Então eu decidi que seria naquele momento. E eu fui em sua direção e disse oi, nada mais peguei a sua mão e vi o espanto o sorriso o espanto sair dos seus dentes tão brancos a calçada os olhos os olhos que passam e já não vêem mais nada.
A calçada voando, quantos grãos de areia nós passamos até a sua casa não sei. Sei que seus dentes ainda tinham espanto e sua língua estava manchada de saliva grossa de espanto e seus olhos e seus músculos trêmulos e quente-frio de espanto grosso e seu hálito grosso e sua voz grossa e falha de espanto, trêmulo.
Nada mais, corpos, espanto, surpresa a cada toque de espanto e medo e descoberta. Quantas pintas negras tinham aquelas costas eu não sei não pude nem contar os pêlos brancos da sua barba loira nada mais porque o nosso silêncio nos apressava não sei por quê.
As nossas pernas, os nossos olhos e braços entrecruzados. Que era mais fácil cortá-los do que desembrenhar todos esses fios soltos que o tesão desarruma no meio da cama até o amanhecer queimar os nós com a brisa quente do sol.
E o dizer adeus.
quarta-feira, janeiro 31, 2007
Sobre a distância que um olhar não vê
quarta-feira, janeiro 24, 2007
Manifesto Bon-vivant

"O sonho com outros lugares", ele substitui lendo romances de escritores das mais variadas nacionalidades que o influenciam: lê Wilde para virar narcisista aos 17 anos; Nelson de Carvalho — para encarar a homossexualidade não só como desejo sexual por pinto, mas sim como desejo de ser amado por um semelhante com mesmo membro sexual — aos 18 anos; García Marquez para virar uma Puta (nosso epíteto, não me entenda mal) aos 19 anos; e Sade — para pensar em devassidão e sexo grupal — aos 20. Vai a Marília viver com a irmã aos 18 anos. Lá ele apronta das mais variadas coisas, surgem assim casos oficiais (que logo após serem cometidos são confessados) ou não-oficiais (que até agora pertencem ao anonimato).
Sua vida é atrasada nos últimos três anos graças a sua incompetência em agarriar uma nota suficiente para entrar no concorrido curso na universidade de seus sonhos onde há greves a cada semestre; e socialistas e chavistas (ou os dois juntos, no caso de seu amigo Márcio) todos os dias.
Por dois dos três anos, ele tem de se dedicar a aprender química, matemática, física e biologia e nesse meio tempo é convidado por um dos amigos de infância a participar de um blog. Na época, ele vivia aprontando oficialmente e não-oficialmente, não se preocupando com as matérias acima enumeradas. Fica sem tempo.
No mais longo dos períodos de sumiço, ele recebe seu diploma de francês, faz o seu terceiro vestibular e vai para o litoral com sua família. Lá, em uma praia, seu pai se espanta com sua demasiada magreza e oferece patrocínio para que ele se exercite em uma academia. Ele vai ao Rio de Janeiro e lá, conversando com uma amiga paulistana, lembra de uma citação de Paulo Francis — um dos intelectuais que seu pai esperava que ele se tornasse: "Um intelectual não vai a praia. Intelectual bebe". Ele passa a freqüentar um café desses caros pois tem uma reputação a exercitar (e pensa em destinar o dinheiro da academia para esse fim). E como Paulo Francis compartilhava do Manhattan Connection com outros intelectuais, e morava em Nova Iorque; ele tem o Puteiro, e mora em um Genebra cenográfica, de onde não quer sair.
Tem início a fase bon-vivant.
segunda-feira, janeiro 01, 2007
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