terça-feira, novembro 29, 2005

Eu ainda tratei a foto da Betty no Photoshop!



Ontem aconteceu uma coisa engraçada (é...sempre comigo).
Se não foi engraçada, no mínimo me fez pensar. Aliás, o que não me faz pensar? Acho que nada nesse mundo. Incrível capacidade desse ser que aqui vos escreve de ser conclusivo acerca de tudo e de todos.
Lá estava eu no ponto de ônibus com a minha tia, num domingo cinza em que o transporte insistia em demorar pra passar. O motorista estava atrasado. Tédio. Nenhum lugar pra encostar meu corpo cansado.
Aí passa uma amiga dela:
- Oi querida!
- Ooooi...!
Segue o subsequente diálogo morto e clichê de sempre, blá blá blá, laiá laiá, pá pá pá (parece sambinha, mas é chato).
A moça estava vendendo desses produtos de catálogo da Natura, que você sabe né, a situação hoje não está fácil pra ninguém.
Ela falava muito alto (não sei se era o costume dela, ou era pra fazer uma propaganda do produto que ela vendia, um tal de Chronos).
Acontece que esse Chronos revitalizava a pele (olha aí o resultado, eu falando a língua dos vendedores de catálogo), e ela perguntou pra minha tia:
- Com quantos anos você está Else?
Ah, mas minha tia nem pestanejou. Respondeu com uma frieza assassina:
- 36!
Meu Deus, como as mulheres mentem entre elas própias. Minha tia poderia trabalhar na Gestapo, interrogando presos políticos.
A amiga da minha tia tira então uma amostra do produto da sacola, que só podia ser usado por senhoras com as idades entre 35 e 40. O produto é muito forte, chega a queimar a pele se você usar o errado.
Não sei, mas eu senti minha tia engasgando.
Depois de mais sambinha (blá blá blá, laiá laiá, pá pá pá) ela vira pra mim e fala:
- Ah, você conhece o meu sobrinho, o Mateus?
A mulher na mesma hora solta o petardo:
- Não, mas a Carlinha ia adorar conhecer, estudióóóóóósa ela!
De primeiro eu tomei um susto. Parecia que a mulher já tinha ensaiado que ia falar isso. Ou eu era muito lindo pra mulher estar me oferecendo a filha dela assim de bandeja, ou a menina estava encostada no canto sem chance de viver. Como a primeira opção não parecia fazer sentido, eu me apeguei à segunda mesmo, eu admito.
Mas aí eu fui entender que aquilo era um eufemismo dos mais sujos, e pior, com a própria filha.
Acho que quando a mulher falou que ela era estudiosa, ela quis dizer:
" - Não, mas a Carlinha ia adorar conhecer. Ela cozinha, passa, lava, paga conta, faz a feira, não assiste novela, é cega/surda/muda, gosta de futebol e ainda é estudióóóóóóósa... Só não é bonitinha, tadinha."
É. (Tô pensando).
Pra tudo isso eu não cheguei a uma conclusão lógica. Talvez a nossa sociedade machista.
Mas interessante foi depois que a mulher saiu. Minha tia falou:
- Peraí Mateus, já volto.
Foi atrás dela, falou alguma coisa. A mulher riu. Trocaram a amostra e minha tia voltou com um sorriso enorme por ninguém no ponto de ônibus descobrir que ela tem 43 anos.


Borba

terça-feira, novembro 22, 2005

Procedimento de Emergência


Vou por labirintos confusos, escuros, obtusos. Recuso ajudas, quero estar sozinho.

Vivo em agonia. Não porque eu quero, é um sentimento terrível que te faz perder a fome e agir como se alguém o estivesse empurrando, somente empurrando. A única coisa que eu queria nesse momento é saber que tudo está bem, e que eu conseguirei.

Analiso o meu estado mental e não consigo absorver o que se passa entre as entrelinhas do meu pensamento. A mente permanece sã, mas se encaminha a destinos divergentes. A vitória dos outros, mesmo que somente deles, passa a ser também minha. Eu sorrio e fico agoniado. As ações são minhas -- a culpa também.


Filipux

domingo, novembro 20, 2005

Acho que ontem eu presenciei a mais nova alteração nos Padrões Sociais de Comportamento Humano (maldita sociologia que me faz escrever assim!).
Lá estava eu, cabrunco e cansado, indo tocar violão na casa de um amigo – pra matar o Sr. Tédio, que insiste em me fazer uma visitar nas tardes de sábado – quando passo por um das dezenas de bares que existem pelo caminho. Até aí, nada de anormal.
O bar estava cheio, como sempre, com pessoas bebendo e conversando, como sempre, espalhadas pela rua, como sempre, com seus carros em volta e som alto ligado, como sempre.
Lá estava um grupo de jovens. Coisa normal. 5 garotos. Mesa cheia.
Se acontecesse em algum outro lugar que não fosse a Bahia, menos estranho. Mas aqui É a Bahia, terra da quebradeira e do pagode chulo.
No som deles não tocava “...quéééébra mâinhaaa, na cabeça do nêgãão...”; nem “...Paula-dentro, Paula-fora, Paula deixe de história...”; ou muito menos “...vái na quebrádêêra da muláta, essa nega ássanhááda...”; (isso tudo foi só pra demonstrar meu vasto conhecimento da música baiana).
Não. Lá tocava Los Hermanos.
Eu não sei se fiquei feliz, afinal eu não sou ninguém pra julgar quem escuta ou deixa de escutar o que escuta ou o que quer escutar; ou triste, por que me soa como banalização; mas a verdade é que os bêbados estavam cantando “...quem sabe o que é ter e perder alguééémm...” (e certinho hein!), e isso por si só já foi engraçado. Me fez rir.
Foi um tiro no peito do Sr. Tédio.


Borba

domingo, novembro 13, 2005

Ontem lá estava eu a divagar pelos meus caminhos tortuosos e sujos, esperando minhas gastas aulas de sociologia.
Virando a esquina me cruzam dois garotos entoando em uníssono: “...e se lembrou de quando era uma criançáááá... ”.
Ah, saudosista como eu sou, de certa forma me emocionei com aqueles dois moleques de uns 10 anos cantando Faroeste Caboclo.
Mas aí pensei em algo um pouco mais complexo. Lembrei-me de um seminário que assisti semanas atrás, sobre Indústria Cultural e Música. Lá foi mostrada a lista dos 20 CDs mais vendidos do ano, e inclusos na lista (não me surpreendi) estavam 3 CDs do Legião.
Apesar de saber que existe, é um fenômeno que eu não compreendo: todos os anos se vendem milhares de CDs deles, e as gerações de apreciadores de Legião Urbana vão se renovando.
Mas se a banda acabou!?
Eles não vão ao programa do Faustão.
Nem tem mais clipes na MTV.
Você não lê mais entrevistas com a banda...
Outro aspecto: Nenhum componente da banda é um músico magistral. Legião se vale pela somplicidade. Eu sei porque conheço as músicas. Tenho os CDs. Aprendi a tocar violão tocando Legião Urbana. Em um trecho do Acústico MTV o Renato fala: “...se vocês querem aprender nossas músicas, basta saber isso aqui...” e toca um RÉ, um DÓ e um MI menor.
Então? Ué?
O contexto histórico talvez?
Nós não vivemos mais os tempos louco da juventude desregrada do Planalto Central. Mas o Brasil continua com seus problemas. Afinal, que país é esse?
Marcianos invadem a Terra, e Dado continua viciado.
Continuamos tentando aprender a amar como se não houvesse amanhã, tentando falar a língua dos anjos.
No fundo somos iguais aos nossos pais. Eles gostavam, nós gostamos e nossos filhos vão gostar.
Pra fazer jus à minha fama de nostálgico, vou pegar o V, primeiro CD deles que eu ouvi, o primeiro CD deles que eu tive acesso, herança paternal, e pôr aqui pra tocar. Vou deixar esse quarto cheirando a utopia, e me lembrar de quando era uma criançááááá, e de tudo que eu vivi até aqui...

Borba

sexta-feira, novembro 04, 2005

O embate das "ezas" (belezas, riquezas)...

foto 1 - Florianópolis

foto 2 - Marília

Toda cidade que se preze -- ou que pelo menos seja uma cidade que tenha os atributos básicos de uma -- apresenta um quê a mais sobre as outras.

No caso das cidades litorâneas (foto 1), fica óbvio que tentam mostrar que suas praias têm beleza, são mais paradisíacas que as caribenhas ou, no caso das do Sudeste e Sul, mais paradisíacas (afrodisíacas) que as do Nordeste. Outro fator bastante explorada pelas cidades praianas é o fato de serem (ou parecem) mais ensolaradas e, assim, oferecerem melhores diversões no verão quando o nível de bebida alcóolica aumenta, as praias se enchem de gente e umas horas depois, de sujeira.

Chegando mais para o interior do país, não há mais tributo a não ser um rio cor-de-madeira, uma lagoa cheia de patos ou, no caso das sem atributo natural por perto (foto 2), busca-se mostrar a riqueza ($) que a região possue. Por isso seus habitantes constroem prédios, pedagiam estradas. Tentando, assim, compensar a falta de beleza natural, mas caem num consenso: "As (cidades) feias que me perdoem, mas (cidade com) beleza (natural) é fundamental".

Filipux

Ah, Filipux está se mudando temporariamente a Lausanne (a 70 km de Genebra). Lá ele pretende estudar o bastante para passar na Estadual. Enquanto isso, au revoir!