sexta-feira, abril 28, 2006

Sopro











     Quando a gente se apaixona é como a flexa do cupido. Em um suspiro, o mundo se contrai, resumindo-se ao objeto do nosso amor.
     Eu lembrei como foi, com você, e comigo. Quando, depois de tantos sorrisos, enfim nos abraçamos, e eu entendi que era para sempre; e resumi meu mundo, pois, a você.
     Eu abracei com tanta força... O seu corpo estava rijo. No beijo, eu perdoei todos os seus defeitos; espero que mos tenha perdoado também. Dedepois, logo, nos despedimos, andando abraçados. Ali eu entendia de novo que era para sempre. As promessas, as saudades mortas, os meus devaneios assim diziam e ratificavam.
     Para sempre dura pouco. Ainda bem que mo avisou em tempo.
     Mas o que eu queria falar não é isso. O que eu queria dizer é que fiquei enormemente feliz sabendo como é que se apaixona-se. Assim eu poderia me desapaixonar, só fazendo tudo ao contrário.
     Assim, num sopro de mundo. Aí a minha visão se ia desconvergir de você. Quer dizer, do meu antigo objeto de amor, e eu ia passar de vesgo — e gente apaixonada é engraçado, não? — a um olhar meio... Blasé. Ou, quem sabe, d'algo contemplativo, mas não vesgo. Esquece.
     Ainda, entretanto, vulnerável. De, num abraço de tesão, suspirar o mundo inteiro numa pessoa, e apaixonar-me de novo.

domingo, abril 23, 2006

Mystic River

“Rios te correrão dos olhos, se chorares!”

Olavo Bilac

Havia um povoado de pessoas gentis, felizes, onde a única tristeza era o rio, que secava no mês de abril.
Esposas e maridos se gostavam, não havia adultério.
Um Dr. antropólogo lá foi pesquisar esse povoado tão próspero... e monótono, como ele mesmo concluiu.
Antes de ir embora tomou um café no Bar da Nina, mulher que servia as mesas e daquele lugar sabia de tudo, até mais que o padre. O doutor contou uma piada ao mendigo do bar, que não entendeu o fim. Era uma piada machista sobre TPM. Nina ficou um tanto curiosa sobre a palavra.
-Dr., o que é TPM?
-Nina, minha querida, é o nome que damos àquele período antes da menstruação onde as mulheres ficam nervosas com seus esposos e consigo mesmas. Choram por qualquer motivo. Como vocês chamam aqui?
Silêncio no bar. O mendigo foi embora sem nada entender, pensou até estar bêbado.
Nina só abriu a boca para dizer Tchau quando o forasteiro se despediu.Voltou para casa confusa e a partir daquele dia os homens do povoado (e as mulheres também) nunca mais foram felizes, como antes...
E o rio nunca mais secou.

quarta-feira, abril 19, 2006

Nome sem sal

Ele era um menino mirrado. Mirrado da cabeça grande. O cabelo ralo, os olhos escusos, a boca pequena. Assim ele era, magro que só ele.
Não brincava na rua, não corria na varanda, não subia em mangueira, não pulava muro, não brincava no escuro.
Mas mais triste que isso era não saber o significado do seu nome, assim ele o achava. Pipoca? Que nome é esse? O que é pipoca?
O Nozinho era filho do Seu Nô.
O Sulapa era grande e gordo. Não havia moleque na rua que não houvesse levado uma sulapada do Sulapa.
O Tíltíl era elétrico. Não parava quieto.
O Perna-Um tinha os cambitos quase tão finos quanto os cambitos do Pipoca. O Perna-Dois até que tinha a perna grossa, mas ele era irmão mais novo do Perna-Um, então ele aceitava. “Maldita hierarquia - pensava ele – um dia acabo com isso!”.

E só o Pipoca não entendia o seu Pipoca.

Já tinha até tentado:
- Mãe...
- Não me torra a paciência, moleque!
Sua avó não falava nada.
É, ela era muda mesmo.
Ficava sempre lá, com aqueles olhos esbugalhados, na sua cadeira de balanço tão suave quanto uma bela bossa.
Pai, ele não tinha.
E assim viveu. Cresceu, viveu e morreu, sem ao menos entender. Com os olhos cinzas e sombrios, com a boca seca e o resquício impávido de quem nunca comeu um saquinho de pipocas quentes, com gosto de manteiga.

sábado, abril 15, 2006

Pedofilia! Alckmin encosta no Garotinho!

        Socorro! Socorro! Garotinho encosta no Alckmin, daqui a pouco será pedofilia na certa! E não esqueçamos que Alckmin é médico, estava metido numa dessas organizações secretas da Igreja Católica, a opus dei. Sim, Alckmin tentou ser padre! Isso nos EUA daria processo de pedofilia na certa! Queria ver a cara do papa Bento XVI nazista (sim, eu já escutei isso nas ruas) ao ouvir falar que o Chuchu anda pegando o Garotinho. Garotinhos gostam de chuchu? Isso geraria um conto erótico...

        Resalvas honrosas a Daniele Lira que disse: "Gosto de seu sarcasmo, sua visão politicamente pevertida do mundo e esse seu intelectualismo de cabaré". E veja que ela nem sabia que escrevo num blog chamado Genebra e as Cinco Prostitutas. Pois é, Dani. Depois de Geane Mary Corner (a cafetina-mor do Distrito Federal), Danuza Leão (a ex-moça de boca artificialmente grande que odeia Garotinhos grandes e garotinhos pequenos), Bruna Surfistinha (grande puta-escritora-empresária-cínica!) e Franciane Favoreto (essa das redondezas de Marília, que tirou a roupa, transou com dois caras, fez pose e — o pior de tudo — foi fotografada fazendo tudo isso e divulgada amplamente na Internet), o termo puta anda bem-cotado em todas as rodas de conversa.
        Ah, e quem teria a visão politicamente pevertida, Sra. Dani, seria o Sr. Buratti que usufruia dos serviços de Dona Corner, fez uma puta sacanagem ao envolver o ex-ministro Palocci — que segurava o mercado com sua política fiscal execrada por todos, ele era feliz assim — ao denunciá-lo. Talvez Palocci tente uma vaga na Câmara esse ano. Não somos mulheres, mas aqui em Genebra homens podem se travestir (travesti!) de putas que ninguém notará. Blé!

Ficha nele: Anthony William Garotinho Matheus de Oliveira (PMDB-RJ)

        Quando tu vês um nome imenso desse, tu te perguntas: "O que é nome e o que é sobrenome nisso tudo?" Pois bem, Anthony William Garotinho Matheus de Oliveira é filho de Samira MATHEUS e de Hélio Montezano de OLIVEIRA, ou seja Anthony William Garotinho é o nome triplamente composto da persona que consta na foto acima. E de onde vem o Garotinho? Pois bem, Garotinho nasceu com 5,5kg e ganhou o apelido de Bolinha que depois, na rádio onde trabalhou, foi substituído por Garotinho.

        O Garotinho (todo política gosta de ser chamado com o artigo na frente de seu nome, desculpem) adora demonstrar que é um bom pai de família. Ele tem nove filhos (cinco deles adotados) e, quando tem tempo entre um encontro político e outro, brinca com os mais garotos. Na foto acima, por exemplo está brincando com Anthony de "carrinho na rodovia", como a maioria dos filhos prefere o McDonald's, Garotinho topa em fazer a vontade deles e todos vão comer BigMacs. Outro sucesso garantido que Garotinho faz com os filhos são as histórias de ninar que ele conta ("Coelho Rófi Rófi" e "A Bruxinha que virou Chiclete") que foram criadas originalmente pelo paizão Garotinho.

        No lado político Garotinho é um belo exemplo populista. Seu mandato como governador foi controverso, pois se aproveitou do crescimento da Petrobrás (uma das maiores empresas do Brasil que tem como base comercial a cidade do Rio de Janeiro e a base de operações na cidade de Campos, onde Garotinho foi prefeito) como se fosse realizações dele. É claro que houve algumas facilidades, mas foram os investimentos do Governo Federal que deram grande notoriedade à empresa petrolífera, principalmente com a descoberta de novas reservas em Campos.

        O que o Governo Estadual de Garotinho poderia fazer não fez, como diminuir a criminalidade nas favelas cariocas, nem projeto urbanístico para descentralizar as favelas houve! Toda vez que havia algum grande confronto entre policiais e traficantes, Garotinho chegava a todos e dizia que a culpa era do Governo Federal. Pois bem, hipocrisia na certa, Garotinho tinha um Secretário de Segurança Pública que nada fazia. Outro fato que Garotinho não gostaria de lembrar é a despoluição da Baía de Guanabara que a cada dia fica mais poluída, e as lutas políticas em sua cidade-natal onde duas alas disputam o poder municipal. E o Garotinho está de um lado, só jogando pedras.

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FICHA

Anthony William Garotinho Matheus de Oliveira PMDB-RJ
Cargo: nenhum (trabalha na sua possível candidatura à Presidência da República)
Padrinho Político: Leonel Brizola
Histórico Político: Deputado Estadual (1986 - 1988), Prefeito de Campos-RJ (1989 - 1992), eleito novamente (1996 - 1998), Governador do Rio de Janeiro (1999 - 2000 pelo PDT, 2000 - 2002 pelo PSB).
Realizações: Ajudou a fundar o PT em Campos (PT? Sim, PT) (1980), Eleito melhor prefeito do Brasil (1990).
Rejeição (porcentagem de pessoas que não votariam nele de maneira alguma para a Presidência da República): 50% (a mais alta)

PS: postagem de número 80.

domingo, abril 09, 2006

Ser ou não ser...














     Uma escolha simples: vida ou morte. A vida — cinética, caos, moção — é inexorável. Ou se a vive, ou se a conserva. Como um grito que se escolhe entre diluí-lo no silêncio universal ou retê-lo, intacto, na garganta.
     Há os colecionadores de vida. Como, ao passo que não se pode possuir animais empalhados, senão os matando, eles colecionam, melhor dizendo, a morte. Em outras palavras, são conservadores.
     Conservar: manter sem alteração. Para que se tiram fotografias, se escrevem diários, se fazem juras de amor, ou promessas, simplesmente? Ora, se isso não é matar!
     O destino é irônico. Sabiam os mumificadores que haveria deveras mais vida na putrefação do cadáver que na múmia perfeita? Não importa, sabe-se apenas que o conceito da palavra por vezes é errôneo. O clichê "vida estável" é, por definição, uma falácia.
     Quem vive é porque não entende a vida. Quem vive segue apenas por instinto. O racional, por outro lado, percebe o tremendo golpe que lhe estão tramando — porque viver é, resumidamente, crescer e definhar —, e decide parar.
     Nessa estagnação (morte) é que se baseiam muitas vidas. Eu mesmo tenho diários, guardo fotos, luto pela estabilidade, registro tudo para não esquecer e cuido bem do que já tenho. Em suma, um suicida. Cada vez que eu encontro uma frase, um verso ou idéia que me aprazem, eu registro. Registro mesmo pensando que seria mais poético se os versos fossem sempre novos, e não os mesmos, sempre repetidos. Eu ouço algumas músicas 30 vezes por semana.
     O engraçado é que eu ainda estou vivo. Lá pela vigésima repetição, eu percebo novos acordes em "How Insensitive", do Jobim; os meus diários são esquecidos; as minhas fotos da infância amarelam de desdém do meu plano suicida... Enfim, tudo vai para o mesmo lugar para onde foram as constantes de Planck ou as fórmulas de polinômios. E surgem coisas novas. Não dá pra morrer.
     A última ironia da qual vou falar aqui, então, é que, por criarmos tantos estratagemas visando à morte, acabamos vivendo mais ainda. Mas deixa pra lá, que eu já tô confuso.

terça-feira, abril 04, 2006

O Deputado Buda

“Não sou um ateu total, todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro.”
José Saramago - Escritor português, 1922-?


Ricardo era um cara esperto. Surfista, maconherinho culto, logo leu um livro sobre budismo e filosofia para se tornar o maior comedor da praia. Garotas gostam de homens com conteúdo.
Aos 25 conhece uma psicóloga bonita e se casa. Acaba Direito e ingressa de vez na vida política.
Continuou esperto e aos 38 já era deputado federal, pai de uma linda polaquinha.
Como político era popular, moralista e católico. Votava contra os projetos a favor da legalização do uso de células-tronco para estudos aqui em nosso país. Seus eleitores diziam ser imoral “tirar a vida” de um embrião que possui 6, talvez 10 células. Ele concordava.
Como pai era sorridente, quase atencioso. Chegava atrasado nas apresentações de balé da filha. Numa dessas, foi tarde. A menina estava desmaiada a caminho do hospital.
Leucemia, disseram os médicos de São Paulo e Goiânia.
1 ano, condenaram os de Boston.
Ricardo só chorava e ia a outros médicos. Obcecado, acabara por ler sobre uma clínica pioneira lá da Inglaterra. O país já tratara alguns leucêmicos com uma terapia que mostrou cura em pacientes desiludidos. Células-tronco devolveram a vida para europeus doentes do sangue.
A mãe quis levar a menina para os doutores ingleses. O pai chega em casa e conversa com a psicóloga:
-Não sou um homem imoral. Vamos ficar por aqui e usar a medicina que não "tira vidas" para tratar os pacientes.
Os garotos ainda não haviam entrado na vida da polaquinha. Ela não havia entrado no colegial para escolher uma profissão e conversar sobre sexo no quarto das amigas. Estava só começando.
A Leucemia foi pontual. 1 ano.

sábado, abril 01, 2006

O Português e o amor

Eu não gosto de contenções nem convenções pra falar do amar. Esse ato deve ser simples e único, dito e expressado como ele e somente ele é, o amor.
Não deve ser banalizado não, que isso não é coisa que se faça com um sentimento tão belo quanto só ele é também.
Não deve ser dito a esmo, ao léu,
da boca-pra-fora,
de peito-pra-dentro,
de rosto-pra-baixo
ou de olhar-ao-vento.
Deve ser dito de boca cheia, com peito cheio, a mente cheia, o coração cheio e esperança vazia.
É.
Afinal, o “eu te amo” nem sempre é correspondido.
Aí é que a coisa complica.

“Hum... sabe o que é? Eu... erh... há muito tempo eu venho pensando nisso...”
“Sim, deixe de floreios e me fale logo, vamos menino!”
“É que, sabe... nós temos estado muito próximos ultimamente. Eu gosto de você de verdade...”
“Ah, eu sei disso bobinho. Eu também gosto muito de você.”
“Mas eu mais-que-gosto,... eu te amo.”
(silêncio)
“Ahn... o que você disse? Dá pra repetir essa última parte que eu não ouvi direito?”

Às vezes acho que essa situação é tão ruim pra quem ama (ou acha que ama) como para quem não ama (ou acha que não ama). Talvez não seja tão ruim, mas é tão angustiante quanto.
Existem várias formas de falar do amar. A música é uma boa opção. O poema também. Você pode disfarçar parafraseando, figuras de linguagem, falar inclusive não-falando ou deixando de falar, ou simplesmente falar (que é o mais direto e mais rápido, mas não necessariamente mais seguro ou mais fácil).
Porém não existe fórmula matemática pra isso. O amar é tão subjetivo quanto a mais subjetiva das matérias (aí eu te deixo escolher qual matéria você acha mais subjetiva, afinal essa é uma escolha pessoal – e subjetiva).
Na minha tola opinião, acho que é Português.
Cada verbo com cada tempo com cada conjugação com cada coisa que confunde minha cabecinha. Quase tanto quanto estar amando.
Eu por exemplo, penso que sei, mais sei que não sei, apesar dos outros acharem que eu sei. Até me dói admitir isso, mas eu nunca aprendi a conjugar o verbo amar.