Relutante, entrou no chuveiro, água fria descendo pelo corpo.
Camisa, calça, tênis, corpo quente e copo gelado, leite sem açúcar, puro.
Tinha marcado 7h na Estação. Porque tão cedo meu Deus do céu?
Se arrependeu.
Mas ele não saberia chegar lá, Grasb, Cidade Baixa, calordusinferno e andanças mais. O combinado era ligar pro Preto assim que chegasse lá. Chegou, seven sharp. Assim fez, ligou.
Nada.
Preto safado!
Sentou e começou a esperar, enquanto via as pessoas passando agitadas e apressadas, pulsantes a caminho do trabalho. Vendedores de café e cigarro. Vendedores de água fazendo a festa.
Calordusinferno!
Via tudo, e mais que via, percebia. O menino chorão. A mãe chateada. O casal discutia já cedo. O suor correndo da testa do velho. O homem dormindo. Cada parte de cada mundo daqueles por momentos fez parte do seu mundo.
No mp3 player termina room on fire, que ele achava substancialmente melhor que o is this it (que seria mediano, não fosse por trying your luck e new york city cops).
Resolve ligar pro Preto de novo.
- Tô na Paralela! Engarrafamento da porra aqui!
Sabia! O Preto deve ter caído da cama, acordou ainda com a minha primeira ligação e vai demorar.
- Tudo bem. Tô aqui esperando – disse, taciturno.
Ia aproveitar pra estudar Marketing. Tinham uma apresentação complicada no dia posterior. Tirou as folhas da mochila e aumentou o volume do player.
Tinha começado Bonança.
Bonança seria o Ventura, não tivesse vazado na internet. Diziam que era só um ensaio. Diziam que seria o oficial. Verdade é que vazou e os caras mudaram alguma coisa entre letras e pouca coisa entre arranjos. Nada que representasse uma diferença escambrosa.
Estava macambúzio.
“... e eu que já não quero mais...”.
“...quero dançar com outro par, pra variar amor...”. Ficou triste. Lembrou de uma ex-namorada. Ele tocava essa música e ela chorava. Sempre.
“...moça, diz pra mim, como vai você...”.
O senhor do lado olhava estranho. O que será que se passa com esse garoto?
É cada maluco.
“...de onde vem a calma, daquele cara...”.
Tinha chegado ao fim da folha, e percebeu que tinha lido tudo, mas não tinha lido nada.
Los Hermanos sempre o deixou assim, a tal ponto de perder a concentração já fugidia.
Achou um pedaço de música que nunca tinha reparado. Sorriu.
Vinha vindo o Preto do outro lado, agitado como sempre, sorriso aberto mas olhar preocupado.
- Diga meu filho! Demorei?
- É... tem problema não, eu estava aqui estudando pra apresentação de amanhã...