domingo, janeiro 27, 2008

E o fim?

Afinal, disse meu pai, um dia tudo há de acabar.


Pois é, e assim acabaram-se meus dias de agitação numa terra onde o que eu menos tive pelos anos que lá morei foi isso. Eu era um rapaz tacato, tranqüilo e pacato. E foi bom crescer aqui em Salvador como eu acho que cresci, e depois voltar, rever aquelas pessoas que consideramos amigos essenciais, sangues, sentir aquele calor, aquela poeira, aquela alegria.

Da viagem ficam as saudades, a nostalgia, quem sabe a utópica idéia de reencontrar mais uma vez todos eles, juntos, lá, como foi dessa vez. Ficam as saudades de quem fez questão de me ver, de me ligar, de me procurar pra dar um abraço, que seja. O agradecimento pra quem já sabe, e a quem sabe que eu nem preciso falar nada, eu agradeço por tudo.

Não é que tenha sido sacrificante pra mim, mas de qualquer forma é complicado sair de um lado ao outro do Brasil quando você não é abastado financeiramente (e eu não sou) ou não tem um clone (e eu não tenho). Segunda-feira o trabalho me espera apinhado no escritório.
Não é que tenha sido sacrificante, e não foi. Foi ótimo, genial, do rocha, e eu só fiz isso, e faria um milhão de vezes se pudesse, pelos meus verdadeiros amigos.

Uma saga Rondonipolitana - meu diário de viagem

Dia 9


Era sábado, que como todo sábado, tende a ser um bom dia. Sábado à noite tudo pode mudar, já disse alguém, não me recordo quem. A idéia era assistir filme de tarde, eu, Renan e Renata. Acabei por dormir até a hora de ir pra casa da Nên, que tinha me prometido um bolo que nunca saiu, enquanto os dois assistiam Dr. Fantástico.
Com tanta coisa e nada e a mesma coisa pra fazer em Porto Velho pela noite, acabamos fazendo tudo, e nada. Passamos em uma infinidade de lugares, sentando e bebendo um pouco em quase todos. Demos o tal esquenta no tal Magal, que serve a tal bebida que se parece bastante com a famosa ‘Senzala’, toada aqui no Pelourinho. Desce quente e tu só sente a cachaça e o cravo no meio da ebulição. Acabamos no Buda’s, um barzinho corredor, lá pelas tantas. Estávamos bem cansados nesse dia, mas como sempre, cerveja e conversa resolvem quase tudo, e como sempre, foi divertido.


Dia 10

Domingo. O último dia de farra pra mim, e meu espírito acabou casando com o sentimento do dia. Acordamos quase onze horas, pra irmos a um churrasco no condomínio de um amigo, meio que umas despedidas, meio que uns encontros, meio que sei lá. Acabou sendo tudo ótimo, mesmo que sem nenhum churrasqueiro profissional no meio. Tinha até um gastrônomo, o César, que deu o toque especial na pasta de alho, no arroz e no vinagrete com seus detalhes de que tem as manhas.
À tarde fomos com a Bruna tomar sorvete, depois pra praça onde onde eu a tinha conhecido exatamente uma semana anterior. Doidos por uma pamonha, demos uma rodada, procurando sem sucesso. Acabamos num crepe, e a noite terminou com mais duas despedidas: Bruna e Renata. No outro dia eu acordaria cedo pra pegar meu ônibus e ir até Ji-Paraná encontrar meu velho, pra terça cairmos na estrada até Salvador.


Os famosos Renan, Renata, Bruna e o cabeçudo da ponta, eu.

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Uma saga Rondonipolitana - meu diário de viagem

Dia 7


Quinta foi o dia mais tranqüilo de todos. Com o joelho machucado e dilatado, preferi ficar em casa a sair vendo gente pela rua. Acabei tendo que desmarcar alguns encontros, e passei boa parte da manhã ganhando tempo aqui no Genebra. De tarde fui pra casa da Renata. Foi bom, fiquei de conversê com ela e com a irmã, Mariana, outra das pessoas que eu só conhecia por internet e que tinha grande vontade de conhecer pessoalmente. Ela é uma pessoa linda, e está grávida, com uma barriga enorme e radiante, o que em minha opinião a deixa mais admirável. Ficamos lendo e gastando tempo até o Renan chegar do trabalho. Terminei, enfim, de ler O Perfume, o tal livro genial emprestado pela chefa.
Ficamos em casa, de noite, comendo amendoim torrado, jogando conversa fora e bebendo cerveja.


Mariana, uma grávida serelepe: testando cores de tintas na parede do quarto novo.


Dia 8

Talvez o que acabou sendo o melhor dia da semana. A saída da noite prometia: Unir (Universidade Federal de Rondônia), campus da BR, longe cuma’porra. Umas bandas locais iriam tocar em mais uma das malucas festas que rolam lá, e entre o público estariam os acampados de todo Brasil participantes do Encontro Nacional de Geografia. Eu, particularmente, queria ouvir uma banda: a extinta T.R.A.P., que tinha se reunido pra fazer uma espécie de último show, e então provavelmente ver meu camarada Neto Cebola e sua guitarra. De tarde eu tinha ido à loja da Nên, vê-la, e depois fui de novo à casa do Paulo, finalmente ver a Bárbara Panda Gorda e dar um abraço apertado na criatura. Acabaríamos nos vendo novamente mais tarde, na Unir.
Acontece que, chegando lá, as coisas foram bem diferentes do que imaginamos. Alguém aí já foi num show de Marcelo D2? Sabe a fumaça que fica no ar, aquele aroma específico de um vegetal específico queimando numa celulose específica? Nada contra, mas eu não tava a fim. Isso misturado à chuva, mato, lama, uma galera doida batucando, cerveja Brahma, e meu joelho podre. Duas das bandas já não iam mais tocar, coisa que só soubemos depois, e que a Bruna não fez questão de avisar (a Bruna é uma mocinha musical e bonita que estava com a gente, outra desse caso de internet / não conheço pessoalmente, amiga do Renan e da Renata). Acabou que não ficamos pra ver a T.R.A.P., o tempo estava péssimo, a estrada de volta era ruim e todos estávamos cansados. Voltamos para a cidade.
Com uma fome do cão, demos umas voltas até pararmos num restaurante que foi a solução dos nossos problemas. Eu sempre acho que uma boa conversa com risadas e cerveja resolve muita coisa. Terminamos deixando a Bruna em casa, e indo domir quase 4:30h. Até que rendeu. Nessa hora, lá do outro lado da cidade, na Unir, a T.R.A.P. ainda estava pela metade do seu show.

Nota: a T.R.A.P. tem o nome de banda que eu considero entre os melhores de todas que eu conheço. É uma sigla para "Toca Rock Aí Porra!"

sábado, janeiro 19, 2008

Uma saga Rondonipolitana - meu diário de viagem

Dia 6

Quarta teria tudo para ser um dia tranqüilo, mas não foi. For tenso, pelo menos na minha cabeça. A noite rolaria o baba da galera das antigas do Objetivo, colégio onde estudei boa parte da minha vida, e onde demonstrei minha modestas habilidades no futebol por um bom tempo. O problema é que (pra quem já não os conhece) meus joelhos são podres. Os dois. Menisco, não deve mais haver. E depois de machucá-los cada vez mais e de formas cada vez mais bizonhas, eu sabia que jogar bola seria um ato suicida.
Passei a manhã em casa, dormindo e lendo, e a tarde na casa da Renata, que se demonstrou bastante preocupada com minhas juntas. Pedia ela que eu jogasse na posição de goleiro, mas ela não sabe que um jogador com tamanha visão de jogo e precisão nos pés nunca vai se acostumar à posição tão acanhada quanto a do goleiro.
O baba começaria 23:00h, e tal não foi minha surpresa e grande felicidade em encontrar quase todos aqueles antigos projetos de jogadores, hoje gordos e/ou cansados, prontos para entrar em campo: Tripa e Tripinha, Xêra, Cabeça, Jow, Edson e Fábio, se juntando a mim e ao Renan.
Fato é que, jogando nada mais que o essencial, aos 20 minutos dominei uma bola sozinho, virei o corpo mas o joelho ficou. Fato é que a preocupação rolou, depois
a zoação, mas tudo se resolveu com um copo de cerveja, gelo e uns antiinflamatórios. Fato é que a Renata estava certa, bem como eu já sabia que ela estava, e fato é também que eu não me a arrependi. Ter jogado de novo com aqueles caras, tê-los visto rindo, falado e relembrado com eles, me deixou feliz.

Os joelhos podres, o direito inchado.

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Uma saga Rondonipolitana - meu diário de viagem

Nota: Esqueci de dizer que meu domingo terminou com Johnny Deep, no sofá, assistindo "From Hell" na casa da Renata. E que também conheci a menina - prodígio - Edna - que - até - piano - toca. Uma fofa.


Dia 4

Segunda começou cedo. Minha velha chegaria de Salvador, e eu iria encontrar minha irmã e depois meu velho para irmos ao aeroporto buscá-la. De manhã houve uma solenidade surpresa em homenagem ao meu velho, que está entrando na reserva (uma espécie de aposentadoria militar).

Meu velho recebendo a placa de homenagem.

Foi legal ouvir daqueles companheiros de trabalho do meu pai coisas que na verdade eu já sabia, e de que tanto me orgulhava. Foi legal ver o velho chorar e chorar junto com ele. Depois de buscar a mama, passamos o dia em família, visitando amigos pela cidade até a noite, quando, já da casa do Renan, fomos a um rodízio de pizza muito bom, mas com problemas de fornecimento de lombo canadense e presunto de peru.

Dia 5

Outro dia que começou cedo. Nesse dia eu ficaria com o carro do Renan para ir até a casa de, além de tudo, uma grande amiga: Amanda. A danada me fez uma surpresa, e chamou todas as meninas da nossa antiga sala de aula, além do meu camarada Pedro para um café da manhã na casa dela. Ver como todas elas ficaram lindas e apaixonantes me fez ter saudades daquela época. Fiquei nostálgico, lembrando com elas dos momentos marcantes dos nossos tempos passados. Mais tarde fui visitar outra amiga, Nên, e daí saímos por uma perambulação pela casa da Glau, do César e que terminou na casa do Paulo.

A epopéia: Glau, Nên, Paulo, César, Ju, Elaine, Luana, Amanda, Carol e Pedro.

De noite tomei um bendito açaí com amendoim, que estava me matando de saudades, arranjei um trabalho temporário, e tudo só não terminou melhor por uns assuntos internos. Briga de casal ninguém mete a colher, afinal. Acabei no saudoso Bar do Seu João, tomando umas geladas e rabiscando uns guardanapos com o Renan. A quarta feira prometia: tinha um baba com a galera da antiga.

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Uma saga Rondonipolitana - meu diário de viagem

Dia 2

Acordei no 4° alarme. Por ser um garoto inteligente e saber que seria difícil fazer meu corpo acordar de dentro daqueles lençóis, tinha colocado 6 alarmes, com diferenças de 5 minutos entre os mesmos, com melodias variando de rock a música clássica.
Desci e me martirizei por ter perdido tanto tempo tentando tomar um banho morno. Como já estava quase na hora da van chegar, só consegui tomar um suco de laranja, dentre o café da manhã mais vasto e belo e quente e atrativo que já vi na vida.
Até chegar em Porto Velho e encontrar meu pai e meu amigo Renan (essa mesma, a outra puta de Genebra) no aeroporto, tudo transcorreu dentro dos conformes. Fomos almoçar, depois fui visitar umas pessoas com meu pai e só voltei a encontrar Renan no fim da tarde, quando meu pai foi me deixar na casa dele. Lá seria meu Quartel de Base. Ficaria lá por todos os dias da viagem.
De noite, saímos para um lugar que não existia na minha época, o tal Coiote. Eu e Luana, Renan e Renata. Enfim, o primeiro brinde de vários, tequilas e um lugar agradável com uma boa banda local tocando. Uma grata surpresa, Porto Velho sempre teve bons músicos e eu nunca percebi.
Foi uma boa noite que terminou cedo: 6h da manhã. No outro dia teria mais.

A primeira conta das férias - será que eu trouxe dinheiro suficiente?


Dia 3

O terceiro dia começou pela metade: 12:00h, com o almoço da casa do Renan. Depois daí, voltamos a dormir, mesmo já sem sono. Domingo pedia algo mais leve, então pela tarde fomos ao mirante ver o pôr-do-sol sob o Rio Madeira e tomar sorvete. Fiquei impressionado com o fato de, em quase 18 anos, nunca ter reparado nessa beleza de raios vermelho-alaranjados atravessando as nuvens modestas daqui.

Uma foto de celular pra dar um gostinho.


Na volta pro carro, uma grata surpresa: conheci a menina Bruna, que estava por lá também. A Bruna é uma moça simpática e bonita que eu só conhecia pela Internet, justamente através dos amigos que estavam comigo naquele momento, o Renan e a Renata. Fomos andar pela Praça das Três Caixas D’Água, conhecido ponto turístico daqui. Comemos cachorro quente, menos a Bruna, que comeu crepe, por ter alergia a cachorro quente.
Foi um domingo bossa nova, que terminou muito bem.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Uma saga Rondonipolitana – meu diário de viagem

Entenda o processo histórico: há dois anos o menino Borba não ia a Porto Velho, lugar onde deixou amigos e viveu quase 80% da sua sossegada vida. Agora terá talvez uma de suas últimas oportunidades. Seus pais estão se mudando definitivamente pra Bahia (saudades do menino Borba, e não do acarajé), e isso vai criar muitas complicações para futuras viagens (antes financiadas justamente pelos pais do menino Borba com segundas intenções – tráfico de camarão e azeite de dendê).
E assim começa:


Dia 1

Não dormi nada, minha noite foi péssima. O vôo estava marcado para 6 da manhã do dia 11. Isso ia ser chato, já que por variadas questões minha viagem seria dividida em dois trechos com uma diferença de quase 16 horas: Salvador/Brasília e Brasília/Porto Velho.
Cheguei em Brasília 8:30h. Teoricamente só sairia de lá 23:55. Teoricamente.
Iria me encontrar com uma antiga amiga, Déborah. Como ela estava em aula, só poderíamos nos ver de tarde. Ocupei então minha manhã entre ler um livro emprestado por minha chefa, ouvir música enquanto dava repetidas voltas pelo aeroporto e dar sonecas disfarçadas em cada banco que sentava.

Minha "mala", óculos e livro - companheiros de tédio.

O tédio foi interrompido por uma menina de Cuiabá numa situação semelhante à minha. Ela me achou despojado, e veio puxando papo. Conversei com ela até a hora de ir ao Shopping Pátio Brasil, econtrar Déborah.
No caminho, o taxista me deu 26 anos de idade. Eu devo estar com uma cara ótima, pensei.
Já Déborah continuava a mesma morena bonita com os seios fartos de sempre. Sorridente, me alegrou (sim, eu reparei no sorriso dela). Com ela estava uma amiga simpática dos tempos antigos de escola, mas que nunca tinha trocado uma palavra comigo até a presente data, Aninha. Voltei pro aeroporto me sentindo mais leve, quase 22h da noite.
Foi então que, como se diz na Bahia, “começou a putaria”.
Uma série de eventos entre atrasos e confusões e panes e não-panes e brigas e xingamentos e mulheres grávidas e velhos e velhas e um menino Borba quieto, olhando tudo de canto de olho e rindo, cansado, levou o vôo a ser cancelado. Finalmente, depois de ser adiado para 00:55, depois 01:22, depois 01:45 e depois 02:34. Quem ainda não passou por essas cenas ao vivo, já deve ter visto na TV. O chamado caos aéreo.
Quase 3 da manhã, fui acomodado no hotel Juscelino Kubitschek. Dele guardei 4 memórias:
1 – Um misto quente custa 10 reais. Assim como uma água mineral.
2 – Se não enfiar aquele cartãozinho naquele trocinho atrás da porta, nada funciona no quarto. Nada.
3 – Não existe como regular um banho morno. Ou a água é quente como areia do Saara, ou fria como bufa de velho.
4 – O millano é um sanduíche muito bom. Se um misto custa 10 reais, imagina quanto um sanduíche com nome de cidade italiana deve custar? 19 reais. Como foi a TAM que pagou, valeu a pena.
Depois de comer, eu não dormi, eu simplesmente apaguei naqueles lençóis quentes e naquela cama macia. Devo até ter sonhado. No dia que tiver 800 reais para pagar numa diária de hotel, eu volto lá.

Fim do dia 1.