quarta-feira, maio 23, 2007

...

reticências imperam em meus escritos.

Será que sou assim..., tão... vago?
Nem isso eu sei.

quarta-feira, maio 16, 2007

Tudo sobre mi madre

Boa noite, filho.

Faz dois dias que não te vejo, já estou com saudade...

Tem car carne, arroz e macarrão na geladeira. Se eu estiver dormindo quando você chegar, saiba que não é por despropósito, mas é que a mãe acorda muito cedo!

Nos vemos no sábado! hahaha!


Te amo.
Um beijo.
[desculpe a troca de cores, mas é que a caneta falhou... hahaha!]
-
Domingo, minha mãe e eu vamos fazer um concurso público. Ela, talvez, pra mudar de vida, eu, quem sabe, pra mudar a vida.

Desejem-nos sorte. Boa noite e boa sorte.

quarta-feira, maio 09, 2007

Macaco

Não tem viv'alma que more e/ou ande pelas quebradas da Boca do Rio que não conheça tal figura. Metade nem sabe mesmo qual é o nome dele. Eu mesmo nunca soube. Pra todo mundo ele é apenas o Macaco.
Minha vó fala o nome verdadeiro dele de vez em quando - conhece ele desde pequeno - mas eu nunca lembro.
Me lembro de uma época que estava na moda falar gírias em inglês, por causa de uma novela global que se passava no Nordeste. Por um tempo chamaram ele de Monkey, mas essa não colou.
As primeiras lembranças que eu tenho dele são de quando eu tinha uns 8 anos. Todo fim de ano passando as férias na casa da avó, sempre via aquele homem negro-brilhante, sempre sem camisa, sempre usando uma calça surrada e imunda, puxando de uma perna, de um lado pro outro.
Ele é o típico faz-tudo.
Tá precisando reformar o portão, chama o Macaco.
Tá precisando consertar o telhado, chama o Macaco.
Tá precisando pintar a parede, chama o Macaco.
Sempre assim, solícito, ajudando e sendo ajudado, cobrando baratinho.
Eu cresci, envelheci, fui, voltei, hoje estou aqui. Mas ele parece ter as mesmas feições e os mesmos músculos fortes de sempre, carregando sacos de cimento de lá pra cá.
Sempre que eu passo ele solta um grito abafado e quase inaudível - Éééérico!
Não sei ao certo porque ele me chama assim, já que Érico não é o meu nome. Não que eu saiba. Talvez pelo fato do meu irmão se chamar Eric? Será que ele acha que somos gêmeos, e por isso nossos nomes são parecidos, e assim ele simplesmente quer me chamar de Érico? Não sei. Fato é que eu nunca o corrigi, e nunca vou. Deixa o Macaco.
Certo dia, voltando do trabalho, rua cheia, garotos jogando bola, senhoras conversando à porta de casa, ele me grita:
- Ô Érico, se você tivesse uma passagem, agora, você ia pro rio?
Eu pensei um pouco. Todo mundo parou pra ouvir. Eu sabia que ali tinha alguma.
- Ia. Porque?
Ele começou a rir, engasgou e quase não conseguiu largar a resposta.
- Leva uma muda de roupa suja minha pra lavar, certo?
Foi até sem graça, mas todo mundo rio tanto. Eu ri tanto.
Tudo bem, 1x0. Deixa o Macaco.
Mas Macaco não gosta só de trabalhar com a testa ao sol não. Nos fins de semana ele gosta de sair, tomar as suas, pegar suas "negas". Não sei quantas vezes ele já me prometeu levar num brega no Alto do Cabrito. Segundo ele, coisa de nível. Alta classe. - Bóra Érico, que tu vai gostar. - Ô! É só me chamar quando você estiver indo...
Ele nunca apareceu aqui na porta pra me chamar. Ainda bem. Sei lá né, deixa o Macaco.
Num desses bregas, colocaram drogas na cerveja do Macaco. Daquelas que os covardes põem na bebida das meninas, elam dormem, e eles fazem a festa. Só que ao invés do Macaco dormir, ele ficou foi doido. Teve uns surtos e saiu quebrando tudo. O dono do lugar, sem entender nada, e com medo daquela montanha de músculos negros e pesados, chamou a polícia.
Negro e pobre, é fácil imaginar o que aconteceu com ele. Minha vó ainda conta que se a irmã não tivesse ido no outro dia buscá-lo, ele teria morrido lá. Além da humilhação, a sequela: até hoje ele anda puxando a perna esquerda. Perdeu um nervo, e dizem que ficou mais maluco quando saiu do hospital.
Descobriram quem tinha colocado a droga na cerveja do Macaco, e uns caras de uma facção daqui botaram ele pra dormir.
Dizem que ele ainda tentou se defender, dizendo que tinha sido só uma "brincadeira".
- Brincadeira?! Brincadeira?! Isso lá é brincadeira que se faça, porra?! - Eles perguntavam enquanto batiam no sujeito.
Não falei? Devia ter deixando o Macaco em paz.