quarta-feira, janeiro 31, 2007

Sobre a distância que um olhar não vê

Então eu decidi que seria naquele momento. E eu fui em sua direção e disse oi, nada mais peguei a sua mão e vi o espanto o sorriso o espanto sair dos seus dentes tão brancos a calçada os olhos os olhos que passam e já não vêem mais nada.

A calçada voando, quantos grãos de areia nós passamos até a sua casa não sei. Sei que seus dentes ainda tinham espanto e sua língua estava manchada de saliva grossa de espanto e seus olhos e seus músculos trêmulos e quente-frio de espanto grosso e seu hálito grosso e sua voz grossa e falha de espanto, trêmulo.

Nada mais, corpos, espanto, surpresa a cada toque de espanto e medo e descoberta. Quantas pintas negras tinham aquelas costas eu não sei não pude nem contar os pêlos brancos da sua barba loira nada mais porque o nosso silêncio nos apressava não sei por quê.

As nossas pernas, os nossos olhos e braços entrecruzados. Que era mais fácil cortá-los do que desembrenhar todos esses fios soltos que o tesão desarruma no meio da cama até o amanhecer queimar os nós com a brisa quente do sol.

E o dizer adeus.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Manifesto Bon-vivant

Guri magro — demasiado magro para sua grande estatura —, dedos também magros como os da irmã (que possui o epíteto de dedos de rã), olhos meio-japoneses ou meio-puxados (como seu colega ou ex-colega Remo disse uma vez) nascido no pobre Vale do Rio Acre, em Rio Branco, às beiras do córrego então fétido da Maternidade, onde uma tia sofreria de infecção hospitalar três anos depois. Dos amigos de seu pai, ele descobre que havia o desejo de criar um "intelectual" no estilo Paulo Francis (mas sem aquele falar todo especial) de seus progenitores. Aos seis anos, recebe de seu pai, um globo terrestre — contendo a já então extinta União Soviética — dentro do qual uma luz o ilumina e o faz sonhar com outros lugares. Ao longo dos anos, ele cresce rápido e idolatra seu pai. Na adolescência ele passa a contestá-lo, pois é natural da idade.
"O sonho com outros lugares", ele substitui lendo romances de escritores das mais variadas nacionalidades que o influenciam: lê Wilde para virar narcisista aos 17 anos; Nelson de Carvalho — para encarar a homossexualidade não só como desejo sexual por pinto, mas sim como desejo de ser amado por um semelhante com mesmo membro sexual — aos 18 anos; García Marquez para virar uma Puta (nosso epíteto, não me entenda mal) aos 19 anos; e Sade — para pensar em devassidão e sexo grupal — aos 20. Vai a Marília viver com a irmã aos 18 anos. Lá ele apronta das mais variadas coisas, surgem assim casos oficiais (que logo após serem cometidos são confessados) ou não-oficiais (que até agora pertencem ao anonimato).
Sua vida é atrasada nos últimos três anos graças a sua incompetência em agarriar uma nota suficiente para entrar no concorrido curso na universidade de seus sonhos onde há greves a cada semestre; e socialistas e chavistas (ou os dois juntos, no caso de seu amigo Márcio) todos os dias.
Por dois dos três anos, ele tem de se dedicar a aprender química, matemática, física e biologia e nesse meio tempo é convidado por um dos amigos de infância a participar de um blog. Na época, ele vivia aprontando oficialmente e não-oficialmente, não se preocupando com as matérias acima enumeradas. Fica sem tempo.
No mais longo dos períodos de sumiço, ele recebe seu diploma de francês, faz o seu terceiro vestibular e vai para o litoral com sua família. Lá, em uma praia, seu pai se espanta com sua demasiada magreza e oferece patrocínio para que ele se exercite em uma academia. Ele vai ao Rio de Janeiro e lá, conversando com uma amiga paulistana, lembra de uma citação de Paulo Francis — um dos intelectuais que seu pai esperava que ele se tornasse: "Um intelectual não vai a praia. Intelectual bebe". Ele passa a freqüentar um café desses caros pois tem uma reputação a exercitar (e pensa em destinar o dinheiro da academia para esse fim). E como Paulo Francis compartilhava do Manhattan Connection com outros intelectuais, e morava em Nova Iorque; ele tem o Puteiro, e mora em um Genebra cenográfica, de onde não quer sair.

Tem início a fase bon-vivant.

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Ela era tão linda e...

e...

... e cheirava a pêssego.