sábado, maio 27, 2006

Victor e o Governador de S. Paulo - Essa Piada é Minha

você está morto?

     Depois dos habitantes do estado inteiro se verem confinados em suas casas e confiando num senhor que se parece com uma mistura mal-feita de Mr. Burns e a Noiva-cadáver, finalmente a ordem volta a seu lugar.
     No filme de Tim Burton, a Noiva-cadáver leva o jovem Victor Van Dorst a conhecer o mundo dos mortos.
     Pois bem, o melhor lugar para se falar de morte a Victor Van Dorst seria o estado de São Paulo, é impressionante o número de presídios à beira das estradas paulistas. Vindo de Porto Velho para Marília de carro passa-se por dezenas de prisões à beira da estrada inclusive a famosa Casa de Detenção de Presidente Bernardes e as outras na região das cidades presidentes. O mais assustador é a Casa de Detenção I e II de Reginópolis que têm 2274 presos, sendo que a cidade homônima tem 4726 habitantes. A maioria nem vem da região, mas sim da Grande São Paulo. Foi essa a política dos quase 12 anos de Governo Covas/Alckmin: levar as casas de detenção para o interior do estado após o Massacre do Carandiru. E é essa a grande reclamação dos paulistas do interior.

     Com a onda de violência após o início da dobradinha pefelista tanto na cidade quanto no estado de São Paulo, ós únicos possíveis culpados foram os deputados estaduais tucanos na Assembléia Legislativo do Estado. Recentemente, e com direito a bate-boca, houve muita discussão na Câmara Paulista com as galerias recheada de agentes carcerários que vaiavam os deputados tucanos e ovacionavam os petistas que, fazendo a oposição que os consagrou, conseguiram se destacar.

     E com os eleições de outubro próximo os paulistas deverão trocar o fúnebre Cláudio Lembo pelo não tão menos fúnebre tucano José Serra. Daí, sim, a história estará marcada por Covas, Lembo, Serra e um médico-candidato à Presidência no meio.
São Paulo, um estado governado por cadáveres.

Ficha nele: Cláudio Salvador Lembo


     Lembo — até quase ser jogado no limbo — sempre esteve às sombras como vice-alguma-coisa, só uma vez tentou inutilmente uma vaga no Senado Federal.     

     O jurista apareceu a primeira vez quando se cogitava a renuncia de Alckmin para a descompatibilização. Fizeram uma longa reportagem com o novo Governador de São Paulo que se mostrava um advogado discreto, calmo, um tanto conservador e bem rico.

     Em seu escritório recheado de livros jurídicos, ele e sua senhora mostravam que já tinham história e o governo de São Paulo seria o Grand Finale de suas vidas, Lembo tem 72 anos.

     Mas o que mais agrada para quem vê tudo isso são as entrevistas do Sr. Lembo, ele não está acostumado a isso e costuma atropelar os entrevistadores quando os mesmos mudam de assunto. Numa dessas pérolas, o Governador disse: "Nós temos uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa. A bolsa da burguesia vai ter que ser aberta para poder sustentar a miséria social brasileira no sentido de haver mais empregos, mais educação, mais solidariedade, mais diálogo e reciprocidade de situações", mas ele se esqueceu que faz parte do PFL, partido de Antônio Carlos Magalhães, e da burguesia que compra na Daslu os quitutes para suas senhoras.

O senhor pode dizer que o PCC pode acabar até o fim de seu governo?
Lembo - Só se eu fosse um louco. E ainda não estou com sinal de demência. Acho que o crime organizado é perigosíssimo. Ele se recompõe porque ele tem possibilidades enormes na sociedade.

O senhor é um homem público há tantos anos, está num partido, o PFL, que está no poder desde que, dizem, Cabral chegou ao Brasil.
Lembo - Essa piada é minha.

E tudo volta ao normal no Palácio Mal-assombrado dos
Bandeirantes.

terça-feira, maio 23, 2006

João era cético.


     E, como todo cético, buscava a razão em tudo. Não que o mundo tenha razão, ele tem só acasos. Mas, felizmente, João tinha 7 punhados de razões para cada fato que ele analisava com seus óculos bifocais.
     Ele tinha duas linhas verticais no intercílio, sinal de compulsão quase sexual pela investigação. Como não se analisa as coisas sem premissas, João estudava. E estudava muito, observava, assistia — quando a mente acalmava, é claro —, sempre coletando dados que lhe servissem de postulados em seus exames. Aos livros, ele deveu, então, um dos graus de suas lentes. À compulsão por nitidez e clareza, o outro.
     Pode parecer, numa primeira visão, que o homem era curioso. Não. A paixão pelo escrutínio foi motivada, talvez em parte, mas nunca totalmente pela filosofia em si, senão devido à incapacidade que João tinha para suportar qualquer indeterminação. E, seguindo essa lógica comportamental, não é difícil prever, seguiram-se muitas dores de cabeça: a do porque pinga a torneira, porque a lua aparece pequena em fotografias, como funciona uma caixa de marchas, qual é o motivo da gravidade... E a do sentido da vida, entre outras.
     Sim, João descobriu o sentido da vida, ou deu um à ela, mas deixa pra lá. Acontece que um dia teve algo que João não entendeu.
     7 sinaleiras abertas consecutivamente. E ele só foi notar na 5ª. Deixou passar, mas se lembrou de que a 'onda verde', como era chamado o projeto de sincronização dos semáforos, ainda não fora aprovado, muito menos instalado.
     Uma buzina atrás de João. Não pode ser: a oitava sinaleira, ele se enganara, também estava aberta. Ele tinha de averiguar, de repente sentiu-se envolvido por um elã empírico e todas as linhas de compromisso da agenda de João se apagaram, naquela manhã.
     Naquela manhã, João percorreu São Paulo inteira, com uma fila de carros atrás, e o caminho livre à frente. Tentando inultimente dar razão para todo aquele caos. Todos os sinais verdes.
     João nunca mais foi o mesmo.

domingo, maio 14, 2006

Sala de Aula

De fato, a época-primário, ginásio e colegial - é a melhor de nossa vida. Pelo menos a mais trágica e cômica.
E eu, aquele garoto tímido, resolvi ter voz na sala um dia.
Oitava série e a proposta era que os alunos sugerissem, caso quisessem, uma frase para um slogan a favor da preservação da água no mundo. Naquele dia resolvi participar. Pensei e sugeri a minha: “Bebo, logo existo”.
Gargalhada de todos foi a resposta à minha sugestão. A professora também não deve ter gostado.
A situação foi uma caricatura daquele trauma que a pessoa sofre na infância quando diz algo em voz alta e todo mundo ri, então ela se cala para sempre.
Por que essas pessoas riem nessa hora? A frase em si não deve ser tão engraçada assim.
E por que o fato me veio à cabeça?
Esses dias me pego no bar dizendo a mesma frase. Eles riram, mas dessa vez eu gostei.
É, depois que a gente sobrevive às inseguranças e tragédias da infância-pré-adolescência tudo fica mais fácil, e podemos ficar rindo de tudo na mesa do bar.
Espero ansioso o texto da vida adulta.

terça-feira, maio 09, 2006

Do sentimento da derrota

Esses dias eu li aqui pelas esquinas de Genebra um texto do meu camarada Alfaia.
Achei o texto muito adequado, não só pelo fato de ser meramente bom, como também por me identificar totalmente com ele.
No momento, o meu camarada Alfaia falava do sentimento de escrever, ou do sentimento no momento do escrever.
No momento, ele estava com aquele risinho plácido e sossegado de quem está com o serviço cumprido antes do horário previsto.
No momento, ele estava feliz simplesmente e com a simplicidade do que se passava na vida dele.

Chegava a dar medo.

A gente tem medo de estar feliz?
No momento, é como não estou.
Outro disparate, porque minha cabeça está tão abarrotada que não consigo externar organizadamente o que sinto ou o que ajuízo. Nesses momentos de tristeza contínua eu geralmente escrevo coisas interessantes. Não hoje.
Eu poderia jogar um poemete trivial e ordinário aqui pra atalhar espaço. Tirar o belo texto da Renata do topo do blogue. Hei de frisar que entre um poema barato e este textinho banal não há tanta diferença assim. Talvez nenhuma.

É, eu poderia, mas não daria aquele sorrisinho sereno de quem está com o serviço cumprido. Aquele mesmo do Alfaia de outrora (que ele ainda esteja, e assim permaneça).
Mas é assim que me sinto. Cansado, como quem nadou até arfar o peito e na praia morreu. Talvez não tenha tentado o suficiente. Talvez não tenha sido satisfatório, e provavelmente não o fui.
Mas assim me cabe melhor aceitar a derrota.

segunda-feira, maio 08, 2006

Um texto na porta de entrada

"Em Cabaré que se preze, sempre há clientes memoráveis. Há aqueles que causam fuzuê, são obesos, tem mal-hálito e são impertinentes na hora do pagamento. Mas há também aqueles magrinhos e sorumbáticos, de sobretudo escuro e bem gasto, que sentam na última mesa e passam a noite a cantar e entregar o fígado ao álcool. São românticos byronianos e morrerão de tuberculose. Eles sempre rabiscam um texto ou uma canção que a cafetina há de pendurar na entrada da casa."
O Puteiro
Amei em cheio
Meio amei-o
Meio não amei-o.
Leminski


É quando você está ouvindo. Conversando. Aquilo de você escutar, e entender (entender você mesmo).
Quando aquele amigo que é o mais bonito, o mais simpático, (...o mais libertino), te diz que o problema dele é a insegurança. E que, ao mesmo tempo, lamenta muito o fato de nunca ter encontrado alguém que ele amasse mais do que a si mesmo. Quando você ouve, e você entende.
E você conhece aquela pessoa perfeita, e o relacionamento é perfeito, e você não consegue achar outra palavra pra definir o mundo, que não Perfeito. E de repente você descobre que falta algo. Falta algo em você? Falta algo.
Aquela sua amiga, que só é sua amiga, porque você, simplesmente, acha que ela é mais-do-que-o-máximo. E descobre que ela é assim, mas que antes ela já foi assado, e frito e queimado. E já sofreu, e nunca esqueceu. E viu Deus que isso era bom.
E você vai descobrindo o mundo (o mundo-pessoa ou as pessoas-mundo). E tudo não é, nada mais, que descoberta. E as coisas, que antes já não tinham nome, passaram as ficar mais coisificadas ainda.
É quando você descobre que você não é o único ser único. E ao invés de evoluir, começa a utilizar o verbo metamorfosear. Vê que a vida é repetição. E até as aranhas começam a fazer sentido. Não em cima do muro, mas em cima das teias. Foi porque hoje você acordou do sonho em que vivia. Quando um mosquito começou a cantar solos musicais pra você, que na época tanto se incomodou, começa a entender o ritmo da música.
MARQUES, Renata.
PS: Texto gentilmente roubado.

quinta-feira, maio 04, 2006

"Eu tenho medo do PT. Uiuiui!"

"      

        “Eu estou com medo. Faz tempo que eu não tinha esse sentimento, porque eu sinto que o Brasil, nessa eleição, corre o risco de perder toda a estabilidade que já foi conquistada. Eu sei que muita coisa ainda não foi feita, mas tem muita coisa boa que já foi realizada. Não dá para ir tudo para a lata do lixo. Nós temos oito candidatos à Presidência, um eu conheço é o Serra: é o homem dos genéricos, do combate à AIDS; o outro, eu achava que conhecia, mas hoje eu não o conheço mais. Tudo o que ele dizia mudou muito, isso dá medo na gente, outra coisa que dá medo é a volta da inflação desenfreada. Lembra? 80% ao mês! O futuro Presidente vai ter que enfrentar a pressão da política nacional e internacional e vem muita pressão por aí. É por isso que eu vou votar no Serra, porque me dá segurança, porque dele eu sei o que esperar, por isso eu voto 45. Voto Serra. Voto sem medo”

        Quem não se lembra desse rostinho assustado, dizendo palavras como "eu tenho medo..." (na verdade, algo como: "Tenho medo de sapos barbudos sem dedo!"); "inflação desenfreada..." (na verdade: "Petistas vão instituir o socialismo no Brasil, tomar as propriedades privadas doa-las aos sem-terra e expulsar o McDonald's e as outras multinacionais do Brasil!") nas eleições de 2002? Pois bem, recentemente, ao ser perguntada se faria uma dobradinha no mundo político, Regina Duarte disse "Não, muito obrigada". E esse ano nós seremos poupados dos "sentimentos" da eterna Porcina, graças a Deus.
        Regina — ao tentar dar uma de vidente — errou o chute na trave! Na trave! Na trave! Ou tinha razão?
(resposta na próxima rodada libidinosa, mas podem emitir opiniões depois do sexo)
Ficha nele: Evo Morales (Hugo Chavez disfarçado de índio boliviano), alteração da pena de crimes hediondos; e Garotinho e a Greve de Fome têm me tomado o tempo. Na próxima rodada, a Ficha volta.