoso.
E relembro a figura do meu avô.
No dia em que comentei sobre isso na hora da sua sesta, no avarandado da casa, calor nesse imenso empoeirado, ele de olhos cerrados, na cadeira de palha, praguejou, reclames quase comunistas:
- Esses filhos da puta não querem nem que façamos digestão...
Pensou.
Balançou mais um pouco depois de um longo suspiro.
- Daqui uns dias impedem a gente até de trepar.

segunda-feira, março 10, 2008

Dos meus pais

É que, depois de quatro anos morando longe, estou aos poucos voltando a me acostumar com as velhas manias dos velhos.

Meu pai
Domingo desses me chama ele como quem nada quer para ir ao supermercado. Tudo bem, afinal, estava precisando de desodorante e biscoito. É que não sei quanto ao pai de vocês, mas sempre que peço pro meu comprar um simples biscoito, ele nunca consegue.
- Pai, passatempo. Passatempo ou de chocolate. SÓ CHOCOLATE. Sabe bono?
E lá vem ele, com aquelas novidades de avelã com noz moscada, maçã com canela e cebolinha ou o novo da Bauducco, de espinafre.
- Pô pai, é difícil entender? Chocolate! CHO – CO – LA – TE.
- Mas filhão, eu achei que você ia gostar desses...
Tudo bem, então lá vou eu. Tinha esquecido que meu pai, além da dificuldade crônica de se concentrar em qualquer coisa que não seja seu trabalho, se sentiria perdido em um mercado 5 vezes maior que o maior mercado da sua antiga cidade.
Depois de dar 4 voltas por todos os corredores sem colocar nada no carrinho, eu, já bufando, larguei o comentário inocente, daqueles que você não quer que ninguém escute:
- Ô Deus, se meu professor de Marketing vê isso ele ia te dar zero em logística.
Ele ouviu, e retrucou:
- E esse professor de Marketing nunca deve ter te ensinado que não se deve irritar o dono do capital de investimento, certo?

Minha mãe
Nesses quatro anos ela conseguiu aumentar drasticamente sua capacidade olfativa. Além das ligações a cada 30 minutos - outra grande habilidade dela - com apenas uma tragada, num raio de 2 km, ela pode sentir se eu tive qualquer tipo de contato com qualquer substância ilícita, dentre as 325 catalogadas e mais 92 não catalogadas. Toda semana aparece alguém da C.I.A. aqui em casa, tentando contratá-la para trabalhar na identificação de armas biológicas.
Ao chegar em casa da última farra nesse sábado, me deparei com ela na porta do quarto:
- Menino! Por acaso você andou misturando pergamanato de potássio etilenoglicol com nitroparafinas de amônia e mercúrio de novo?

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

"Le Couperet"

Corte.

Acordei suado.
Poderia ser o calor massacrante que fazia por esses dias, mas não era.
Tentei organizar os pensamentos, em vão. De onde tinha saído tudo aquilo?
Antes de me perder nas tentativas de justificar meus devaneios, resolvi escrever tudo que ainda lembrava, enquanto aquelas sensações ainda estavam quentes no meu corpo, enquanto eu ainda estava duro.

Corte.

Eu estava no quarto dela, aquele mesmo branquinho e frio de outro dia. Deitado, embaixo de um cobertor grosso, o que eu estaria fazendo ali? A atenção na TV ligada foi interrompida pela porta abrindo, de onde ela vinha, nua, com um copo de água na mão.
- Toma.
- Han?
- A água que você pediu, bocó!
- Água?
Minha surpresa só não foi maior do que quando me arrumei para pegar o copo de água, e ao pegá-lo percebi que também estava completamente nu, e que ela não estranhou isso.

Corte.

- Vem pra cá - eu chamava.
- Calma, to procurando aquele filme que eu tinha te falado.
- Filme?
Ela estava de costas pra mim, de frente pra TV, procurando alguma coisa nas estantes. Dizia ser um filme. Que filme? Não lembrava de filme algum. Seus movimentos, que eu achava graciosos, davam a perceber que ela estava tentando chamar minha atenção, seduzir meus olhos, apesar de não precisar. Estava mais uma vez reparando em como sua pele era alva e serena. E como ela tinha beleza, e textura. A linha das costas terminando nas nádegas macias e suas pernas frágeis, que estavam mais bonitas a cada vez que eu a via.
- Vem pra cá.
Ela se virou toda, o cabelo solto nos ombros, a barriguinha, os seios pequenos e firmes que cabiam perfeitamente na minha mão e na minha boca.
- Tô indo, tá?

Corte.

- Mais forte...
Ela gemia. Arfava. Cada vez mais intensa.
- Mais forte...
Não era uma interjeição. Era um pedido, quase um rogo, uma súplica. Seus olhos abriam e fechavam, rodavam, enquanto eu beijava sua nuca, sua orelha.
- Mais forte...
Eu a penetrava por trás. Arquejava suas costas, segurava seu ombro com força e a puxava pra mim. Ela era quente, pequena, apertada. Molhada. Não queria soltá-la nunca. Eu pulsava dentro dela, sentia meu sangue enlouquecido pelas veias saltadas enquanto ela me envolvia, me apertava mais, me ganhava a cada movimento, cada vez mais forte.
- Mais forte... mais forte...
A fechei em meus braços, enquanto minha mão percorria sua barriga, seus seios, sua boca. Sua púbis, seu sexo coberto de leve penugem, sua carne, lânguida, tenra. Meus dedos corriam em movimentos rápidos, enquanto eu batia com comedida violência a enchendo com meu membro. Uma mordida do ombro, começo a intercalar um movimento longo com um curto, mas ambos profundos, fortes...
- Mais forte...

Corte.

Estávamos na sala, todos nus. Nós e mais dois amigos. A outra e o outro. O que eles faziam ali? Qual a relação entre eles? Qual a relação deles comigo? O que tinha em comum entre eles e eu? Ela, pensei.

Corte.

A outra estava em cima de mim. No sofá. O outro estava no sofá a frente, com uma feição estranha no rosto, talvez algo relacionado ao fato dele ser homossexual? Assumidamente, pensei, enquanto penetrava a segunda mecanicamente. Não, acho que não.

Corte.

- Dá pra dar uma licencinha pra gente?
Era ela, que queria ficar com o outro, a sós, no quarto.
Não entendi. O que tinha acontecido? O que ela queria com ele, afinal? Que ingênuo, eu.
Meu estômago embrulhou.
Acordei suado.

Corte.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Pequeno texto em 5 partes sobre 6 garotas que me fascinam

A quinta e última é incompreensível para mim, de tão paradoxal que chega a ser. Ela tem tudo e nada de especial ao mesmo tempo. É sem sê-la, deixa de ser quando deveria, e quando menos espero, ela se torna. Tem uma postura desengonçadamente linda, do coque à ponta dos pés. Óculos, bochechas rosadas, bolsa grande de um lado e livros do outro. Calça apertada, corpo firme fechado em blusas com estampas coloridas e engraçadas. É tão aleatória que nem me lembro quando a vi pela primeira nem pela última vez, sempre em conduções diferentes, em horários diferentes, em momentos diferentes, mas sempre com aqueles olhos sorridentes que tanto me fascinam. É daquelas que passa até despercebida aos menos sensíveis, combinando com dias cinzas e frios com o vento gelado vindo da praia. Me deixa calmo, mas com a nuca quente. Gosto de pensar que, de todas, ela é quem melhor me completaria, mas ela é a com quem menos sonho.

domingo, janeiro 27, 2008

E o fim?

Afinal, disse meu pai, um dia tudo há de acabar.


Pois é, e assim acabaram-se meus dias de agitação numa terra onde o que eu menos tive pelos anos que lá morei foi isso. Eu era um rapaz tacato, tranqüilo e pacato. E foi bom crescer aqui em Salvador como eu acho que cresci, e depois voltar, rever aquelas pessoas que consideramos amigos essenciais, sangues, sentir aquele calor, aquela poeira, aquela alegria.

Da viagem ficam as saudades, a nostalgia, quem sabe a utópica idéia de reencontrar mais uma vez todos eles, juntos, lá, como foi dessa vez. Ficam as saudades de quem fez questão de me ver, de me ligar, de me procurar pra dar um abraço, que seja. O agradecimento pra quem já sabe, e a quem sabe que eu nem preciso falar nada, eu agradeço por tudo.

Não é que tenha sido sacrificante pra mim, mas de qualquer forma é complicado sair de um lado ao outro do Brasil quando você não é abastado financeiramente (e eu não sou) ou não tem um clone (e eu não tenho). Segunda-feira o trabalho me espera apinhado no escritório.
Não é que tenha sido sacrificante, e não foi. Foi ótimo, genial, do rocha, e eu só fiz isso, e faria um milhão de vezes se pudesse, pelos meus verdadeiros amigos.

Uma saga Rondonipolitana - meu diário de viagem

Dia 9


Era sábado, que como todo sábado, tende a ser um bom dia. Sábado à noite tudo pode mudar, já disse alguém, não me recordo quem. A idéia era assistir filme de tarde, eu, Renan e Renata. Acabei por dormir até a hora de ir pra casa da Nên, que tinha me prometido um bolo que nunca saiu, enquanto os dois assistiam Dr. Fantástico.
Com tanta coisa e nada e a mesma coisa pra fazer em Porto Velho pela noite, acabamos fazendo tudo, e nada. Passamos em uma infinidade de lugares, sentando e bebendo um pouco em quase todos. Demos o tal esquenta no tal Magal, que serve a tal bebida que se parece bastante com a famosa ‘Senzala’, toada aqui no Pelourinho. Desce quente e tu só sente a cachaça e o cravo no meio da ebulição. Acabamos no Buda’s, um barzinho corredor, lá pelas tantas. Estávamos bem cansados nesse dia, mas como sempre, cerveja e conversa resolvem quase tudo, e como sempre, foi divertido.


Dia 10

Domingo. O último dia de farra pra mim, e meu espírito acabou casando com o sentimento do dia. Acordamos quase onze horas, pra irmos a um churrasco no condomínio de um amigo, meio que umas despedidas, meio que uns encontros, meio que sei lá. Acabou sendo tudo ótimo, mesmo que sem nenhum churrasqueiro profissional no meio. Tinha até um gastrônomo, o César, que deu o toque especial na pasta de alho, no arroz e no vinagrete com seus detalhes de que tem as manhas.
À tarde fomos com a Bruna tomar sorvete, depois pra praça onde onde eu a tinha conhecido exatamente uma semana anterior. Doidos por uma pamonha, demos uma rodada, procurando sem sucesso. Acabamos num crepe, e a noite terminou com mais duas despedidas: Bruna e Renata. No outro dia eu acordaria cedo pra pegar meu ônibus e ir até Ji-Paraná encontrar meu velho, pra terça cairmos na estrada até Salvador.


Os famosos Renan, Renata, Bruna e o cabeçudo da ponta, eu.

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Uma saga Rondonipolitana - meu diário de viagem

Dia 7


Quinta foi o dia mais tranqüilo de todos. Com o joelho machucado e dilatado, preferi ficar em casa a sair vendo gente pela rua. Acabei tendo que desmarcar alguns encontros, e passei boa parte da manhã ganhando tempo aqui no Genebra. De tarde fui pra casa da Renata. Foi bom, fiquei de conversê com ela e com a irmã, Mariana, outra das pessoas que eu só conhecia por internet e que tinha grande vontade de conhecer pessoalmente. Ela é uma pessoa linda, e está grávida, com uma barriga enorme e radiante, o que em minha opinião a deixa mais admirável. Ficamos lendo e gastando tempo até o Renan chegar do trabalho. Terminei, enfim, de ler O Perfume, o tal livro genial emprestado pela chefa.
Ficamos em casa, de noite, comendo amendoim torrado, jogando conversa fora e bebendo cerveja.


Mariana, uma grávida serelepe: testando cores de tintas na parede do quarto novo.


Dia 8

Talvez o que acabou sendo o melhor dia da semana. A saída da noite prometia: Unir (Universidade Federal de Rondônia), campus da BR, longe cuma’porra. Umas bandas locais iriam tocar em mais uma das malucas festas que rolam lá, e entre o público estariam os acampados de todo Brasil participantes do Encontro Nacional de Geografia. Eu, particularmente, queria ouvir uma banda: a extinta T.R.A.P., que tinha se reunido pra fazer uma espécie de último show, e então provavelmente ver meu camarada Neto Cebola e sua guitarra. De tarde eu tinha ido à loja da Nên, vê-la, e depois fui de novo à casa do Paulo, finalmente ver a Bárbara Panda Gorda e dar um abraço apertado na criatura. Acabaríamos nos vendo novamente mais tarde, na Unir.
Acontece que, chegando lá, as coisas foram bem diferentes do que imaginamos. Alguém aí já foi num show de Marcelo D2? Sabe a fumaça que fica no ar, aquele aroma específico de um vegetal específico queimando numa celulose específica? Nada contra, mas eu não tava a fim. Isso misturado à chuva, mato, lama, uma galera doida batucando, cerveja Brahma, e meu joelho podre. Duas das bandas já não iam mais tocar, coisa que só soubemos depois, e que a Bruna não fez questão de avisar (a Bruna é uma mocinha musical e bonita que estava com a gente, outra desse caso de internet / não conheço pessoalmente, amiga do Renan e da Renata). Acabou que não ficamos pra ver a T.R.A.P., o tempo estava péssimo, a estrada de volta era ruim e todos estávamos cansados. Voltamos para a cidade.
Com uma fome do cão, demos umas voltas até pararmos num restaurante que foi a solução dos nossos problemas. Eu sempre acho que uma boa conversa com risadas e cerveja resolve muita coisa. Terminamos deixando a Bruna em casa, e indo domir quase 4:30h. Até que rendeu. Nessa hora, lá do outro lado da cidade, na Unir, a T.R.A.P. ainda estava pela metade do seu show.

Nota: a T.R.A.P. tem o nome de banda que eu considero entre os melhores de todas que eu conheço. É uma sigla para "Toca Rock Aí Porra!"

sábado, janeiro 19, 2008

Uma saga Rondonipolitana - meu diário de viagem

Dia 6

Quarta teria tudo para ser um dia tranqüilo, mas não foi. For tenso, pelo menos na minha cabeça. A noite rolaria o baba da galera das antigas do Objetivo, colégio onde estudei boa parte da minha vida, e onde demonstrei minha modestas habilidades no futebol por um bom tempo. O problema é que (pra quem já não os conhece) meus joelhos são podres. Os dois. Menisco, não deve mais haver. E depois de machucá-los cada vez mais e de formas cada vez mais bizonhas, eu sabia que jogar bola seria um ato suicida.
Passei a manhã em casa, dormindo e lendo, e a tarde na casa da Renata, que se demonstrou bastante preocupada com minhas juntas. Pedia ela que eu jogasse na posição de goleiro, mas ela não sabe que um jogador com tamanha visão de jogo e precisão nos pés nunca vai se acostumar à posição tão acanhada quanto a do goleiro.
O baba começaria 23:00h, e tal não foi minha surpresa e grande felicidade em encontrar quase todos aqueles antigos projetos de jogadores, hoje gordos e/ou cansados, prontos para entrar em campo: Tripa e Tripinha, Xêra, Cabeça, Jow, Edson e Fábio, se juntando a mim e ao Renan.
Fato é que, jogando nada mais que o essencial, aos 20 minutos dominei uma bola sozinho, virei o corpo mas o joelho ficou. Fato é que a preocupação rolou, depois
a zoação, mas tudo se resolveu com um copo de cerveja, gelo e uns antiinflamatórios. Fato é que a Renata estava certa, bem como eu já sabia que ela estava, e fato é também que eu não me a arrependi. Ter jogado de novo com aqueles caras, tê-los visto rindo, falado e relembrado com eles, me deixou feliz.

Os joelhos podres, o direito inchado.

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Uma saga Rondonipolitana - meu diário de viagem

Nota: Esqueci de dizer que meu domingo terminou com Johnny Deep, no sofá, assistindo "From Hell" na casa da Renata. E que também conheci a menina - prodígio - Edna - que - até - piano - toca. Uma fofa.


Dia 4

Segunda começou cedo. Minha velha chegaria de Salvador, e eu iria encontrar minha irmã e depois meu velho para irmos ao aeroporto buscá-la. De manhã houve uma solenidade surpresa em homenagem ao meu velho, que está entrando na reserva (uma espécie de aposentadoria militar).

Meu velho recebendo a placa de homenagem.

Foi legal ouvir daqueles companheiros de trabalho do meu pai coisas que na verdade eu já sabia, e de que tanto me orgulhava. Foi legal ver o velho chorar e chorar junto com ele. Depois de buscar a mama, passamos o dia em família, visitando amigos pela cidade até a noite, quando, já da casa do Renan, fomos a um rodízio de pizza muito bom, mas com problemas de fornecimento de lombo canadense e presunto de peru.

Dia 5

Outro dia que começou cedo. Nesse dia eu ficaria com o carro do Renan para ir até a casa de, além de tudo, uma grande amiga: Amanda. A danada me fez uma surpresa, e chamou todas as meninas da nossa antiga sala de aula, além do meu camarada Pedro para um café da manhã na casa dela. Ver como todas elas ficaram lindas e apaixonantes me fez ter saudades daquela época. Fiquei nostálgico, lembrando com elas dos momentos marcantes dos nossos tempos passados. Mais tarde fui visitar outra amiga, Nên, e daí saímos por uma perambulação pela casa da Glau, do César e que terminou na casa do Paulo.

A epopéia: Glau, Nên, Paulo, César, Ju, Elaine, Luana, Amanda, Carol e Pedro.

De noite tomei um bendito açaí com amendoim, que estava me matando de saudades, arranjei um trabalho temporário, e tudo só não terminou melhor por uns assuntos internos. Briga de casal ninguém mete a colher, afinal. Acabei no saudoso Bar do Seu João, tomando umas geladas e rabiscando uns guardanapos com o Renan. A quarta feira prometia: tinha um baba com a galera da antiga.

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Uma saga Rondonipolitana - meu diário de viagem

Dia 2

Acordei no 4° alarme. Por ser um garoto inteligente e saber que seria difícil fazer meu corpo acordar de dentro daqueles lençóis, tinha colocado 6 alarmes, com diferenças de 5 minutos entre os mesmos, com melodias variando de rock a música clássica.
Desci e me martirizei por ter perdido tanto tempo tentando tomar um banho morno. Como já estava quase na hora da van chegar, só consegui tomar um suco de laranja, dentre o café da manhã mais vasto e belo e quente e atrativo que já vi na vida.
Até chegar em Porto Velho e encontrar meu pai e meu amigo Renan (essa mesma, a outra puta de Genebra) no aeroporto, tudo transcorreu dentro dos conformes. Fomos almoçar, depois fui visitar umas pessoas com meu pai e só voltei a encontrar Renan no fim da tarde, quando meu pai foi me deixar na casa dele. Lá seria meu Quartel de Base. Ficaria lá por todos os dias da viagem.
De noite, saímos para um lugar que não existia na minha época, o tal Coiote. Eu e Luana, Renan e Renata. Enfim, o primeiro brinde de vários, tequilas e um lugar agradável com uma boa banda local tocando. Uma grata surpresa, Porto Velho sempre teve bons músicos e eu nunca percebi.
Foi uma boa noite que terminou cedo: 6h da manhã. No outro dia teria mais.

A primeira conta das férias - será que eu trouxe dinheiro suficiente?


Dia 3

O terceiro dia começou pela metade: 12:00h, com o almoço da casa do Renan. Depois daí, voltamos a dormir, mesmo já sem sono. Domingo pedia algo mais leve, então pela tarde fomos ao mirante ver o pôr-do-sol sob o Rio Madeira e tomar sorvete. Fiquei impressionado com o fato de, em quase 18 anos, nunca ter reparado nessa beleza de raios vermelho-alaranjados atravessando as nuvens modestas daqui.

Uma foto de celular pra dar um gostinho.


Na volta pro carro, uma grata surpresa: conheci a menina Bruna, que estava por lá também. A Bruna é uma moça simpática e bonita que eu só conhecia pela Internet, justamente através dos amigos que estavam comigo naquele momento, o Renan e a Renata. Fomos andar pela Praça das Três Caixas D’Água, conhecido ponto turístico daqui. Comemos cachorro quente, menos a Bruna, que comeu crepe, por ter alergia a cachorro quente.
Foi um domingo bossa nova, que terminou muito bem.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Uma saga Rondonipolitana – meu diário de viagem

Entenda o processo histórico: há dois anos o menino Borba não ia a Porto Velho, lugar onde deixou amigos e viveu quase 80% da sua sossegada vida. Agora terá talvez uma de suas últimas oportunidades. Seus pais estão se mudando definitivamente pra Bahia (saudades do menino Borba, e não do acarajé), e isso vai criar muitas complicações para futuras viagens (antes financiadas justamente pelos pais do menino Borba com segundas intenções – tráfico de camarão e azeite de dendê).
E assim começa:


Dia 1

Não dormi nada, minha noite foi péssima. O vôo estava marcado para 6 da manhã do dia 11. Isso ia ser chato, já que por variadas questões minha viagem seria dividida em dois trechos com uma diferença de quase 16 horas: Salvador/Brasília e Brasília/Porto Velho.
Cheguei em Brasília 8:30h. Teoricamente só sairia de lá 23:55. Teoricamente.
Iria me encontrar com uma antiga amiga, Déborah. Como ela estava em aula, só poderíamos nos ver de tarde. Ocupei então minha manhã entre ler um livro emprestado por minha chefa, ouvir música enquanto dava repetidas voltas pelo aeroporto e dar sonecas disfarçadas em cada banco que sentava.

Minha "mala", óculos e livro - companheiros de tédio.

O tédio foi interrompido por uma menina de Cuiabá numa situação semelhante à minha. Ela me achou despojado, e veio puxando papo. Conversei com ela até a hora de ir ao Shopping Pátio Brasil, econtrar Déborah.
No caminho, o taxista me deu 26 anos de idade. Eu devo estar com uma cara ótima, pensei.
Já Déborah continuava a mesma morena bonita com os seios fartos de sempre. Sorridente, me alegrou (sim, eu reparei no sorriso dela). Com ela estava uma amiga simpática dos tempos antigos de escola, mas que nunca tinha trocado uma palavra comigo até a presente data, Aninha. Voltei pro aeroporto me sentindo mais leve, quase 22h da noite.
Foi então que, como se diz na Bahia, “começou a putaria”.
Uma série de eventos entre atrasos e confusões e panes e não-panes e brigas e xingamentos e mulheres grávidas e velhos e velhas e um menino Borba quieto, olhando tudo de canto de olho e rindo, cansado, levou o vôo a ser cancelado. Finalmente, depois de ser adiado para 00:55, depois 01:22, depois 01:45 e depois 02:34. Quem ainda não passou por essas cenas ao vivo, já deve ter visto na TV. O chamado caos aéreo.
Quase 3 da manhã, fui acomodado no hotel Juscelino Kubitschek. Dele guardei 4 memórias:
1 – Um misto quente custa 10 reais. Assim como uma água mineral.
2 – Se não enfiar aquele cartãozinho naquele trocinho atrás da porta, nada funciona no quarto. Nada.
3 – Não existe como regular um banho morno. Ou a água é quente como areia do Saara, ou fria como bufa de velho.
4 – O millano é um sanduíche muito bom. Se um misto custa 10 reais, imagina quanto um sanduíche com nome de cidade italiana deve custar? 19 reais. Como foi a TAM que pagou, valeu a pena.
Depois de comer, eu não dormi, eu simplesmente apaguei naqueles lençóis quentes e naquela cama macia. Devo até ter sonhado. No dia que tiver 800 reais para pagar numa diária de hotel, eu volto lá.

Fim do dia 1.