sábado, setembro 24, 2005

Surdez do Mundo

Eu preciso ir a um otorrinolaringologista.
Não sei qual é a percentagem de surdez em cada um dos meus ouvidos, mas não é por eu não saber que ela deixa de existir.
O problema é que eu escuto música nas alturas. Eu já passei uma fita adesiva na pecinha de volume do meu discman, assim ele nunca sai do máximo. Ouvir rock bem alto é muito bom. Aliás, só assim é bom.
A Gil, moça simpática do laboratório lá da Universidade, vive reclamando comigo: “Abaixa isso minino! Tááá ficando doido? Vai logo ficar surdin, surdin!!!” Eu dou umas risadas, falo umas bobagens e tudo bem, fica por isso mesmo.
Mas ontem eu descobri uma boa justificativa pro som alto: a fuga da realidade. Eu gasto cerca de 50 minutos, indo e voltando da aula, e o caminho não é dos melhores. Eu moro num bairro de classe média baixa (segundo o meu padrão pré-estabelecido e aceito por todos), o que já é uma coisa ruim. No curto caminho, eu passo por pobreza, ladeiras (normal por aqui), muito lixo jogado pela rua (mais normal ainda), gente indo pro trabalho, um fedor insuportável (para o padrão das minhas narinas de menino rico), garotinhos pelados brincando, favela, uma ponte com um enorme rio de sujeira e esgoto correndo abaixo, gente sentada na porta de casa olhando a vida dos outros, ruas esburacadas (quando chove eu tenho que caçar um lugar seguro pra passar, sem correr o risco de tomar um banho de lama), muito cocô de cachorro, muito mesmo (bosta, pedra mole, minas terrestres, barroso, abará de porco), barulho (sim! Afinal minhas pilhas não são fontes infinitas de energia, e eu fico na mão, tendo que ouvir o pagodão que rola em cada esquina) e muitas outras coisas ruins, além do constante risco de sofrer um assalto.
O meu alívio é quando chego perto da Embasa. Eu (na minha inocência de garoto criado em berço de ouro e a pão de ló) ainda não descobri por que as esquinas da Embasa estão sempre limpas. Ainda não descobri por que só o asfalto na frente da Embasa é liso feito bunda bebê, e só na frente da Embasa não fede. Mas eu fico aliviado quando chego lá.
Ah, esqueci de falar, pra quem não sabe, que a Embasa é um Órgão do Governo do Estado da Bahia (mas isso é irrelevante, né).
Faz sentido ou não eu querer fugir dessa realidade?

Borba

6 comentários:

Anônimo disse...

É, eu li o seu blog, em português... E cá estou eu, deixando um comentário em inglês. E fazendo propaganda do meu site.

¬¬

É, é de incitar o escapismo que há em todos nós. Mas é, é melhor procurar uma fuga alternativa.

Thiago Cauduro

- disse...

Escapismo.

Eu costumo fazer isso. Só que com livros (creio que você, também).
Tem uma loja aqui que parcela as coisas em até 24 vezes. E sem juros. Acho que vou comprar um discman.

Alfaia

- disse...

Ah, bosta! Eu ia falar escapismo, mas todos já falaram.

A minha visão de Salvador é bastante restrita. Conheço (pela televisão) somente as ladeiras do Pelourinho, o Elevador Lacerda, o Farol da Barra e alguma das praia.

Anônimo disse...

Para Os Putos:


PUTAS PELAS PATAS.
(Skylab)

Então você me deu a mão.
Puro gesto tresloucado.
Você me deu a mão e
eu não pude imaginar.

Que a mão pudesse se dar.
Você a deu
como quem diz :
viu, a mão se dá.

Ah, puta, logo compreendi.
És puta para estender
a pata, não a mão.

Que puta não tem mão,
tem pata, como todas :
putas pelas patas.

Anônimo disse...

Gostei desse também, um texto mais tranquilo pra quebrar, né.

Aprecio o ironismo :)

Beijo garotos, ou seriam 'garotas':

Hahahahahaha!

.:Tái:.

Anônimo disse...

fala ae borba!!!!
de fuder o texto, muito bom msm...
é... eu to aki sem ter o q fazer (tanto q li o blog td e to ate comentando...)
enfim, so passei pra dizer q parada do "abará de porco" foi foda!!!
huahuahuahuahuuau!!!!!!!