sábado, dezembro 23, 2006

Paciência

Uma profissão linda que sempre a deixou inquieta e extasiada era a dos coladores de vale-transporte em folhas velhas de jornal.

Ficava o tempo todo parada no assento plástico do ônibus, a olhar fixamente e reparar na calma, no carinho e na paciência com que aqueles homens exerciam seu árduo trabalho. E ainda tinham que agüentar o calor, disfarçados de cobradores. Vê se pode! Muito mais bonito era o sereno trabalho de esticar - desdobrar - desamassar - organizar - arrumar - colar - apertar - secar - dobrar e tudo mais que aquilo implicava.

Um caso atípico o dela, que tinha raiva desses cartões de meia-passagem estudantil.

domingo, dezembro 03, 2006

Domingo de noite

Volta do show, que tinha sido muito bom, aliás.
Sentei atrás dela. Pura coincidência. Quando reparei, já estava lá. Lembrei pela camisa rosa. A mesma do ônibus de ida. Quase me assustei.
Quase.
Ela parecia tão meiga.
E então fez aquilo que mais me agrada nas mulheres. O momento mágico, o movimento sublime.
Ela simplesmente amarrou seu cabelo num coque, deixando à mostra a linha de sua nuca, o pescoço desnudo e alguns fiozinhos lisos de cabelo caídos.
O vento entrava pela janela meio fechada pelo vidro sujo de salitre, e trazia a mim o aroma daquela pele.
E que doçura.
Me apaixonei;
e percebi o quão minha (não) vida amorosa é patética.