terça-feira, julho 26, 2005


Quando finalmente consegui pegar no sono sem ser incomodado pelo ronco de motor que meu irmão produzia próximo a mim, fui acordado.

-Mateus!
-...
-Ei Mateus, acorda porra!

Era ele, assustado, me acordando por algum motivo que eu não queria saber qual era. Parece que tinha mudado a maneira de me incomodar. Desisitiu de roncar e queria ficar me enchendo na cara de pau.

-Quêê? Eu perguntei, meio entre sono e raiva.

Quando pequeno todos achavam que ele podia ver espíritos. Às vezes ele acordava gritando no meio da noite, todo mijado, assustando todo mundo.
Meu pai tentou de tudo. De tratamento espiritual a tratamento de choque. Coitado do menino.
Nesse momento eu lembrei disso.
Será que o puto não estava só tentando me chatear, e estava vendo alguma coisa?
Será que era um extraterrestre? Ou pior: um ladrão?!
Eu olhei pra ele. Ele estava entre branco e amarelo e parecia um pouco assustado.

-Fala velho.
-Escuta isso!

Meu Deus! Escutar grilo de madrugada é foda!
Agucei um pouco os ouvidos, o máximo que eu conseguia depois de ser acordado por um médium complexado no meio da noite.
E de repente eu ouvi mesmo. "Socorrooooooooooo...", bem ao longe.

-Que porra é essa?
-Sei lá! Tá ouvindo? Eu tava aqui há um tempão assustado ouvindo e resolvi te acordar.

Era madrugada. Frio. E atrás da minha casa existe uma favela onde volta e meia se vê (se ouve, se vê, se fala e se faz, mas ninguém sabe quem foi) tiroteio, briga de facções por pontos de droga, marido-corno-maluco com arma não mão e de vez em quando alguém morre com uma bala perdida achada no peito.
Então eu não sei de onde tirei coragem para abrir a janela. Só sei que abri e dei uma espiada.
Realmente era um som que parecia vir de longe. Alguém gritando "socorroooooooooooo". Mas o grito era muito constante. Muito estranho.Parei um pouco e tentei buscar a lucidez que restava na minha cabeça entorpecida pelo sono.

-Eric, há quanto tempo você está ouvindo isso?
-Desde que eu acordei, há uns 10 minutos.

Olhei no relógio da mesinha. 5:15 da manhã.

-Irmão, relaxa e vai dormir. A gente não pode fazer nada.

Não era um homem gritando por socorro. Nem uma mulher, nem o Bin Laden nem ninguém.
Não sei se ele conseguiu dormir com o peso na consciência, mas eu fui dormir com a certeza de que eu deveria ser o primeiro ser humano na face da terra a ouvir uma galinha cocoricando "so có rró cóóóóóóóó".

6 comentários:

Anônimo disse...

Até que enfim uma merda que me fez rir aqui nisso..euahoeauehauehauehaueauea..

Anônimo disse...

opa! To passando aqui pra dar uma força, continuem a escrever porque, a escrita é um meio de comunicação. É verdade!
Andrews é o Van Gogh do blog, com exceção do fato dele ser tchôla! (dele = Van Gogh). Só isso. Abração ae moçadaa!

- disse...

Ah, às vezes eu escuto essas coisas, mas nunca investigo para ver o que é. Teu texto me atiçou a curiosidade a tal ponto que eu estava comendo as palavras ao ler.

Filipux

Anônimo disse...

E se fosse alguém fazendo propaganda de uma exposição?
Só rococó!
Só rococó!
Só rococó...

thiago, cauduro.

Anônimo disse...

E se fosse alguém fazendo propaganda de uma exposição?
Só rococó!
Só rococó!
Só rococó...

thiago, cauduro.

Anônimo disse...

porra cara, so podia ser vc msm...
essas historias...
hehehehehhehe!!!!!!!!!
mas me fez rir!!!!

"that's all folks!!!"