quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Parte 2 - O sorriso


Um sorriso.
Um sorriso enorme, largo, fresco de café da manhã. Um sorriso lindo, alvo, brilhante.
Não era um sorriso de mulher.
Muito menos propaganda de pasta dental.
Era o sorriso do senhor de meia idade que entrava pela porta da sala.
Nesse momento, quem conversava, parou; quem estava em pé, sentou; quem cantava, calou; quem não olhava, olhou; Quem reparava na menina bonitinha do meu lado, não mais reparou.
Quem dormia, acordou.
E lá vinha ele.
Uma calça de brim antiga, uma pasta já bem gasta, um sapato do barato, o cabelo por cortar, a barba por fazer e um sorriso cativante.
Não era apenas o efeito do contraste. Ele era um negro desses bem negros, quase que totalmente negros, que acabam de chegar da África Central, com um sorriso bem branco, quase que totalmente branco, lavado-a-alvejante-três-vezes-ao-dia-depois-de-cada-refeição.
E lá vinha ele.
Seu andar de valsinha, seu sapato bolero, seu gingado de negro dançando sem música pela sala silenciosa.
E sentou.
Seu olhar marcado. Sua testa brilhante. Sua bic no bolso.
- Bom dia.
Todos em uníssono responderam, como se estivessem hipnotizados pelo sorriso do negro:
- Bom diiiia.
E levantou.
- Eu sou o Professor Antônio.
Assim mesmo, com P maiúsculo, como se já fizesse parte do nome dele.
Tirou um giz usado de um pequeno compartimento da pasta e fez um grande ponto branco no centro do quadro negro. Dava pra ouvir a mosqueta zumbindo e se batendo no vidrinho da porta, tentando entrar na sala pra ver o que acontecia.
- Hoje eu não quero nada de vocês. Nada mais do que a opinião de vocês sobre o que representa esse ponto no meio desse quadro.

Eita fuzuê que se sucedeu!

...continua...


Borba

6 comentários:

Anônimo disse...

Ahhh!
Lembrei do meu filme preferido quando eu tinha uns poucos anos aí, aquele dead poets societ.

Adoro professores-lombras, hihi!!

E falando em negros, tô ouvindo blueeees faz um tempão!! Yeaahhh men!

xD

Enfim, o que seria aquele ponto...

Me falta criatividade Borba, vou esperar pra saber, tá?!

=)

Anônimo disse...

Tirando o "Poderoso Chefão", eu não tinha visto nenhuma trilogia (ou coisa parecida) em que a segunda parte superasse a primeira. Mais uma exceção.

Sabe aqueles textos que você lê e parece que tá vivendo?
Esse foi um.

E isso é bom, claro.

PS.: Antes que o pessoal viaje e filosofe, eu vou dar uma de chato: esse ponto no meio do quadro nada mais é que um ponto no meio do quadro, ok?
(Coloca uma risada medonha aqui nesse parêntese.)

Alexandre Lucio Fernandes disse...

Bem substancial sua reflexão sobre a chegada do professor. Achei bem suave, em sintonia com o a atmosfera que o texto oferece. Acho que isso é bom, também.

>> Renan, voce foi curto e grosso referente ao ponto hein? Porém foi incisivo. Se bem que na real, é só um ponto mesmo...


ALF

- disse...

Pensava que a segunda parte fosse acontecer em uma outra rodada.

Poxa, que maravilha, hein. Não entendo muito de trilogias.

O pontinho branco no quadro negro é, hum. (...) Já sei! Ontem, eu assistí a "A Intérprete": Silvia Broome (Nicole Kidman) e seu irmão eram os únicos "pontinhos brancos" num país africano ficcional chamado Matobo onde os Ku reinavam.

Esquecer um letr nã cheg a se u err, ma si u problem n digitaçã.

Filipux (a puta gaga)

Anônimo disse...

Eu poderia deixar pra outras rodadas, mas achei que ia ficar meio desconexo, vocês poderiam perder o fio da meada, e eu também :)

Borba

Anônimo disse...

Quando eu acabei de ler deu vontade de gritar AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA muito alto, como aquele quadro do grito.Mas....um ponto é(como disse meu irmão) só uma vírgula com gel...

Caio