terça-feira, setembro 05, 2006

Envelheço na Cidade

Aquelas crianças capetas ganhavam o dia tocando as campainhas voltando da escola.
Eis que o velho barbudo fez tocaia na terceira vez. Saiu de trás do arbusto e correu atrás das pestes. Cruzou a rua, entrou no gramadão da praça. Precipitou-se e entrou na frente dos muleques e mulecas. Para igualar-se ao tamanho deles abaixou-se, olhando para a boca do mais sapeca:
-Cospe teu chiclete em minha mão.
Efeito poderoso das palavras que fizeram o garoto cuspir sem pensar. Nenhum ruído disseram ao velho. Só ele falava.
-Quando forem tocar da próxima vez, juntem os chicletes e grudem na campainha. Vai ser uma travessura de respeito.
As crianças correram. Envelheceram. Depois desejaram ter ouvido mais naquele dia. Mas o barbudo disse pouco, que foi tudo.
O velho virou-se e voltou para sua paz. Sabia de seus nobres conselhos. Tinha bons sapatos e bom coração.

5 comentários:

Alfaia disse...

Ler coisas assim me faz lembrar de todas as infâncias que eu tive e inventei.
E isso é tão bom.

Esse texto tá um achado.

Alexandre Lucio Fernandes disse...

Nossa, bom texto hein.

;)

Anônimo disse...

surpreendente...adorei!

Borba disse...

1° - vai ter um texto denso assim lá na puta que o pariu VOCÊ!

2° - esse tá no hall dos melhores do mundo.

pronto (ponto)

Andréia . disse...

Texto simplesmente :Surpreendente.
parabéns